Cidades

Pinheiro: Protesto silencioso gera repercussão

Ideia de dona Maria de pintar desabafo no portão ganhará adesão de outros moradores

Por Evellyn Pimentel com Tribuna Independente 27/09/2019 08h58
Pinheiro: Protesto silencioso gera repercussão
Reprodução - Foto: Assessoria
“Sonhos destruídos. Esta casa foi invadida, depredada e está rachada. Quem pagará por isso?”. Esta e outras frases foram pintadas nos muros de um imóvel no bairro do Pinheiro, em Maceió. Segundo Maria Auxiliadora Gaia, proprietária do imóvel, esta foi a forma de chamar a atenção para o drama enfrentado pelos moradores dos bairros afetados por afundamento. A iniciativa além de ganhar repercussão, incentivou outros moradores a seguir com a ideia. “O pessoal todo do Pinheiro vai fazer. Eles tinham começado na semana passada a pintar o chão e algumas paredes. Mas, ao invés de fazer só em algumas paredes ou alguma palavra, eu e minha filha Gabriela preferimos fazer algo que expressasse de fato nosso sentimento. Aí colocamos as frases e ficou muito bom. A casa foi pintada ontem [quarta-feira], mas gerou uma repercussão enorme. Está se espalhando na internet, pessoal de Recife ligando para saber, gente compartilhando em várias partes do país. Não esperava a repercussão”, conta. A moradora diz que a sensação de “impunidade” e a frustração diante do problema e da falta de resultados motivaram o protesto silencioso. Para dona Dora, como é conhecida,  há um misto de ineficiência do poder público e “faz de conta”. “Eu não gostaria que o meu maior e pior inimigo do mundo estivesse passando pelo que eu estou passando. Porque é uma sensação de impunidade, total omissão dos poderes públicos, é um faz de conta que estão fazendo, que a Braskem está fazendo. Eu mandei uma mensagem para a Braskem perguntando do que adianta eles estarem fazendo paliativos, não adianta, não faz sentido. Só faz sentido para eles que dizem que estão cuidando do bairro. Eles não estão cuidando do bairro, eles estão enganando a população. É uma sensação e impotência, de total descaso do poder público, que todos vão protelar o máximo que puderem e cada um se vire ou para construir um patrimônio ou quem não puder mais que peça proteção a Deus”, critica. As ações a que se refere dona Dora fazem parte do acordo de cooperação técnica firmado pela Braskem, Ministério Público Federal (MPF), Prefeitura de Maceió e Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA). Como informa a Braskem, serviços de reparação de vias e outros trabalhos como monitoramento de galerias e instalação de rede pluviométrica têm sido executados. “A Braskem segue empenhada em contribuir com as autoridades na identificação das causas e soluções para os eventos que afetam os bairros de Pinheiro, Mutange e Bebedouro, em Maceió, e tem cooperado com a adoção das medidas emergenciais necessárias definidas em Termo de Cooperação com os Ministérios Públicos Estadual e Federal, Município de Maceió e Crea-AL”, diz a empresa em sua página oficial. Dona Maria Auxiliadora comenta que além das rachaduras, o imóvel vem sendo depredado e saqueado desde que foi desocupado, em fevereiro deste ano. “Eu morava há 23 anos nesse imóvel, mas no Pinheiro morava desde a década de 1970. Eu saí da casa no dia 7 de fevereiro, foi quando eles disseram que eu tinha que sair. A casa estava classificada na área vermelha e depois na área verde cítrico, que no documento que eu tenho é a área de colapso. A minha casa está com muitas fissuras, inclusive na laje. De lá para cá a casa foi bastante invadida. Estão invadindo de dia, levando fechadura, quebrando coisas. Eles invadem quase sempre em horário de almoço, levaram fechadura, quebraram pia, levaram muita coisa, coisas até que eu nem tinha noção, porque quando fechamos a casa não levamos tudo porque não cabia tudo”, detalha. “É uma forma de protestar diretamente”, diz liderança   A repercussão ganhou as redes sociais e a adesão de moradores. Maria Auxiliadora garante que outros moradores também estão engajados na ação. “A partir de agora muitos moradores vão fazer a mesma coisa para chamar a atenção. É uma forma de ativar novamente a discussão. Está tudo parado. Todo mundo sabe que a população é muito omissa, é uma população muito pacata, que não tem sangue nos olhos para brigar, não tem. Aí agora vai chegar eleições, vai chegar um bando de gente dizendo que está ajudando quando é mentira”, afirma. Sebastião Vasconcelos, liderança comunitária do bairro do Pinheiro afirma que os moradores já se reuniram e contrataram um profissional para que outros imóveis também recebam a pintura em forma de protesto. “Existe um planejamento nosso de pintar outros prédios e outras casas. Inclusive o pintor já foi contratado para fazer esse serviço. É uma forma de protestar diretamente e mostrar as pessoas que aquilo que a Braskem está falando não tem nada a ver com o que está acontecendo com o bairro”, declara o morador e líder comunitário Sebastião Vasconcelos.