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Contagem regressiva: foliões se preparam para curtir o Carnaval

Passagens compradas, abadás e fantasias na mala; destinos são diversos para muitos alagoanos que vão curtir as festividades

Por Lucas França com Tribuna Independente 08/02/2023 10h28 - Atualizado em 08/02/2023 16h14
Contagem regressiva: foliões se preparam para curtir o Carnaval
Pedro Almeida (dir.) e amigos curtem a festa em Salvador desde 2015: “de lá para cá não deixei mais de ir” - Foto: Arquivo Pessoal

A espera e ansiedade finalmente chegaram ao fim para os alagoanos que vão curtir a festa em cidades como Salvador, na Bahia, Olinda em Pernambuco e até no estado de São Paulo. De malas prontas, os foliões falam da agitação e tradição do Carnaval. Seja atrás dos trios, em bailes ou nos tradicionais blocos de rua, essa turma quer mesmo é esquecer os dois anos de cancelamento da festa devido a pandemia da Covid-19.

O estudante de odontologia, Pedro Almeida, 29 anos, não abre mão de curtir a festa em Salvador. De acordo com ele, o destino é tradição desde 2015. E foi na cidade baiana que ele fez amigos de várias regiões do país. “Comecei a curtir a festa fora de Alagoas em 2015, meu primeiro Carnaval de Salvador. De lá pra cá não deixei mais de ir e nem pretendo. Para mim não tem igual, o de Salvador é melhor que existe no mundo. Já cheguei a dividir apartamento com 18 pessoas, de vários lugares do Brasil: Rio, São Paulo, Belém do Pará, Belo Horizonte, Aracaju, João Pessoa, Ouro Preto e etc. A gente tentava manter sempre a mesma turma, mas nem todos os anos essa mesma galera conseguia ir. Então íamos colocando pessoas de confiança que eram amigos de alguém que já dividia com a gente, várias amizades de Carnaval. Inclusive a minha amiga de vida e alma eu conheci em Salvador, em 2015. Nossa relação era além dessa vida e por tristeza em 2020 ela partiu, um câncer tirou a vida dela”, conta Pedro.

Ainda segundo o estudante, o Carnaval de 2023 será especial para relembrar a energia que a amiga que faleceu em 2020 tinha. “Já que não tivemos outro Carnaval desde que ela faleceu’’, lembra o estudante.

Pedro diz que a preparação para o festejo começa um ano antes, logo após a Quarta-feira de Cinzas. “A gente sempre pagava logo após o término de cada Carnaval, assim ficaria mais viável para todos e mais econômico, pois Salvador de última hora fica muito caro e complicado. É importante ter alguém de confiança na hora de fechar o local certo para ficar e não cair em golpes. Na maioria das hospedagens nós costumamos pagar até R$ 950 por cabeça, podendo ficar até 10 dias na acomodação, pois o Carnaval de lá dura uma ‘eternidade’. Curtir com os amigos sem dúvidas é a melhor opção, tudo fica mais divertido e animado, uma curtição sem fim’’, comenta.

O funcionário público Cristiano Albuquerque da Silva, 46 anos, também não abre mão do Carnaval de Salvador. Ele conta que desde 2005 é seu destino. “Meu cunhado arrumou emprego por lá, se alojou e logo em seguida minha irmã foi. E eu não fui para conhecer, fui para levar meus sobrinhos – estava de férias e ao perguntaram se eu queria ir conhecer, aí aproveitei para levar os meninos. Gostei tanto que a partir daí não deixei de ir. Tinha um amigo que organizava e fui com ele. Mas, depois ele desistiu de organizar e eu que comecei a fazer a organização e agora todos os anos eu viajo antes da festa para organizar tudo. As pessoas que vão e ficam no apartamento são pessoas do meu convívio. Ou seja, fica mais em conta para todos’’, diz Cristiano.

Cristiano Albuquerque e amigos em período Carnaval (Foto: Acervo pessoal)

Cristiano diz que são sete dias de hospedagem e a média fica R$ 750 por pessoa. “O Apartamento já tem a mobília, com o dinheiro pagamos a cozinheira, o aluguel e despesas. São em média 14 pessoas. E valor inclui as três refeições’’, disse acrescentando que acabou virando um trabalho para ele, já que também organiza um bate e volta para Olinda no período de Carnaval.

