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Pinheiro está deslizando em direção à lagoa

Pesquisador defende identificação dos “vazios” no subsolo para considerar catástrofe

Por Evellyn Pimentel com Tribuna Independente 23/03/2019 08h16
Pinheiro está deslizando em direção à lagoa
Reprodução - Foto: Assessoria
Confirmando o que o professor e pesquisador Abel Galindo havia adiantado à Tribuna Independente no início de março, o Serviço Geológico do Brasil (CPRM) afirmou que parte do bairro do Pinheiro está em processo de rastejo em direção à lagoa, isto é, há uma descida do bloco de solo e agora toda uma área em semicírculo foi classificada como de risco. Na avaliação do professor Abel Galindo as informações repassadas pelo CPRM apontam para sustentar o estudo que ele vem desenvolvendo desde 2010 na região. Ele explica que a área considerada “vermelha, amarela e laranja”, isto é, com mais rachaduras, é a área que tem sentido os reflexos do rebaixamento do solo. “São falhas geológicas ali, aquelas que eu mostrei [em matéria publicada no inicio de março]. Mostrando esse movimento em direção às minas, indicando muita água extraída e sal, na época eu também falei sobre essas falhas. A área perigosa hoje, sempre foi na verdade, é a área que está descendo. A área que está no vermelho, vamos dizer no Jardim Acácia, Divaldo Suruagy, ali não está descendo, está recebendo os reflexos, mas pode abrir uma rachadura grande se acontecer uma catástrofe. Não vai descer com o maciço que está descendo desse semicírculo. Essa possibilidade de descer o Pinheiro inteiro, na minha concepção nunca. Agora essa área do semicírculo vermelha isso sim, dependendo do tamanho das crateras lá embaixo. Afinal são 35 poços da sal-gema”, diz Galindo. O pesquisador e diretor do CPRM Thales Sampaio falou durante audiência pública que ocorreu na última quinta-feira (21) no Senado Federal em Brasília. Segundo Sampaio, as informações são preliminares, mas já apontam para o que está ocorrendo no bairro. O Serviço, no entanto, não determinou ainda quais seriam as causas do processo geológico. “A gente tem um movimento lento, que pela interferometria nos mostra que a partir de maio de 2016 o movimento já existia, mas era mais lento, e a partir de junho de 2017, examinamos vários pontos, temos uma aceleração desse movimento... Hoje a gente já tem certeza que existem falhas e fraturas, com no mínimo 80 metros de profundidade. Eu já enxergo isso até 150m de profundidade. Mas agora com os métodos que estão sendo utilizados para investigar até 1.500m de profundidade vamos ver essas superfícies. Há a possibilidade desses falhamentos, que são rotacional, estar girando em cima do conglomerado e todo esse bloco estar se deslocando em direção à lagoa. Esse movimento é um movimento de rastejo. Nós já enxergamos o rastejo, de 5cm, 10cm. 15cm na superfície. Mas veio a interferometria e nos mostrou que estamos vendo o encontro do bloco que está baixando com o bloco que não está baixando. É aí que está quebrando. E o que baixa você tem uma porção de áreas dentro dele que não está quebrada porque ele está baixando como um todo”, afirmou o especialista. Questionado sobre o que poderia ocorrer com as casas que estão em cima da porção que está se movendo, o professor Abel Galindo afirma que tudo dependerá da extensão dos vazios em profundidade. “As que estão rachando podem rachar mais. Se houver a catástrofe e isso eu não digo sim ou não, porque vai depender do que tem lá embaixo. Mas segundo o estudo que fiz se a cratera for menor que 600m de diâmetro o maciço de rochas que tem embaixo pode até segurar, mas se for mais que isso pode descer tudo. Então tem que ver, o mais importante hoje é saber qual o tamanho das crateras lá embaixo. Esse buraco não seria um círculo, seria mais ou menos um elíptico, justamente na disposição das minas. Vai