Cidades
Escolas estão abandonadas nos bairros de Maceió afetados pelo afundamento
Afundamento do solo causado pela Braskem nos bairros Pinheiro e Bebedouro também vitimou alunos da rede municipal
O cenário desolador gerado pelo afundamento de solo provocado pela Braskem nos bairros Pinheiro e Bebedouro ainda reverbera na educação de Maceió. Na rede municipal, cinco escolas foram diretamente afetadas: CMEI Luiz Calheiros Júnior (Pinheiro), Escola Municipal Major Bonifácio da Silveira (Bebedouro), CMEI Braga Neto (Bebedouro), Escola Radialista Edécio Lopes (Pinheiro) e a Escola Padre José Brandão Lima (Pinheiro).
Alunos seguem sem saber onde irão estudar, quando irão reencontrar colegas, professores e funcionários das escolas. Muitos deles não conseguem acompanhar as aulas remotas. Outros tantos simplesmente desistiram e aumentaram os números de evasão escolar. Ao todo, 1.268 alunos estão sem um teto para estudar.
DRAMA
A presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Alagoas (Sinteal), Consuelo Correa, disse que durante esse período vem acompanhando “o drama das comunidades escolares afetadas pelo crime ambiental da Braskem, nos juntando à luta para que as escolas sejam realocadas o mais rápido possível”.
- Contudo - continuou -, a Secretaria Municipal de Educação vem sendo bastante insensível com a situação, deixando muitos alunos sem poder estudar. Muitos deles acabam desistindo, pois não conseguem acompanhar as aulas por não terem os recursos tecnológicos necessários.
Segundo Consuelo, “ainda que hajam as aulas remotas, muitos alunos não têm condições de acompanhar por conta da falta de tecnologia suficiente para isso. Sem contar as dificuldades enfrentadas por professores para conseguir se conectar com os alunos neste período, devido às condições ruins ofertadas pelo município”.
Ela também fala sobre uma consequência grave para os estudantes, que são os deslocamentos.
“Com essa necessidade de realocação, muitas crianças pequenas terão de usar um transporte para ir e voltar da escola. Elas acabam perdendo o contato com a sua comunidade, a sua realidade cotidiana e acabam deixando os seus pais preocupados também com esse deslocamento em uma fase como essa”, explicou.
Ela aponta ainda outros efeitos colaterais causados pela falta de escolas. “A deficiência alimentar por parte dos estudantes que deixaram de consumir a merenda nas escolas para receber um kit em casa sem a mesma qualidade de alimentação, e a grande evasão escolar, já que a gestão municipal não está buscando esses alunos que estão perdidos e não retornam a comunidade escolar”.
A sindicalista avalia também ser difícil medir o quanto a ausência da frequência escolar afeta não só as crianças, mas todas as famílias envolvidas. Ao seu lado, Edilaine dos Santos, mãe de aluno da Escola Radialista Edécio Lopes, falou sobre as dificuldades que os pais vêm enfrentando nos últimos dois anos.
“Desde que começaram as aulas remotas, os pais estão sendo os professores em casa. Eu ainda consigo ajudar meus filhos, mas sei que muitos pais trabalham e não podem dar essa assistência. É muita coisa que eu não sei passar para ele como uma professora sabe (…) Isso dificulta muito na aprendizagem deles”.
Famílias cobram providências e cumprimento de promessas
Uma outra reclamação constante dos pais é com relação à distância do setor administrativo provisório da escola, que está situado na Escola Octávio Brandão, no Tabuleiro. “É uma dificuldade enorme, porque muitos pais têm que gastar com transporte para ir resolver alguma questão por lá. Isso sem contar no dinheiro gasto para imprimir atividades escolares”, detalha Edilaine dos Santos, mãe de aluno.
Ela se queixa de promessas não cumpridas, segundo afirma, pelo secretário municipal Elder Maia, de realocação de alunos.
”O secretário havia prometido que no dia 21 (de março) já estaria com as chaves da escola para passar para as gestoras visando o retorno às aulas, no espaço que eles encontraram por trás do Palato Farol. Só que, conversando com a direção da escola, a Semed não passou nada de concreto, como informar se realmente o prédio será ou não alugado”, disse Edilaine, uma das líderes do grupo de pais da Escola Radialista Edécio Lopes, que cobra uma solução para o problema.
Assim como Edilaine, outros pais demonstram indignação e seguem na luta por melhores condições para os estudantes. A queixa comum é de que promessas feitas não teriam ainda sido cumpridas.
Eles apontam publicação no Diário Oficial do Estado do último dia 23 de março, confirmando que o espaço prometido pelo secretário de educação será ocupado por uma escola estadual.
Com isso, a Escola Edécio Lopes segue sem nenhuma perspectiva de realocação.
Com a morosidade atual, Edilaine disse que não espera boas novas para o ano letivo atual.
Ela acredita que este será mais um ano letivo complicado. “Infelizmente estou cansada de promessas. A escola é ótima, funcionários e professores fazem o que podem, mas pelo que acompanho, meu filho irá ficar nesse modelo remoto por mais um tempo”, concluiu.
Consuelo Correia disse que o Sinteal vai seguir cobrando uma solução da gestão da educação em Maceió “para encerrar a agonia das famílias de 1.268 alunos que tiveram de ser retirados de suas unidades escolares, o que sem dúvida vai prejudicar suas formações educacional e social, uma vez que seguem até hoje sem saber dos seus destinos.
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