Apaixonado pela pluralidade, ator alagoano se encanta pelos festejos de SP

E para quem pensa que o sudeste não atraí os turistas alagoanos para a folia, se engana. O ator e produtor cultural Christiano Marinho afirma que os famosos blocos de rua de São Paulo cresceram e levam milhões de foliões para as ruas. Ele não hesita em dizer que Carnaval é a melhor festa por ser tão democrática.

“Carnaval é minha melhor festa, por ser muito democrática! Essa mistura de classes, gêneros, religiões, que faz todo mundo ser realmente quem é. As pessoas deixam em casa os boletos, as contas, os problemas, as diferenças. A regra é se divertir… Por isso gosto de ir nos polos mais conhecidos do país. Por causa dessa pluralidade gosto de todos os ritmos, junto e misturado do frevo, samba, axé e até os ritmos agregados. Porém gosto do Carnaval raiz que não foge dessa essência. Como por exemplo, Recife e Olinda. Para mim sempre será o melhor Carnaval por manter essa tradição cultural de Carnaval de rua. É literalmente Carnaval de ‘outros carnavais’. Cada estilo de música tem sua história e beleza’’, pontua o ator.

Mas, apesar disso, ele diz que São Paulo lhe chama atenção desde 2014. “Apesar de mais de 20 anos indo a Recife e Olinda e achar o melhor Carnaval, tenho cansado do formato e, por isso, buscado outras opções como, por exemplo, São Paulo. Desde 2014, vêm crescendo demais, os antigos bloquinhos viraram blocos de 1, 2 e até 3 milhões de foliões. E é literalmente bloco de rua, não tem camarote, nem abadá. Tem a fantasia de cada um e lá realmente toca tudo. Toca frevo, axé das antigas, funk, pop, samba e até MPB. No momento estou de romance com o Carnaval paulista’’, ressalta Marinho.

O ator, produtor Christiano Marinho irá curtir o festejo de Momo em São Paulo (Foto: Acervo pessoal)

Em relação ao carnaval de Salvador, Christiano Marinho diz que a música lhe chama a atenção. “O de Salvador me atrai muito a música, a sensualidade do baiano, os artistas, mas já acho que perdeu o principal foco do Carnaval e virou uma indústria. É absurdo uma festa tida como popular, cobrar R$ 1.000, R$ 2.000 num abadá. Cada ano fica mais caro, é uma loucura. Eles colocam a pipoca com alguns artistas pra dizer que é para todos, mas não é a mesma coisa, polarizam demais a galera. Isso sem falar nos camarotes. Né? Enfim, com menos de 10.000 você não terá uma experiência incrível do Carnaval de lá. Já fui umas sete vezes, porém não rola mais’’, critica, avaliando que, em São Paulo, o folião pode curtir shows de artistas que estão em Salvador de graça “como a pipoca da rainha Daniela Mercury, que encerra o Carnaval de São Paulo com a maior pipoca do planeta, e tantos outros. Por lá você emenda um bloco no outro, o dia todo e de acordo com o público que você se identifica. E esse ano mais uma vez é pra lá que eu vou’’, finaliza.

ALAGOAS

Ah, mas não é só para fora de Alagoas que os amantes da festa irão. No estado também há uma variedade de destinos para os apaixonados por essa festa. Seja no Litoral ou até mesmo no Sertão, opções não faltam. São José da Laje, Viçosa e Murici na Zona da Mata são alguns exemplos. Quebrangulo, Palmeira dos Índios e Arapiraca, no Agreste também terá programação. Mas o Litoral Alagoano, seja o norte ou sul, é destino para muitos.

A bacharela em Serviço Social e estudante de mestrado Sílvia Bomfim, por exemplo, terá como destino a Barra de São Miguel, no Litoral Sul de Alagoas. Diferente dos anos anteriores, pré-pandemia, este ano a jovem irá curtir a festa com o namorado e a família dele.

