Cidades

Pilhas e baterias: Onde descartar depois de descarregadas?

Existem locais adequados, porém são poucos e com divulgação muito pequena

Por Texto: Lucas França com Tribuna Independente 07/07/2018 11h59
Pilhas e baterias: Onde descartar depois de descarregadas?
Reprodução - Foto: Assessoria
As pilhas e baterias de uso doméstico apresentam um grande perigo quando descartadas incorretamente. Na composição desses objetos são encontrados metais pesados como cádmio, chumbo e mercúrio, que são extremamente perigosos à saúde humana e ao meio ambiente. Mas, tudo indica que muitos alagoanos não estão preocupados com o descarte correto. Os órgãos ambientais contam que há vários locais de coleta espalhados na capital e em cidades do interior e o que falta é consciência ambiental por parte da população. Por outro lado a falta de divulgação destes espaços influencia para que o descarte irregular aconteça. O Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA/AL) informa que tem uma parceria com uma empresa que recolhe esse tipo de lixo eletrônico, a Bio Digital, que periodicamente coleta esse tipo de resíduo que é deixado pela população em coletores que estão espalhados em diversos pontos de Maceió. Na sede do IMA, na Universidade Federal de Alagoas (Ufal),  e em uma rede de supermercado na Gruta de Lourdes e em outra rede em Arapiraca. A dona de casa Cícera Cavalcante disse que nunca ouviu falar em locais para o descarte correto. “Sei que em algumas universidades existem locais, mas divulgação para a população não lembro de ter visto. Acredito que falta isso”, disse a dona de casa. Mirella Cavalcante, bióloga e consultora ambiental do setor de Educação Ambiental do Instituto, explica ainda, que durante as ações do setor nas escolas e comunidades, a exemplo do projeto Coleta Certas, o tema sempre é abordado como forma de levar conscientização e orientação acerca da destinação correta desse tipo de resíduo. IBAMA O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) disse que os órgãos municipais e estaduais devem ter locais de coleta e realizar campanhas educando o cidadão a separar corretamente o lixo,  garantindo o licenciamento ambiental dos aterros sanitários. Mas, reafirma que os fabricantes tem a obrigação de recolher esses materiais. “A participação do comércio oferecendo locais apropriados para o descarte é fundamental. Vale lembrar que a legislação brasileira, por meio da resolução nº 257 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), determina que os fabricantes devem inserir, na rotulagem dos produtos, informações sobre o perigo do descarte incorreto das pilhas e baterias automotivas e de celular no lixo comum e desenvolver projetos para garantir o  retorno dos produtos após o uso pelo consumidor, de forma independente do serviço público de limpeza urbana”. Prefeitura informa que existem pontos específicos Em relação ao descarte na capital, a assessoria de comunicação da Superintendência de Limpeza Urbana de Maceió (Slum), disse que conta com 100% de cobertura da coleta domiciliar, mas existem alguns materiais que não devem ser misturados ao lixo comum. Esses resíduos são definidos como resíduos especiais pelo Código Municipal de Limpeza Urbana de Maceió de 1994, por conta do grau de agressão ao meio ambiente e dos riscos à saúde. O órgão informa que o descarte desses materiais deve ser feito em pontos específicos. Este procedimento faz parte da logística reversa, estabelecida pela Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), onde o recebimento do resíduo deve ser feito pelo fabricante ou comerciante. Sendo assim, cabe ao consumidor destiná-los adequadamente ao estabelecimento em que o material foi comprado. A Slum disse ainda que o aterro de Maceió, atualmente, não recebe os resíduos perigosos, não havendo células de disposição para os mesmos. O aterro recebe resíduos classe II (não perigosos), como os resíduos do lixo domiciliar. LEI O decreto 9.177, publicado em 23 de outubro de 2017 que regula o art. 33 da Lei 12.305, de 2 de agosto de 2010, institui a PNRS, e complementa os art. 16 e 17 do decreto 7.404, de  23 de Dezembro de 2010. O Decreto torna obrigatório à estruturação e implementação de sistemas de logística reversa por fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes, mesmo que não sejam signatários de acordo setorial. Segundo o gerente do setor de licenciamento do IMA, Ermi Ferrari, esse decreto veio para obrigar aqueles que não assinaram os acordos setoriais ou os termos de compromisso com a União. “Então, o IMA/AL controla o sistema da logística reversa através da concessão de autorizações e licenças, da fiscalização e monitoramento que a gente faz em campo e, também, a gente tem ações do setor de Educação Ambiental que auxilia a população na compreensão do tema”, comenta. Instituto do Meio Ambiente de Alagoas tem parceria com empresa que recolhe esse tipo de lixo eletrônico; a Bio Digital faz coleta periódica (Foto: Assessoria do Instituto do Meio Ambiente) Além dos locais de coleta citados pelo IMA, a Slum informa que alguns fabricantes de celulares recebem (bateria de celular) e o Banco Santander, loja C&A e a Qualitec recebem pilhas. Na Qualitec há um custo para a entrega. Outras informações pelos telefones 3313-8009/ 3032-3939. Descarte irregular do material pode trazer danos à saúde, diz médico O perigo no descarte das pilhas e baterias está no fato de que, se descartadas incorretamente, elas podem ser amassadas, ou estourarem, deixando vazar o líquido tóxico de seus interiores.  