Trinta e oito municípios alagoanos enfrentam aumento expressivo no número de casos de diarreia. O estado registrou aumento de 29,12% nos casos da doença nos cinco primeiros meses deste ano.  Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) diz que irá monitorar evolução dos números, mas não descarta aumento ainda maior por conta das recentes chuvas.

Ao todo, foram 53.700 casos nos cinco primeiros meses de 2017 enquanto que no mesmo período do ano passado foram 41.589 notificações. Segundo a Sesau uma investigação está em andamento para confirmar se pode ser considerado ou não surto nos trinta e oito municípios.

O órgão explicou também que o aumento de casos concentra-se em municípios do Agreste e Sertão do estado que enfrentam problemas de escassez hídrica desde o ano passado, o que pode explicar a evolução do número.

“Nesses lugares as pessoas têm dificuldades em armazenar água, armazenam de maneira inapropriada. Mas o número ainda é considerado dentro da normalidade para o período”, afirma a Sesau por meio de assessoria.

As cidades de Mata Grande, Água Branca, Delmiro Gouveia, Olho D’Água do Casado, Canapi, Piranhas, Maravilha, Poço das Trincheiras, Senador Rui Palmeira, São José da Tapera, Pão de Açúcar, Palestina, Olho D’Água das Flores, Santana do Ipanema, Dois Riachos, Batalha, Jaramataia, Major Isidoro, Cacimbinhas, Minador do Negrão, Craíbas, Girau do Ponciano, Traipu, São Braz, Porto Real do Colégio, Feira Grande, Arapiraca, Igaci, Palmeira dos Índios, Quebrangulo, Belém, Maribondo, Cajueiro, Pilar, Marechal Deodoro, União dos Palmares, São José da Laje e Limoeiro de Anadia.

Dessas cidades, apenas Marechal Deodoro, Cajueiro, Pilar, Quebrangulo e União dos Palmares foram afetadas diretamente pelas chuvas e estão na lista dos 27 municípios em emergência. Maceió apresentou redução de 48,39% no número de casos. De janeiro a maio de 2017 foram 4.763 casos e no mesmo período de 2016, foram 7.068.

Devido a inundações, registros podem aumentar nos próximos dias

Com o intenso volume de chuvas no estado, o órgão permanece em alerta. A possibilidade de aumento no número de casos de diarreia e outras doenças como a leptospirose, dengue, zika e chikungunya é grande.

“Geralmente demora um pouco para aparecerem os novos casos, nesse período de chuvas, inverno, já há um aumento, porque muitas pessoas têm contato com água infectada. Nas próximas semanas, se houver aumento considerável é que vai estar relacionado diretamente com essas chuvas. A partir de agora, a Sesau fica em alerta porque pode haver um aumento maior nos casos”, diz o órgão.

Para o infectologista do Hospital de Campanha, Tenente Lucas Cronemberger, a tendência é que novos casos surjam, inclusive de outras doenças. A preocupação, aponta o médico, é principalmente para leptospirose.

“Geralmente nesses períodos de calamidade pós enchente ocorre uma exacerbação [aumento] nos casos de diarreia, mas de forma mais expressiva a leptospirose, que tem um período de incubação de 5 a 14 dias. Há um salto desta doença porque ela não age no período da cheia. A proliferação ocorre depois que as águas começam a baixar. Aí começa a contaminação e o aparecimento dos sintomas”, afirma.

O Hospital, instalado no Polo Multifabril de Marechal Deodoro, será referência no atendimento das doenças infectocontagiosas dos municípios afetados pelas enchentes durante os 30 dias que ficará em Alagoas.

Segundo o Tenente Cronemberger, além dessas doenças outros quadros clínicos decorrentes dos desastres têm aparecido na unidade móvel de saúde.

“São muitos problemas ortopédicos de pessoas que se dispuseram a ajudar outras, a mover idosos, ou móveis. Muitos transtornos de ansiedade por conta das perdas, desestabilização de diabetes, de pressão arterial”, detalha o infectologista.