Cidades
Pesquisador atribui mortandade de peixes a contaminação tóxica
Emerson Soares monitorou lagoa semana passada e identificou mancha: “veio possivelmente do Rio Mundaú”

De acordo com o pesquisador e professor da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) Emerson Soares, os eventos de mortandade de peixes na Lagoa Mundaú estão sempre relacionados com a questão do assoreamento, grande quantidade de matéria orgânica e grande fonte de poluentes. “Ali tem três grandes fontes de poluição oriundas da cidade de Maceió e uma quarta fonte, que é o Rio Mundaú, que traz muitos materiais, compostos, pesticidas, entre outros nutrientes que vêm a se somar nessa grande bolsa que é a Lagoa Mundaú”, explicou.
Soares contou que esteve na sexta-feira passada na região e se deparou com a mortandade. “Estivemos na sexta-feira passada, fomos com o intuito de realizar mapeamento da área de monitoramento de pontos que vamos fazer e, por acaso, nos deparamos com a mortandade. Começou antes da sexta-feira, provavelmente, quarta e quinta-feira da semana passada, completando hoje uma semana”, disse.
Para o pesquisador da Ufal, os indícios não caracterizam déficit de oxigênio. “A forma e o comportamento dos peixes na água indicam contaminação por algum produto tóxico, a forma também da mancha, uma espuma branca que se estendia desde o Vergel até próximo a Coqueiro Seco, indicava que era oriundo dessa região, porque os peixes vieram descendo. A maioria dos peixes que morreram foram aqueles que têm pouca capacidade natatória. Essa mancha foi descendo e, onde foi batendo, foi causando problemas de intoxicação, os animais subiam para a superfície para respirar, mas não era só questão de oxigênio, era questão de intoxicação pelo modelo do ambiente, da forma como os peixes se comportam, buscando sair da região contaminada”, afirmou.
Soares ressaltou que se soma a outros problemas como acúmulo de esgoto e matéria orgânica.
“Seguimos essa mancha, nos pontos que monitoramos na lagoa, veio, realmente, possivelmente, do Rio Mundaú. É um produto tóxico pelo comportamento dos animais e vimos também no comportamento das próprias garças, que se alimentam dos peixes que estão ali, elas não consumiam esses peixes, justamente, porque eles estavam contaminados e elas também sabem que não podem se alimentar”, contou.
Na última terça-feira (7), o Instituto do Meio Ambiente do Estado de Alagoas (IMA/AL) esteve na região para coletar amostras e realizar medições através de sondas. Segundo os técnicos do órgão, a verificação nos locais indicou, entre outros parâmetros, a baixa de oxigênio e alta temperatura na água.
De acordo com o IMA/AL, acredita-se que a situação pode ter sido provocada pelas chuvas que incidiram no estado. A água e os sedimentos revolvidos podem ter provocado proliferação de microalgas que, por sua vez, consomem o oxigênio. As análises ainda estão em andamento, sem previsão dos resultados.
Pescadores: problema na Lagoa Mundaú acontece com frequência
Pescadores do bairro do Vergel do Lago, em Maceió, disseram que, frequentemente, aparecem peixes mortos na Lagoa Mundaú. “Sempre aparece peixe morto. Na quaresma mesmo aparece muito peixe morto. Quando estamos pescando, às vezes escapa e acaba morrendo”, afirmou o pescador Beto dos Santos.
Para Santos, as mortes não resultam de produtos tóxicos. “Se tivesse veneno, alguma substância, não teria camarão, siri, morreria tudo. Faz nove anos que estou aqui, não acredito que seja veneno. Se fosse, outros morriam”, contou.
Para o pescador Dalton Costa, a Braskem tem parcela de culpa na mortandade dos peixes. “Falta de oxigênio e também a Braskem, que está acabando com a lagoa da gente. Começou a aparecer depois das obras deles, estão afundando ali e pegando um sal rosa também. Depois que essa firma chegou aí, prejudicou total e ninguém resolveu nada, nem colônia, nem federação, nem nada. Ontem mesmo tinha uma porção de tainha, carapeba e outros peixes, todos mortos”, disse.
Por meio de nota, a Braskem informou que não faz lançamento de qualquer produto químico na Lagoa Mundaú. “O trabalho realizado pela empresa na região está relacionado com o fechamento dos poços de sal, cuja extração foi encerrada em 2019. Todas as atividades são devidamente licenciadas e fiscalizadas pelos órgãos competentes”, afirmou.
Não é a primeira vez que o problema ocorre na região. Em março do ano passado, peixes também apareceram mortos na Lagoa Mundaú. Na época, os resultados parciais das análises de pesquisadores da Ufal indicaram intoxicação por produtos químicos. Os pesquisadores seguiram realizando estudos para determinar quais tipos de compostos provocaram a mortandade.
Após alguns dias, pesquisadores da Ufal identificaram as causas da mortandade de peixes.
Conforme laudo, a mortandade aconteceu pelo lançamento de compostos químicos proibidos e fertilizantes conhecidos como NPK que provocaram o episódio.
Além disso, as análises indicaram um alto nível de poluição com presença de metais pesados e extremamente nocivos ao meio ambiente e aos seres humanos.
O coordenador das análises, professor Emerson Soares, classificou o caso como um “crime contra a saúde pública”. “Esse laudo traz um problema gravíssimo. Isso é grave. Do ponto de vista legal isso é criminoso. Usar um produto, um pesticida, que é proibido pela OMS inclusive. O outro composto, o NPK é de fertilizante e agroquímicos também. Por isso tem que ser analisado. Quem é que trabalha com isso? Cana, plantação às margens? Não é numa área tão longe, porque o peixe não morreu em toda a área, foi em uma certa área. Além de tudo isso tem a presença de metais pesados que podem estar em algum produto químico que vem sendo acumulado também”, detalhou.
Emerson esclareceu que as análises identificaram a ocorrência de duas situações distintas: o lançamento de produtos químicos que ocasionam a morte dos peixes e o alto nível de poluição na Lagoa Mundaú, resultado de uma contaminação que vem se acumulando. Ainda segundo o pesquisador, não foi possível determinar a origem desse lançamento ilegal.
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