ter que ter um buraco muito grande lá embaixo para poder descer. E se descer,  descer aquela parte vermelha do semicírculo, o resto pode ser puxado e rachar mais nas partes que estão mais baixo. Quando escorrega uma barreira não é assim? Quando escorrega tem influência para dentro de onde tem casas”, explica. Estudo iniciado em 2010 por Galindo traz evidências de riscos   No início de março a Tribuna Independente trouxe com exclusividade detalhes sobre os estudos produzidos pelo professor Abel Galindo que apontariam as causas do fenômeno das rachaduras nos bairros do Pinheiro, Bebedouro e Mutange. Segundo o pesquisador Abel Galindo as hipóteses levantadas em outubro do ano passado pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM) estão atuando em conjunto para o fenômeno das rachaduras no bairro do Pinheiro. A exploração dos poços de sal pela Braskem teria desencadeado uma ativação de falhas geológicas em camadas profundas do solo, a exploração do aquífero também é outro fator que contribui segundo ele. “A causa principal que eu considero é a extração do sal-gema, é a suspeita principal, a minha. Aproximadamente há uns cinco meses a CPRM elencou três principais causas, elencou oito, mas destacou essas três que foi a extração do sal-gema, a água extraída dos lençóis freáticos, e a falha geológica. Essas falhas são coisas muito antigas, coisas de milhões de anos. Elas estavam quietas, eu digo que elas estavam dormindo e foram acordadas. Essas falhas têm em todo o lugar, Tabuleiro, Farol, toda a cidade possui falhas, elas começam nas rochas e vão até 3 mil metros de profundidade. E tudo isso estava quietinho. Aí você chega num ambiente tirando milhares e milhares de materiais, há mais de 40 anos, começou em 1975. Isso começou a se movimentar. O que foi elencado, as três hipóteses estão juntas, trabalham simultaneamente”, defendeu a época. Em termos técnicos, o engenheiro explica que a influência da força nas camadas de rocha tem gerado tensão. “As minas 30 e 31 são as principais causadoras porque cada uma dessas, eu já disse, quando tira dois e bota um a rocha é elástica, e tenta subir, fiz os cálculos e isso subiu 20mm, se subisse 1mm já seria suficiente para acordar a falha. Você fez um buraco de 90m de diâmetro, aquela força que saiu dali quer subir, mas não pode porque tem o restante da rocha do lado. Agora aquela carga vai se ancorar no entorno e vai gerar tensão. Se analisarmos essas minas e o raio de atuação de força delas, conseguimos localizar exatamente a área de risco”, detalhou no início de março. O engenheiro afirma que aguarda a finalização dos estudos, prevista para junho deste ano para confirmar o estudo produzido por ele. “A minha tese é que o bairro está sofrendo as consequências dessa exploração, mas falta a CPRM provar. Eles têm 52 profissionais altamente competentes, com formação profunda, equipamentos, eu não acredito que eles vão sair diante de tudo isso que está sendo discutido. Com certeza eles vão chegar ao que está acontecendo exatamente lá embaixo, parecido com isso aqui eles vão chegar”, reforçou. Possibilidade de novo sismo não é descartada   A recomendação dada pelos órgãos de Defesa Civil foi a de que ao chover ao menos 30mm é preciso desocupar todo o bairro. Abel Galindo explica que esse alerta se deve ao fato de que com a chuva é esperado que o processo de rastejo do solo se intensifique e que as estruturas da superfície não suportem. “O problema é que se houver muita chuva vai haver lubrificação, essa água vai percorrer pelas fendas, passar pela falha geológica e pode haver um tranco maior, um escorregamento, acontecer outro sismo, ninguém sabe se maior ou menor. Pode ser maior. Aí ninguém sabe. Porque pode provocar o desabamento de várias minas. Porque na minha concepção aquele estrondo e o sismo ocorridos em março foram provocados pelo homem e foram