Cidades
Reciclando com arte
Apoiado pelo Governo de Alagoas, projeto Relix propõe alertar sobre perigos constantes da destinação inadequada de resíduos e mudança na vida dos catadores do Estado
A profissão é uma realidade e todo mundo conhece. Os catadores de lixo são essenciais no processo de idealização de um planeta sustentável. Mas infelizmente eles ainda não são tratados com tamanha importância. Sendo assim, a mudança desse pensamento requer tempo e, por isso, a Secretaria de Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (Semarh) está na linha de frente para apoiar causas que incentivem a sustentabilidade e evitem a geração exagera-da de resíduos sólidos. Uma dessas iniciati-vas é o Projeto Relix.
A proposta do projeto é alertar sobre perigos constantes da destinação inadequada de resíduos em Alagoas, incentivando a transformação do lixo por meio de arte. Para ampliar esta discussão junto aos catadores, serão doadas bicicletas denominadas de ciclolix que vão contribuir com os trabalhadores na coleta adequada de resíduos sólidos. O veículo tem capacidade para carregar até 500kg e vai mudar a vida de quem tira do lixo o sustento de suas famílias.
Maria Patrícia de Lima é um exemplo entre os catadores alagoanos, que obtêm, diariamente, uma renda a partir do lixo das ruas da cidade. Todos os dias, há quatro anos, ela circunda as ruas do Complexo Habitacional Benedito Bentes. O trabalho árduo e o percurso em ritmo pausado mantêm a atenção da catadora voltada aos cantos das calçadas, em busca das lixeiras e meios-fios. Desprezada pelos olhares da maioria, é da rua que ela consegue o dinheiro para sobreviver, com a catação de latinhas, garrafas PET, vidros e outros resíduos que podem ser utilizados para reciclagem e, consequentemente, para venda.
Aos 37 anos, a pele marcada pelo sol forte não esconde o esforço exigido pelo trabalho. Maria Patrícia aparenta ter mais idade. Atualmente, além das ruas, ela trabalha na parte interna da Cooperativa dos Catadores de Alagoas (Cooprel) - única que faz coleta seletiva de resíduos no Estado. Sendo dia após dia exposta às alternâncias do tempo, aos riscos de acidente durante o recolhimento de material, a mulher se orgulha do trabalho e diz não sentir vergonha do que faz para sus-tentar a família.
Ela acorda às 6h20 da manhã e inicia o dia coordenando e realizando atividades dentro da cooperativa, descarregando caminhão, separando os resíduos, além de realizar o desmanche dos materiais com a prensa. O lucro mensal da catadora varia entre R$ 400 e R$ 500. “Fazemos de porta a porta, não têm grandes geradores para doar, por isso diariamente temos que estar nas ruas. Nós dependemos das donas de casa para termos o nosso dinheiro. Às vezes as empresas nos chamam”, justifica.
Mãe de três filhos, Patrícia sonha com um futuro diferente para eles. A mais velha, Bárbara de Lima, trabalha com a mãe na coleta de resíduos, mas ela garante que “fica na cola” para que a filha opte por outro caminho. “Eu quero que ela saia daqui, porque não quero esse futuro para ela”, afirma. Emocionada, ela relata que todos os dias ainda precisa conviver com o preconceito por trabalhar com lixo.
Mas não demora muito e o sentimento muda. Orgulhosa, ela frisa a dignidade do trabalho que realiza. “Não estamos mexendo no que é de ninguém e tampouco estou fazendo nada errado e ilegal. Mas para muita gente ainda é humilhante. Sofremos muito com isso”, diz. Além disso, os catadores sofrem com os assaltos. Na cooperativa, os ladrões vão em busca de cobre e latas para vender. “Já houve casos que os bandidos roubaram ferramentas, máquinas de corte de cobre e alguns tonéis. Além disso, um computador. Por isso, tivemos que mexer nas coisas aqui. Colocamos vários cadeados para tentar mudar essa realidade de insegurança”, expõe Maria Patrícia.
Patrícia afirma que a chegada da ciclolix vai garantir dignidade aos catadores. “O trabalho aqui é feito com o nosso corpo. Precisamos carregar as carrocinhas nas ruas, com as mãos, e elas são pesadas. E o pior de tudo: as pessoas nos tratam como indigentes. Com a ciclolix, além de facilitar nosso trabalho, porque nós vamos carregar menos peso, quando tiver coletas mais próximas, iremos com nossas ciclolix”, enfatizou a catadora.
A cooperativa conta com 23 catadores e vai receber quatro ciclolix, que serão divididas por escala entre os trabalhadores do local. “Já estamos numa guerra, todo mundo quer a bicicleta. E eu já disse que se houver alguma quebra, a pessoa que quebrou vai pagar o conserto, porque agora todo mundo vai querer. Novidade todo mundo quer! Vai nos ajudar muito”, completa Patrícia.
O Relix iniciou suas ações em setembro de 2014, em Pernambuco, em sintonia com os objetivos do Plano Nacional de Resíduos Sólidos e teve uma larga repercussão nas mídias regional e nacional. Em Alagoas o projeto prevê uma intensa lista de atividades, envolvendo apresentações teatrais em escolas e indústrias, doação de lixeiras seletivas a escolas e de bicicletas coletoras a associações e cooperativas de catadores, exposição fotográfica, lançamento de história em quadrinhos, além de intervenções em espaços públicos, com o intuito de criar consciência da necessidade de não apenas reciclar o lixo, mas de evitá-lo o máximo possível.
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