Cidades

Patrocínio da Braskem no BBB23 revolta internautas alagoanos

Logo da empresa apareceu acima das lixeiras da cozinha do programa na terça-feira e indignou os telespectadores locais

Por Gabriely Castelo com Tribuna Independente 19/01/2023 06h31 - Atualizado em 20/01/2023 10h09
Patrocínio da Braskem no BBB23 revolta internautas alagoanos
Logo da Braskem acima das lixeiras da cozinha da casa do BBB23 foi inserida no programa da terça - Foto: Reprodução

O maceioense que acompanhou os primeiros dias da vigésima terceira edição do BBB notou uma empresa conhecida patrocinando a cozinha do programa. A Braskem, que investe um valor milionário no reality mais assistido do país, foi a empresa responsável por danos a diversos cidadãos, em Maceió, ocasionando o maior afundamento de solo da América do Sul. Os bairros do Pinheiro, Mutange, Bebedouro, Bom Parto e parte do Farol foram desocupados. Famílias foram realocadas e tiveram as suas janelas, portas e vidas lacradas.

O patrocínio da petroquímica gerou revolta nos internautas. Segundo a Braskem, a empresa pretende deixar a casa mais vigiada do Brasil mais sustentável. No entanto, a justificativa não comoveu os moradores da capital alagoana, que conhecem a realidade das vítimas do afundamento do solo por causa da mineração de sal-gema.

“Dinheiro pra investir em patrocínio para limpeza de imagem vcs tem, indenizar dignamente as famílias de Maceió vcs não tem. Fingem que n estão vendo”, disse um dos internautas em publicação no Twitter.

Na imagem, que apareceu no programa de terça-feira (17) e indignou os telespectadores locais, a logo da empresa aparece acima das lixeiras na cozinha da casa. A empresa defende que “pretende promover ações educativas para que o descarte do lixo seja feito da maneira adequada.”

“Mineradora buscar limpar imagem em âmbito nacional”

Para Alexandre Sampaio, presidente da Associação de Empreendedores do Pinheiro, com a ação, a empresa busca apenas limpar a imagem no âmbito nacional. “Ela [Braskem] apenas silencia quem devia estar denunciando, silencia a imprensa, a Rede Globo, que deveria estar apontando o maior crime ambiental do mundo em área urbana, mas não o faz, porque está sendo patrocinada. Faz parte de um grande jogo de cena. Eles jogam sujo em Alagoas para ver se limpa na bolsa de valores e na opinião pública nacional”, declarou o presidente.

Perguntada sobre o investimento milionário publicitário feito no programa de alcance e repercussão mundial, a mineradora respondeu em nota que vem cumprindo rigorosamente os acordos firmados com as autoridades locais. “Por meio do Programa de Compensação Financeira e Apoio à Realocação, mais de 98% dos moradores das áreas de desocupação e monitoramento definidas pela Defesa Civil já foram realocados preventivamente. Até o final de 2022, 18.618 propostas de compensação foram apresentadas, o que equivale a 97% de todas as propostas previstas.”

A Braskem informou ainda que está desenvolvendo ações previstas no Termo de Acordo Socioambiental assinado com o poder público, para mitigar, compensar ou reparar eventuais impactos causados pela desocupação dos bairros.

A empresa explica ainda que possui o compromisso de engajar e promover economia circular. Por isso, vem desenvolvendo, ao longo dos anos, uma série de ações educacionais em ações e mídias de massa, buscando impactar positivamente a sociedade. “O BBB é hoje um dos programas de maior audiência no país, e sensibilizar sua audiência para a importância do descarte correto dos materiais plásticos tem o objetivo de conscientizar que o plástico descartado corretamente é reciclado e volta como benefício para a sociedade.”

ENTENDA

A petroquímica Braskem extraiu sal-gema durante quatro décadas embaixo de um território urbano, na capital de Alagoas, Maceió. A mineração deixou crateras abertas abaixo do solo que chegavam ao tamanho de um campo de futebol.

O problema pode ter impactado o setor imobiliário na capital. Segundo o Índice FipeZap, Maceió teve o maior aumento de preço de imóveis entre as capitais do Nordeste nos últimos 12 meses.

O acordo da Braskem, já pagou mais de R$ 2 bilhões aos moradores, que buscaram outras localidades para morar e imóveis para alugar em outros pontos. Isso pode ser um dos fatores que fizeram com que preços dos apartamentos, tanto no aluguel quanto nas vendas, dobrassem.

De acordo com o estudo “Mercado Imobiliário em Alagoas: Cenário e Oportunidades para 2023”, realizado em conjunto entre a Mercatus e o escritório de investment Banking SG Capital, a maioria dos moradores que precisou sair de suas residências procuraram propriedades próximos de onde já residiam. Barro Duro (26%) e Farol (23%) ocupam os primeiros lugares na lista de bairros ocupados por essas pessoas atualmente. Outros com menor percentual, que chega a 6%, são Tabuleiro do Martins, Ponta Verde, Antares, Jatiúca, Feitosa e Ipioca.