Cidades
Risco real: Alagoas registra primeira suspeita de febre amarela, diz MS
Secretaria de Saúde reconheceu possibilidade de contágio, mas negou investigação de caso
O Ministério da Saúde (MS) informou por meio do último relatório divulgado nesta terça-feira (7), que Alagoas investiga pelo menos até o momento, um caso de febre amarela, mas não revelou o sexo, idade e nem a unidade de saúde em que o paciente se encontra. A Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) reconheceu a possibilidade de contágio, chegou a dizer que está em ‘vigilância ativa’ contra a doença, mas negou à reportagem da Tribuna Independente, a hipótese da primeira suspeita ter ocorrido no Estado.
Até ontem, foram confirmados 195 casos da doença em todo o país. Ao todo, foram registrados 1.048 casos suspeitos, sendo que 777 permanecem em investigação e 76 foram descartados. Dos 163 óbitos notificados, 69 foram confirmados, 91 ainda são investigados e 3 foram descartados. Os estados de Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo, Bahia e Tocantins continuam com casos investigados e/ou confirmados.
Para Luciana Pacheco, infectologista do Hospital Helvio Auto, o risco de contágio por febre amarela em Alagoas é real. Ela explica que apesar de o surto atual vivido no País ser silvestre, causado por outros tipos de mosquitos, a médica garante que há preocupação com a possibilidade de transmissão por outro vetor, bem mais comum, o aedes aegypti.
“A preocupação sempre existe. Daí a necessidade da vigilância ativa. A circulação de pessoas entre os estados e as regiões é muito intensa, por isso a necessidade da atenção redobrada. Em Alagoas a Sesau adota as diretrizes determinadas pelo Ministério, segundo as quais não evidência de circulação do vírus nos municípios do Estado, com a investigação e adoção de medidas de precaução”, afirmou o órgão por meio da assesria.
Por ser uma área reconhecidamente turística, Alagoas recebe visitantes de todas as partes do país. A médica alerta que a vigilância deve ser prioridade, ainda que o estado não esteja classificado como zona de risco.
“Alagoas não está incluída na região de risco pelo Ministério da Saúde, por se tratar de uma região litorânea, mas não podemos fechar os olhos. Eu vejo com preocupação porque se o mosquito transmissor existe e o nosso estado tem vocação turística, muitas pessoas vêm para cá de regiões onde tem a doença de forma intensa”, explicou Luciana Pacheco.
EspecialistaCasos registrados no País são de forma silvestre da doença
A febre amarela é uma doença grave, com letalidade de 50%. Os pacientes infectados podem apresentar febre, dores musculares, apatia, cansaço e dor de cabeça. O quadro pode evoluir para a forma hepática com complicações renais que causam olhos e pele amarelados, urina escura. No estágio mais grave pode apresentar a forma hemorrágica e óbito.
Ainda segundo a infectologista, a doença que está sendo reportada agora é silvestre, isto é, proveniente de áreas rurais e de mata, transmitida pelos mosquitos sabethes e haemagogus. A contaminação por aedes aegypti, mesmo vetor da dengue zika e chikungunya, é possível pela grande proporção deste mosquito.
“O que o Brasil está notificando são casos de febre amarela onde difere o transmissor. Mas como nós temos o mosquito aedes aegypti em grande proporção, esse risco existe. Caso o mosquito aedes venha a picar alguém infectado pela febre amarela silvestre, vai transmitir o vírus de forma urbana”, ressalta.
Outro complicador segundo Luciana é a forma assintomática da febre amarela. Em parte dos casos, os pacientes não reportam dores ou febre, o que dificulta o diagnóstico e cria mais uma possibilidade de contágio.
A orientação para a população no momento é a de vacinação para pessoas que irão se deslocar para as áreas consideradas “afetadas” ou “ampliadas”, ou seja, que tenha casos notificados, com suspeita ou risco de contágio.
“A forma de conter é vacinando. A gente há 30 anos luta contra a dengue e não conseguiu controlar, aí chegaram outras doenças - zika e a chikungunya. Eu não vejo muita perspectiva de controlar o mosquito. Então, a forma de prevenção é a vacina”, aponta Luciana Pacheco.
SurtoForam 65 mortes desde dezembro
Segundo informações do Ministério da Saúde a febre amarela urbana foi reportada pela primeira vez em Pernambuco em 1685. Após um longo período sem ser reportada, cerca de 150 anos, registrou casos urbanos até 1942. No entanto, a intensa disseminação do mosquito aedes aegypti a partir da década de 1970 reacendeu a preocupação dos especialistas em torno da doença.
Desde o início do último surto da doença na forma silvestre, em dezembro do ano passado, foram confirmados 180 casos com 65 mortes no Brasil. Um total de 1.006 foram notificados. Os estados de Minas Gerais, Espírito Santo e São Paulo, lideram o ranking, com destaque para Minas com 158 confirmações, outras 873 suspeitas e 40 mortes.
No Rio de Janeiro, barreiras contra a doença estão sendo desenvolvidas com vacinação à população em regiões com alto risco de contágio.
Também há registros de febre amarela em primatas não humanos. Foram 259 casos confirmados em regiões de fronteira e nos estados do Tocantins, Goiás, Minas Gerais, Bahia, Espirito Santo, São Paulo, Rio Grande do Norte e Distrito Federal.
Acerca disso, a Sesau informou que os moradores das regiões rurais devem ficar atentos ao aparecimento de primatas não humanos mortos.
“Para os moradores da área rural é importante informar à Secretaria Municipal de Saúde (vigilância) a morte de primata não humano (macacos, símios e saguis)”.
A recomendação é tomar a vacina dez dias antes da viagem, apresentando, nessas situações, uma comprovação de viagem para a localidade de risco.
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