Cidades

Análises indicam que peixes morreram por intoxicação

Primeiros resultados apontam para contaminação da água por produtos químicos ou por lançamento de esgoto industrial

Por Evellyn Pimentel com Tribuna Independente 16/03/2022 06h36
Análises indicam  que peixes morreram por intoxicação
Resultado parcial de análise feita pela Ufal indica que peixes morreram intoxicados por produtos químicos - Foto: Cortesia

Os resultados parciais das análises dos peixes que surgiram mortos no último domingo às margens da Lagoa Mundaú indicam intoxicação por produtos químicos. Os pesquisadores seguem realizando estudos para determinar quais tipos de compostos provocaram a mortandade.

“Identificamos que os peixes morreram intoxicados, devido às células sanguíneas não conseguirem fazer o transporte de oxigênio, e os íons diminuírem a permeabilidade celular para entrada de íons indesejáveis na célula. Pelas análises não foi matéria orgânica da lagoa, não foi toxina de microalgas e nem foi óleo. Fizemos a avaliação em 25 parâmetros”, pontua o doutor em Ciências Aquáticas Emerson Soares, da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), que coordena os estudos.

Como explica Soares, os resultados preliminares apontam para duas hipóteses. Em ambos os casos se configura crime ambiental.

“Trabalhamos com duas hipóteses: agroquímicos, mas ainda estamos analisando em laboratório. Isto porque tínhamos índices de fósforo, compostos nitrogenados e potássio elevados, além de outros parâmetros ligados a isso, mas dependemos das análises cromatográficas. Outra possibilidade é substância de efluente industrial de extração de minério ou solo, devido à alta carga de potássio, turbidez, TDS e manganês”, detalha.

O pesquisador afirma que é difícil determinar a origem da contaminação, conhecida como poluição difusa, quando um ou mais fatores causam o problema e não é possível realizar o rastreio.

“Por que as vezes é difícil saber quando são efluentes que são despejados, sem fazer a rastreabilidade, se tivesse como na hora do ocorrido, coletar amostra seguindo a pluma de poluição e não tivesse sido barrado pelos seguranças da empresa [Braskem], teríamos mais confiabilidade. Se ocorrer novamente e fizermos rastreabilidade sim, mas com nossas análises, saberemos que tipo de produto é, mas não de onde veio”, detalha.
A conclusão dos resultados está prevista para ocorrer até o fim da semana.

“Importante destacar a rapidez de nossas análises e do trabalho e eficiência da Ufal. Amanhã [quinta, 17] já terei alguns resultados de agroquímicos. Em 3 dias estaremos com 80% pronto”, detalha.

Resultado de testes realizados pelo IMA deve ser liberado nesta quinta (17)

Procurado pela reportagem, o Instituto do Meio Ambiente (IMA) informou que análises ainda estão sendo feitas pelo órgão e a expectativa é de que quinta-feira (17) sejam liberados os resultados. Questionado sobre quais sanções podem ser aplicadas em caso de comprovação de crime ambiental, o órgão afirmou que ainda é prematuro falar em causas.

O CASO

No último domingo (13), pescadores da região do Flexal, em Bebedouro, registraram mortandade de peixes na Lagoa Mundaú. Ainda no fim de semana, pesquisadores da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) fizeram coleta de amostras. Já na segunda (14) o Instituto do Meio Ambiente (IMA) também recolheu material para análises.

O pescador e líder comunitário Antônio Domingos, detalhou a reportagem que é comum o aparecimento de peixes mortos às margens da Lagoa Mundaú. No entanto, o que chamou a atenção desta vez foi o surgimento de uma mancha escura na água.

“De 5 pras 6 horas da manhã os peixes começaram a sair da lama e isso sempre acontece, mas algo que chamou nossa atenção foi a mancha de óleo. Eles estavam cobertos pelo óleo e isso nos deixou preocupados. Os próprios moradores colheram o óleo e estamos aguardando, deram o prazo de uma semana para determinar o que aconteceu. A morte dos peixes, isso vem acontecendo frequentemente, mas a mancha de óleo é a primeira vez. Eu não posso afirmar o que é essa mancha de óleo, de onde vem, não temos fontes de seguras, é algo que é novo pra gente”, lembra o pescador.