“Este ano irei curtir o Carnaval em uma casa de praia com meu namorado [Arthur Plácido] e a família. Mas já tive como destino o Carnaval em Pontal do Coruripe, também no Litoral Sul, Viçosa, na Zona da Mata e outros. Mas pela primeira vez irei a Barra’’, conta, afirmando que está com alta expectativa para uma boa folia. “Tendo em vista os anos anteriores que as festas maiores ficaram suspensas devido à pandemia, pretendo conhecer a festa pública que a cidade oferece. Mas também faremos nossa folia particular na casa de praia que ficaremos’’, antecipa Sílvia. 

Sílvia irá curtir o Carnaval com o namorado (Arthur Plácido) e família no Litoral Sul de Alagoas (Foto: Acervo pessoal)


“Além de tradicional, festa movimenta a economia do país”, diz carnavalesco

O artista plástico e carnavalesco Ovídio Gurgel que organiza há 25 anos um dos blocos mais conhecidos de Marechal Deodoro, o Siri Mole, fala que é um folião nato e desde criança já curtia o festejo de Momo. “Sou do Rio Grande do Norte e desde muito pequeno já curtia o Carnaval. Quando entrei na faculdade passei a viver a festa intensamente – sempre me programo para ir a Olinda com um grupo de amigos e faço isso até hoje. Essa é minha rotina no período’’.

Para Gurgel, a festa é a mais democrática que existe e além de tradicional movimenta a economia. “Não há distinção de classe social, raça, religião ou idade. No Carnaval a folia é liberada da criança ao idoso. É uma festa de alegria, de esquecer os problemas do dia a dia. Além de ser cultural virou uma indústria que movimenta a economia. Mais turistas nas cidades que tem programação, mais vendas para os comerciantes seja ele pequeno ou médio, até para uma simples costureira que vai customizar abadás ou fazer uma fantasia. A festa é tão grandiosa que atrai turistas até de fora do país’’, expõe.

Se preparando para colocar o bloco Siri Mole nas ruas da Praia do Francês, na terça-feira (21) de Carnaval, Ovídio lembra que os dois últimos anos foram frustrantes com cancelamento, mas foi necessário devido a Covid-19. “Se não fosse à pandemia, na época estaria com as malas prontas embarcando para Olinda em Pernambuco. Sempre viajo na sexta-feira antes do famoso sábado de Zé Pereira e retorno na terça-feira de Carnaval logo cedo que é quando sai o Bloco Siri Mole, que organizo aqui em Marechal. Mas este ano vamos celebrar a vida, perdemos muitos amigos e bate uma tristeza, então nossa obrigação é curtir e agradecer o dom da vida. Além de Marechal o Siri Mole vai desfilar na orla de Maceió’’.

PSICÓLOGO

Para o psicólogo Carlos Gonçalves, curtir a festa em grupos de amigos é saudável e divertido, mas é preciso definir o que seja amizade. “Independente de idade, ter amigos é de extrema importância para o nosso amadurecimento enquanto pessoa. A amizade é um dos vínculos mais significativos e importantes que estabelecemos. Ter com quem contar e ser este apoio de alguém nos fortalece em todos os sentidos, principalmente no campo psicológico. Um amigo se diverte na companhia do outro, não divide apenas as histórias, compartilha segredos. E quando o assunto é compartilhar, dividir momentos onde, com certeza, a alegria, a euforia, a diversão é o que unem esses amigos, como escolher passar o Carnaval juntos, o resultado geralmente é satisfatório para todos’’.

Gonçalves diz que após dois anos de pandemia a festa só trará benefícios. “Depois de dois anos praticamente sem ter esse tipo de contato, numa das festas mais populares, onde a alegria é o carro chefe, voltar a celebrar, junto de quem amamos, só trará benefícios para nossa autoestima. Claro que, para que tudo isso ocorra com segurança, respeitando também que cada ser tem seus hábitos e costumes, é fundamental compreender e respeitar o outro’’.

Psicólogo Carlos Gonçalves diz que curtir festa com amigos é saudável (Arquivo/Tribuna Hoje)