desabamento de tetos de minas em Bebedouro e Mutange.” Na audiência pública da última quinta-feira (21) o diretor do Serviço Geológico do Brasil (CPRM) Thales Sampaio afirmou que o subsolo de trinta dias atrás não seria o mesmo de agora, o que significa que há um processo contínuo de movimentação nas camadas de solo. “Ele tem razão porque uma amiga minha do SOS Pinheiro não tinha rachaduras e ela mandou um áudio desesperada dizendo que a casa está parecendo rachaduras. E isso coincide com o que o Thales falou, que está sendo fissurado e o solo não é elástico. Ele está certo. O que eu afirmei na última entrevista de que poderia estar diminuindo isto pode estar ocorrendo mais distante, eu fechei umas fendas no Jardim Acácia há três semanas e estou indo para conferir se elas abriram. É isso que vou verificar. Eu acredito que a parte que está mais próximo da encosta podem estar começando a rachar, casas que não estavam começarem a fissurar. E essa área de cá pode estar estabilizando. A influência pode estar parando. É um processo muito difícil”, comenta Abel Galindo. Para Galindo, a audiência pública serviu para confirmar o que ele já havia defendendo. “Essa audiência foi muito importante porque está agora provado que a retirada do sal está provocando uma subsidência, uma descida do maciço. Essa é a grande informação, e mostra qual é a área que está descendo. Essa área que está mostrando hoje é a área realmente muito perigosa. Se houver uma catástrofe, vai descer essa área primeiro. Agora claro que ela puxa. Vai ter reflexos na parte rachada, nessas partes onde há rachaduras nos prédios, nas ruas. É justamente isso aí, está puxando, esticando, porque o solo, as rochas, elas estão interligadas. Então essa área que está descendo puxa o restante da rocha que está debaixo do Pinheiro. E o solo que está em cima, que é frágil, sofre uma tração”, afirma. Desocupação será definida em reuniões   Na audiência pública da última quinta-feira (21) as Defesas Civis Estadual e Municipal deixaram claro a necessidade de desocupação do bairro do Pinheiro. Questionada pela reportagem a Prefeitura de Maceió afirmou que o processo de desocupação do bairro será definido após reuniões com órgãos federais previstas para ocorrer na próxima semana. O que há de concreto é que as áreas já mapeadas pelo CPRM com classificação de risco serão desocupadas. “A Prefeitura de Maceió articulou reuniões na próxima semana em órgãos do Governo Federal, a exemplo dos ministérios de Minas e Energia e do Desenvolvimento Regional, para discutir os próximos passos do trabalho em atenção ao bairro Pinheiro. [A desocupação] será discutida em Brasília, na próxima semana, durante reuniões com a Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil. Os dois conjuntos residenciais [Divaldo Suruagy e Jardim Acácia] estão entre as áreas consideradas de risco, com base no mapeamento do Serviço Geológico do Brasil, e devem ser evacuados. Parte das unidades já foi desocupada a partir do cadastro realizado pela Defesa Civil e as que estão ocupadas deverão ser evacuadas a partir das próximas semanas”, garante a Secretaria de Comunicação de Maceió. O Diário Oficial da União de sexta-feira (22) trouxe a liberação de R$ 14 milhões em recursos para que a Prefeitura de Maceió atue de forma emergencial no bairro do Pinheiro. Segundo a Prefeitura, os recursos serão destinados para a remoção das regiões de risco. “Os recursos foram liberados pelo Ministério do Desenvolvimento Regional em atendimento à solicitação da Defesa Civil de Maceió protocolada no sistema do Governo Federal no dia 2 de março. Estes recursos foram solicitados pelo órgão municipal para incluir os moradores das áreas laranja e amarela no auxílio-moradia, permitindo, assim, a evacuação total das três áreas mapeadas pela CPRM como regiões de risco em decorrência das fissuras”, destaca.