Assim expõem o solo, cursos d’água e até o ar, caso haja queima desses materiais, à contaminação por produtos tóxicos. Essas substâncias se acumulam na natureza e, por não serem biodegradável, não se decompõem e contaminam o solo se tornando um elemento extremamente perigoso à saúde humana. Dentre os males provocados pela contaminação com metais pesados está o câncer e mutações genéticas. O médico Luciano Timbó explica que a contaminação por esses tipos de substância são raras, mas caso aconteça em grande quantidade pode levar a morte. “A intoxicação aguda por chumbo é rara, mas pode ocorrer morte em 1 a 2 dias após a ingestão de 10 a 30 g de chumbo. Uma concentração mais reduzida de chumbo no sangue, que se mantém por períodos mais prolongados, por vezes, causa déficit intelectual em longo prazo. Quando o chumbo é ingerido em grandes quantidades, pode haver dor abdominal, anemia hemolítica, hepatite e encefalopatia. Já o principal órgão-alvo que o mercúrio atinge é o cérebro, mas também causa danos renais, imunológicos, endócrinos, musculares, gastrointestinais e cutâneos. Médico Luciano Timbó explica que contaminação por esses tipos de substância são raras, mas, caso aconteça em grande quantidade, pode levar à morte (Foto: Cortesia) Cerca de 80% do vapor de mercúrio metálico é absorvido pelos pulmões através da inalação. A absorção gastrointestinal do mercúrio metálico e desprezível e considerada não tóxica em uma ingestão acidental de pequeno volume (mercúrio de termômetros). Os sais de mercúrio inorgânico podem ser absorvidos de 7 a 10% quando ingeridos, e somente 1% após contato com a pele intacta. O metilmercúrio é bem absorvido pelo intestino (90%). Intoxicação por Cádmio: causa dor de estômago, vômitos e diarreia. Ao longo do tempo, a ingestão ou inalação deste metal pesado pode causar doenças nos rins, problemas nos pulmões e enfraquecimento dos ossos”, ressalta Timbó. AMBIENTALISTA O ambientalista Alder Flores, conta que a toxicidade causada pelos metais encontrados em pilhas e baterias são bioacumulativos e as reações podem ocorrer ao longo do tempo. “Quando estes resíduos são dispostos de maneira incorreta causam sérios danos ao meio ambiente principalmente no solo, nas águas superficiais, podendo atingir as águas subterrâneas. Estes resíduos só devem ser dispostos em aterro sanitário que disponha de célula para recebimento de resíduos perigosos. No entanto estás célula não trata estes resíduos apenas armazena de forma adequada. O correto é destinar estes resíduos para empresas para o seu reaproveitamento. No entanto isto ainda é muito incipiente o que vemos é o seu descarte em lixões, aterros sanitários”, comenta. Alder disse ainda que as campanhas educativas sobre este tema é inexistente. “No mercado já existem tipos de pilhas e baterias que não contém metais pesados, mas ainda são poucas. A população precisa se conscientizar e descartar estes resíduos de forma correta, nos pontos de entrega localizados em alguns estabelecimentos ou devolver a qualquer revendedor para que este armazene corretamente e devolva ao fabricante e os órgãos também devem fiscalizar está ação. Será que fazem”, questiona. Estudante acumula para descarte correto Consciente dos perigos causados pelo descarte irregular, o estudante Gustavo Lopes, tem o hábito de acumular as pilhas e baterias em desuso para descartá-las corretamente. No entanto, ele disse que se depara com a dificuldade de encontrar esses locais. “Nunca vi aqui em Maceió nenhum ponto de entrega. Eu até já pesquisei locais e não achei. Junto muitas pilhas para descartar em um local adequado por que sei dos danos causados ao meio ambiente. Tenho consciência que é errado jogar em qualquer lugar. Mas, confesso que existe uma dificuldade para isso”, expõe o estudante. Gustavo: “Junto muitas pilhas para descartar em um local adequado, mas confesso que existe uma dificuldade para isso” (Foto: Edilson Omena) O estudante disse que quando estava em faculdade da parte baixa descartava as pilhas em coletores que existe no local. “Como eu descia para estudar já levava no bolso e descartava por lá. Inclusive recolhia entre conhecidos para descartar lá”, comenta. Mas, atualmente Gustavo não sabe o que fazer com as pilhas que está acumulando por que não encontra local adequado. “Não tenho muita disponibilidade em está descendo para a faculdade, então acabo jogando no lixo convencional. Seria ideal que nos bairros tivessem pontos de coleta para que as pessoas não joguem no lixo convencional. Às vezes estou com certa quantidade que quando vejo já estão enferrujadas aí acabo descartando no lixo de casa. Se tivesse locais mais próximos até eu mesmo pegava com os vizinhos e iria levar”, relata Gustavo acrescentando que deveria haver mais campanhas de incentivo para o descarte  correto para que não fossem jogadas no meio ambiente.