Cidades

Pedido de liminar para segurança de pastora é acatado

Odja Barros vem sendo alvo de ameaças de morte desde que celebrou um casamento homoafetivo entre duas mulheres

Por Texto: Ana Paula Omena com Tribuna Independente 18/12/2021 08h51
Pedido de liminar para segurança de pastora é acatado
Reprodução - Foto: Assessoria
O presidente do Conselho Estadual de Segurança (Conseg), juiz Maurício Breda, acatou o pedido de liminar solicitado pelos Conselhos de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil - Alagoas (OAB/AL) e do Ministério Público do Estado de Alagoas (MP/AL), para garantir a segurança individualizada da pastora da Igreja Batista Odja Barros, que vem sendo alvo de ameaças de morte desde que celebrou um casamento homoafetivo entre duas mulheres no último dia 5, na capital alagoana. De acordo com o advogado Cauê Castro, que acompanha o caso da pastora pela OAB/AL, a segurança individualizada acontece a partir de agora. “O comando da PM já foi acionado e vai disponibilizar dois policiais militares, que farão a escolta da pastora e do esposo dela”, frisou. “Esta é a primeira ameaça feita a uma religiosa a este nível, mas já houve outras ameaças a terreiros, mães de santo, entre outros. Na verdade, as entidades religiosas sempre foram atacadas de diversas maneiras, porém o que mais assusta é que neste caso trata-se de uma relação homoafetiva e por ser uma pastora, isto é, uma mulher. Porque já houve outros casamentos homoafetivos feitos por pastores e nunca aconteceu este tipo de ameaça. No entanto, quando foi uma pastora celebrando a união homoafetiva, essa intimidação foi bastante perturbadora”, explicou o representante do Conselho de Direitos Humanos da OAB/AL. Cauê Castro lembrou o teor do amedrontamento por parte do suspeito contra a pastora, que nas ameaças a pessoa chegou a mostrar a foto de uma arma de fogo e que dispararia cinco tiros na cabeça dela. “Então a gente vê que o preconceito não é apenas religioso, mas também direcionado por ser mulher”, salientou. O promotor Magno Alexandre Moura, presidente do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos do MP/AL, reforçou que a pastora ficará sob a proteção do estado por meio do monitoramento de policiais militares até que o suspeito seja identificado e responsabilizado na forma da lei. “As investigações já iniciaram e agora é só aguardar a Polícia Civil fazer o papel dela e concluir o inquérito policial sobre o assunto”, ressaltou o promotor. MENSAGENS A mensagem foi vista pela pastora somente dois dias após a união homoafetiva, que aconteceu num domingo. Nos áudios e mensagens recebidos diretas do Instagram, um homem a ameaça de morte: “Tá vendo esse revólver aqui? Eu vou colocar cinco bala [sic] na sua cabeça, viu, sua sapatão?! Nunca que você é uma teóloga. Nunca, mano! Tá tirando, mano. Tu tá usando a Bíblia, mano, que nunca leu um livro pra casar duas mulé [sic], sendo que Deus condena isso lá em Levítico. Você tá tirando, mano, teóloga? Quantos livro [sic] você leu, cara? Você vai pagar, minha irmã, porque eu já tenho aqui os seus familiares”. Família agradece o apoio e mobilização do Estado e diz estar em paz O esposo da pastora Odja e também pastor da Igreja Batista do Pinheiro, Wellington Santos, agradece o apoio e mobilização do estado e diz que a família está em paz. “Estamos gratos pelas representações do estado que não aceitam que a barbárie se instale em Alagoas, que não aceitam que a civilidade seja destruída em nome de qualquer tipo de radicalização religiosa ou política”, frisou. “Já nos foi comunicado que a proteção vai acontecer e nós estamos tentando ficar com a saúde das emoções mentais em paz, muito convictos de que não podemos recuar diante de qualquer tipo de ameaça de áudio, de arma e intimidação, até porque estamos seguindo o projeto que chamamos de Jesus Cristo preto, pobre, periférico de Nazaré”, declarou Wellington Santos. Ainda de acordo com o religioso, sempre traz à memória nestes momentos que o Jesus amado e seguido, que entrega sua vida, não morreu velhinho, mas foi crucificado numa trama político-religiosa. “O fanatismo religioso o levou a cruz junto com a aquiescência do governo romano. Estamos tranquilos no sentido do que cremos. Mas enquanto obviamente não se encontrar autoria e de onde partiram essas ameaças a gente fica com o coração inquieto. Então é assim que estamos neste instante, procurando ser cautelosos, mas muito gratos pelo apoio da nossa igreja, comunidade de fé, caminhando junto na missão no sorrir e no chorar, mas muito convicta da nossa luta e do processo pelo qual estamos envolvidos”, pontuou. O pastor reforçou também que a luta não se restringe apenas a esta pauta especifica do ato de amor ocorrido no dia 5 de dezembro. Ele lamentou que alguém se sinta autorizado pelo ódio a ameaçar tirar a vida de outra pessoa que abençoa o amor de outrem. “Não estamos tranquilos totalmente, mas em paz pela missão que abraçamos”, finalizou.