Cidades
Conar instaura representação ética contra anúncio da Braskem no BBB 23
Encaminhamento do conselho atende a carta aberta em repúdio à publicidade da empresa no programa da Rede Globo

O Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar) instaurou representação ética tendo como objeto os anúncios “A Braskem entrou no BBB para incentivar um futuro cada vez mais sustentável”, divulgados por redes sociais e merchandising do programa. A representação ética n. 0025/23 foi instaurada em atenção a carta aberta “A Braskem vai afundar o BBB 23 como fez com Maceió?”.
O Conar é uma organização não-governamental que visa promover a liberdade de expressão publicitária e defender as prerrogativas constitucionais da propaganda comercial, fiscalizando a ética da propaganda comercial veiculada no Brasil. Sua missão inclui principalmente o atendimento a denúncias de consumidores, autoridades, associados ou formuladas pelos integrantes da própria diretoria.
Segundo a organização, as denúncias são julgadas pelo Conselho de Ética, com total e plena garantia de direito de defesa aos responsáveis pelo anúncio. Quando comprovada a procedência de uma denúncia, é responsabilidade do Conar recomendar alteração ou suspender a veiculação do anúncio.
A Carta Aberta, que pede o banimento da Braskem do programa BBB 23, foi enviada à Rede Globo, ao Conar, aos anunciantes do Big Brother 23, à ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, ao Ministério Público Federal (MPF) e à nação. A petição foi criada na plataforma Change.org e, até o momento, conta com 32,7 mil assinaturas.
Um trecho do abaixo-assinado afirma que a participação da Braskem no programa “é, na verdade, um enorme tapa na cara de mais de 3,5 milhões de alagoanos que, indignados, sofrem de perto os efeitos do mega desastre que a empresa cometeu em Maceió, destruindo literalmente mais de 3 milhões de metros quadrados da cidade e afetando vários setores, como a educação”.
A petição diz ainda que “o patrocínio do Big Brother se trata de mais um deboche da empresa para com um milhão de maceioenses que há décadas são obrigados a conviver com uma indústria inimiga do seu meio ambiente e da cidade. Uma cidade que não apenas foi destruída pela Braskem, mas que também enfrenta outra ameaça latente ainda maior dentro de Maceió, que assombra cotidianamente 20% da nossa população e que pode, no limite, levar a óbito centenas de milhares de maceioenses: a presença de uma indústria química de grande porte em pleno centro da capital”.
“Mineradora usa dinheiro para calar mídia contra qualquer denúncia”
Para Neirevane Nunes, integrante do Movimento Único Vítimas da Braskem (MUVB), a posição do Conar em reconhecer a carta com a manifestação ética é muito importante, pois fortalece a luta que busca denunciar os abusos da Braskem.
“O sentimento ao ver esse patrocínio da Braskem no BBB 23, como também o patrocínio do Lollapalooza é de indignação. É importante que Brasil e o mundo saibam o que essa mineradora que vende uma falsa imagem de empresa sustentável faz realmente. Fomos obrigados a deixar nossos lares, trabalho e toda uma vida por causa da mineração irresponsável de sal-gema. Enquanto a Braskem está financiando programas e eventos, diversas vítimas estão há 3 anos sem receber indenização”, disse.
De acordo com Nunes, as propostas oferecidas pela Braskem pelos imóveis são vergonhosas, pois na maioria das vezes não chega nem a metade do valor real do imóvel. A integrante do MUVB afirma que a Braskem também foi responsável pela perda de patrimônio cultural e histórico, além da perda de um cemitério público, deixando as famílias que têm jazigo no Cemitério Santo Antônio sem ter onde enterrar seus mortos com dignidade.
“A Braskem também comete crime de maus tratos aos animais que se encontram abandonados nestes bairros destruídos, pois até hoje não foi capaz de garantir o bem-estar animal deles. A Braskem está impactando diretamente o 5° maior complexo estuarino lagunar do Brasil, que é o CELMM, levando a perda de cerca de 17 hectares de manguezal que estão submersos. As minas com maior risco de colapso estão nas margens da Laguna Mundaú e no seu leito. A empresa tem violado constantemente os direitos individuais e coletivos de suas vítimas, por isso exigimos que haja a reparação integral dos danos causados pela Braskem em Maceió”, contou.
Para o presidente da Associação de Empreendedores do Pinheiro, Alexandre Sampaio, o Conar deveria banir qualquer propaganda ou patrocínio da Braskem em todo o Brasil.
“A mineradora usa dinheiro para calar a mídia contra qualquer denúncia que revele os crimes em série praticados nos cinco bairros afetados de Maceió. Enquanto posa de rainha do ‘compliance’ da bolsa de valores e do selo de sustentabilidade, atua no mesmo modus operandi dos garimpeiros na reserva Yanomami: destrói 60 mil vidas, fere a nossa dignidade, provoca mortes por suicídio e doenças da alma, corrói a dignidade e trata nossas vidas como lixo reciclável, que pode ser descartado, triturado e transformado sem que a gente tenha nenhum controle”, afirmou.
Segundo Sampaio, o patrocínio da Braskem falando em sustentabilidade é um acinte à dignidade. “É um tapa um tapa na cara da cidadania dos maceioenses e uma mentira que sai das profundezas das suas cavernas de sal para lavar sua imagem junto aos acionistas e ao público brasileiro”, disse.
Por meio de nota, a Braskem confirmou o recebimento de ofício do Conar e disse que está compartilhando as informações técnicas com o órgão. “A Braskem vem ao longo dos anos desenvolvendo iniciativas de consumo consciente e descarte correto de resíduos, através de uma série de atividades educacionais. O BBB é hoje um dos programas de maior audiência no país, sendo, portanto, importante sensibilizar sua audiência para o descarte correto do plástico”, afirmou.
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