Cidades

Casas de acolhimento provisórias recebem população de rua de Maceió

Abrigos fazem parte de plano de emergência durante pandemia e devem comportar mais de 240 pessoas na capital

Por Lucas França com Tribuna Independente 26/03/2020 08h12
Casas de acolhimento provisórias recebem população de rua de Maceió
Reprodução - Foto: Assessoria
Um plano de emergência entre a Arquidiocese de Maceió e a Prefeitura foi criado para garantir o acolhimento da população de rua durante o período de pandemia do coronavírus - Covid-19. Pelo menos  mais de 240 vagas já estão garantidas com alimentação e os cuidados básicos para está população. Até o fim da tarde desta quarta-feira (25) 138 pessoas já estavam abrigadas. No Centro de Educação de Jovens e Adultos (Ceja), localizado na Rua do Sol, no Centro, cedido pela Secretaria de Estado da Educação (Seduc), onde funciona um dos abrigos provisórios, já havia um grupo de moradores de rua acolhidos pelas equipes. No local,  profissionais da saúde estavam  realizando alguns exames. O outro abrigo provisório para pessoas em situação de rua do grupo de risco, especificamente os mais idosos, já está funcionando, e é uma das casas da Fundação João Paulo II, localizada na Rua Dr. Costa Leite, também no Centro de Maceió, próximo à Transpal. Segundo Frei João, da Casa de Ranquines e coordenador da Pastoral do Povo de Rua, os albergues provisórios foram iniciados na segunda-feira (23). “Na casa que comporta os idosos temos 20. E no outro prédio temos 140 acolhidos até está quarta-feira. Nesses espaços temos uma série de ações para conseguirmos mantê-los. Como alimentação - incluindo café da manhã, almoço, jantar e lanches. Além de  jogos, momentos de oração e todas as noites realizamos o cine pipoca para mantermos essa população dentro do espaço para que eles não queiram voltar às ruas’’. Rafael Machado, coordenador do Movimento Nacional da População de Rua em Alagoas, ressalta que quando teve início o plano de contingência para minimizar a transmissão do coronavírus e não estava abrangendo a população de rua, ele começou um movimento junto aos órgãos, inclusive com a Secretaria da Mulher e dos Direitos Humanos (Semudh), Comissão dos Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil em Alagoas (OAB/AL). “Foi necessário fazer essa provocação, porque no plano de contingência  não tinha nada relacionada a este grupo. Então, se as pessoas ficassem em casa e a população de rua não fosse acolhida e por acaso contraísse o vírus, seria vetor justamente para as demais pessoas. Então, houve essa provocação. Aí a Arquidiocese conseguiu os abrigos e as parcerias, mas tudo através desse coletivo”, ressalta Rafael. FUNCIONAMENTO A Secretaria Municipal de Assistência Social (Semas) ressalta que a parceria com a Arquidiocese de Maceió tem como  objetivo  atender a população em situação de rua durante o período de pandemia, e já acolheu 115 pessoas até a terça-feira (24) nos dois abrigos provisórios. A Semas forneceu o kit dormitório, kit higiene e colchões, e mantém as refeições diárias por meio do Restaurante Popular. Já o Setor Juventude, a Fundação João Paulo II, Casa de Ranquines e a Pastoral do Povo da Rua estão responsáveis pelo acolhimento dessas pessoas e recebimento dos donativos. “Somos convidados a olhar para esses nossos irmãos que estão desamparados neste momento de pandemia contra o coronavírus. Toda ajuda por menor que seja é importante e necessária. Devemos ser instrumentos de esperança em meio as incertezas dos dias que virão”, disse o arcebispo metropolitano de Maceió, Dom Antônio Muniz. De acordo com a Semas,  toda a equipe do órgão está dedicada à montagem dos espaços para atender às recomendações de segurança e isolamento social. A diretora de Proteção Social Especial da Semas, Sheyla Barros, ressalta que  já existem dois Centros de Referência Especializados para a População em Situação de Rua (Centros POP), localizados nos bairros do Jaraguá e Farol, e estão funcionando das 8h às 12h. “Todos os dias, às 10h, é servido um café da manhã para os usuários dessas unidades. Desde hoje [ontem, 25], começamos a distribuir kits de higiene pessoal.  Este novos abrigos provisórios acolherão pessoas em situação de rua do grupo de risco, principalmente idosos, e o outro acolherá indivíduos e até famílias que não estejam em grupo de risco”, explica. “Existe muita resistência dos moradores a irem para abrigos”   De acordo com o Frei João e Rafael Machado, ainda existem muita resistência por parte da população de rua em ir para os abrigos. De acordo com eles, os que estão indo não é por consciência em relação a pandemia e sim  porque sabem que nos locais terão alimentação. “O que está fazendo eles virem para os abrigos não é o vírus, e sim a fome. Como os grupos e movimentos de doares não estão levando alimentação nas ruas, eles estão com fome, por isso eles procuram os albergues provisórios. Mas sobre situação da pandemia eles não tem consciência’’, explica o frei. Nesta quarta, a reportagem flagrou uma família que ainda não estava em abrigos. Eles estavam alojados na Praça Sinimbu, no Centro. O coordenador do Movimento Nacional da População de Rua em Alagoas, diz que existe a resistência de muitos. “Algumas pessoas acabam não querendo ir para os abrigos’’. A população também pode ajudar a manter os abrigos com doações que podem ser feita diretamente na Casa de Ranquines, que fica na ladeira da Catedral, na Igreja São Miguel Arcanjo (Colina dos Eucaliptos – Santa Amélia), no Santuário da Virgem dos Pobres, no bairro da Mangabeiras, ou ainda, nos próprios abrigos. Contatos com Frei João (99940-6028), Cauê Castro (99927-8388) e para mais informações pelo telefone da Casa Dom Bosco: 3314-1408. Os materiais que os abrigos precisam são: itens de higiene - sabonete, papel higiênico, desodorante, escova e pasta de dente; de limpeza - sabão em pó, detergente, água sanitária; descartável - copos, pratos, talheres, guardanapos, etc. MPE Vale lembrar que o  Ministério Público Estadual de Alagoas (MPE/AL) está orientando todos os seus promotores de justiça a cobrarem, cada um no município onde trabalha, medidas emergenciais de atenção à população de rua em razão da pandemia da Covid-19. Uma nota técnica expedida pelo Núcleo de Defesa dos Direitos Humanos recomenda, dentre outras coisas, que sejam cobrados das prefeituras locais abrigos temporários para as pessoas enquadradas nos grupos de risco, distribuição de refeições e kits de higiene pessoal, serviços socioassistenciais e de saúde pública e banheiros químicos. De acordo com a promotora de justiça Marluce Falcão, coordenadora do Núcleo de Defesa dos Direitos Humanos, órgão vinculado ao Centro de Apoio Operacional às Promotorias de Justiça (Caop), a nota técnica tem a finalidade de conseguir a adoção de “medidas de contenção de contágio e de isolamento social, por meio de ações de saúde pública e de assistência urgentes”.