Cidades

Crescem denúncias de violência contra idosos na pandemia

Índice de aumento no estado de Alagoas é de 62,33%, maior que a média nacional de 59%

Por Ana Paula Omena com Tribuna Independente 19/11/2020 08h23
Crescem denúncias de violência contra idosos na pandemia
Reprodução - Foto: Assessoria
O ambiente familiar, que em tese é cercado de proteção e aconchego, por vezes esconde abusos e negligência com pessoas idosas. Segundo dados do Disque 100, plataforma do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos (MMFDH), o número de denúncias de violência contra o idoso no Brasil durante a pandemia da Covid-19 cresceu 59%, no estado de Alagoas este índice foi ainda maior representando 62,33% dos casos. Entre março e junho deste ano, foram 25.533 denúncias em todo o país. No mesmo período de 2019, foram 16.039. Em Alagoas, no ano de 2019, foram 154 e, no ano de 2020, foram 250. De acordo com o Disque Denúncia 181, da Secretaria de Estado da Segurança Pública (SSP) de Alagoas, o tipo mais comum de denúncia versa sobre negligência e violência patrimonial. As mulheres idosas são a maioria das vítimas. Outro detalhe que chamou a atenção é que os crimes denunciados ocorriam na própria residência da vítima e na maioria dos casos, ficou constatada que o agressor tratava-se do filho, que geralmente é usuário de drogas e extorquia a vítima para a compra de entorpecentes. Os bairros do Vergel, Jacintinho e Clima Bom, em Maceió, concentram a maioria das denúncias recebidas no período. O tenente PM, Alex Acioli, da Chefia de Articulação Política e Prevenção, da SSP, explica que uma grande preocupação é manter os atendimentos mesmo durante a pandemia, já que o isolamento social pode contribuir para que agressões e outras práticas contra a pessoa idosa possam acontecer e acabem passando despercebidas. O setor da SSP tem sido fundamental para receber as denúncias e ser a ponte com as Bases Comunitárias da Polícia Militar ou o Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas), para atender a demanda, seguindo assim o fluxograma de trabalho. “Em uma das ações, realizada no dia 19 de junho passado, um idoso de 78 anos, foi resgatado de uma residência, no bairro do Benedito Bentes, em situação de abandono. A vítima apresentava quadro de desnutrição, feridas e necrose nos dedos da mão”, contou. No mês seguinte, julho, atendendo ao pedido do Núcleo de Defesa dos Direitos Humanos do Ministério Público do Estado de Alagoas, a Chefia de Prevenção articulou a condução de uma idosa de 85 anos, que residia no bairro da Ponta Grossa, para o Lar São Francisco de Assis, na Serraria. Na ocasião, ela também realizou o teste para o Covid-19. “Cuidar, ajudar e proteger os grupos vulneráveis, em especial a pessoa idosa, é um princípio da Filosofia de Polícia Comunitária. Devemos tratar o idoso como nós gostaríamos de sermos tratados. É obrigação de todos os respeitar, por isso a Segurança Pública, através da integração entre as Bases Comunitárias da PM e os Creas em Maceió, vem se esforçando para preservar a história dos grandes heróis das famílias, que são os nossos idosos. Assim, é necessário o engajamento de todos na causa da pessoa idosa, faça a sua parte, pois estamos fazendo a nossa”, completou o oficial. Sociedade de Geriatria e Gerontologia vê aumento com preocupação   A Sociedade de Geriatria e Gerontologia em Alagoas ver o fato com preocupação e enfatiza que segue acompanhando os casos, embora não tenha dados estatísticos fidedignos que comprovem os números. “Estamos na articulação com órgãos e conselhos no sentido de acompanhar os casos registrados em Alagoas. A conversa é permanente para que possamos trabalhar com essa situação”, enfatizou Elisabeth Toledo Lima, membro do SBGG no estado. Segundo ela, há casos em que a Justiça é acionada e assim é feita a remoção permanente do idoso para um dos 16 abrigos existentes em Alagoas. “Há uma triagem, cada caso é um caso. Se for criminoso, envia para a delegacia. Se for social, o Centro de Referência de Assistência Social (Cras) é acionado, para que assim seja feita uma visita na casa e este idoso passe a ser acompanhado”, disse. Ainda de acordo com os dados do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, o estado com maior número de denúncias no período da pandemia foi São Paulo, que teve 5.934 casos reportados, o que representa 23% do total do país. Em seguida, estão Rio de Janeiro, com 3.743 denúncias, e Minas Gerais, com 3.595. Entre os estados com menor número de casos estão Roraima, que foi de 16 para 28; Amapá, de 22 para 38, e Tocantins, que foi de 43 denúncias para 106. Alagoas encabeça o 8° lugar dos menores casos e o 20° dos maiores. COMO DENUNCIAR? Além de importante ferramenta na elucidação de crimes, o Disque-Denúncia 181 também pode auxiliar aquelas pessoas que tenham informações sobre pessoas idosas que estão em situação de abandono, sofrendo violência, extorsão ou outro tipo de abuso. A ligação para o número é gratuita e o nome do denunciante é mantido em sigilo. Há ainda a possibilidade de utilizar o aplicativo, que está disponível para download na Play Store.