Cidades

Observação espacial à distância ganha destaque internacional

Professor Alejandro Frery, da Ufal, especialista em sensoriamento remoto quer trazer a técnica para Alagoas

28/01/2017 09h49
Observação espacial à distância ganha destaque internacional
Reprodução - Foto: Assessoria

Alejandro Frery que é professor da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), doutor em Computação Aplicada pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), e possui pós-doutorado pelo Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada, IMPA, na área de Ciência Exatas e da Terra, define o que faz como sendo uma ponte entre a estatística matemática, a teoria da informação, e a computação, visando a criação de ferramentas que subsidiem a análise de dados.

Em particular, trabalha majoritariamente (mas não exclusivamente) com imagens de sensoriamento remoto, que capta a informação de um alvo ou cena que lhe interesse, sem que entre em contato com ela. Ele deu um exemplo prático, na linguagem cotidiana do que é sensoriamento remoto. "É como tirar a foto de alguém ou de algo sem tocar. Ao contrário de quando se mede a temperatura de um paciente".

Num sentido mais restrito, a definição do que é sensoriamento remoto, de acordo com o professor, se entende como a observação da terra e do espaço, isto é, uma observação planetária de larga escala a certa distância. “Fazemos sensoriamento remoto da superfície terrestre, do mar, da lua, dos asteroides, de Vênus, entre outros”.

Alejandro explica como funciona técnica do sensoriamento remoto (Foto: Evellyn Pimentel)

Para afunilar a pesquisa, Alejandro Frery contou uma história sobre uma sonda chamada ‘venera’ que observou o planeta Vênus. "O grande problema deste planeta, é que ele está coberto por nuvens extremamente densas. Então como fazer o mapeamento de um planeta desta forma?". Ele explica: “Pode ser feito com várias técnicas e uma delas é a observação com ondas de rádio emitidas, para no retorno ser possível inferir o terreno. Isso se chama sensoriamento remoto, e é esta área em que eu atuo. Este é o trabalho que ocupo 80% do tempo”.

MICRO-ONDAS

O pesquisador deu outro exemplo de sensoriamento remoto e citou o Reino Unido quando estava sendo feito um calendário; porém, por lá, ele disse que tem ilhas ao norte que há quatro anos não via sol, por isso, o satélite passava, mas só registrava nuvens.

Outro exemplo foi a Amazônia, da qual, existe uma área que passa 80% do ano coberta por nuvens, – então como observar a longa distância um ponto permanentemente ocupado por nuvens? - “Através do sensoriamento remoto que em virtude das micro-ondas atravessam coberturas de nuvens, chuvas, plumas e diversas condições atmosféricas adversas”. “Mas nós não usamos somente micro-ondas, porque elas são difíceis de interpretar e têm um tipo de ruído que atrapalha”, salientou.

O sensoriamento remoto é semelhante ao Google Maps só que outro olho. “No Google Maps se ver como se veria numa câmera fotográfica, o SAR ver outra coisa, porque ver na frequência de micro-ondas, observa-se que no Google Maps aparece nuvens, mas para o SAR não aparece nada, porque para o radar a nuvem é transparente, o equipamento é extremamente sensível a área urbana. O Google Maps é óptico”, explicou.

Pesquisador mostra região da Alemanha vista pelo Gooole Maps. (Fotos: Evellyn Pimentel)

Agora, a mesma imagem por sensoriamento remoto, completamente diferente. 

PRESTÍGIO 

Neste sentido, a pesquisa do professor Alejandro tem se destacado internacionalmente por ele desenvolver técnicas para redução de ruído, para classificação, e para a extração de informação de imagens e de sinais. Os resultados da pesquisa lhe renderam livros, têm sido publicados em alguns dos melhores periódicos científicos da área, são discutidos em importantes conferências internacionais, e o cientista é regularmente convidado para apresentá-los pelo mundo afora.

Apenas para mencionar suas viagens de 2016, Alejandro Frery esteve em quatro cidades da China, em Kampala (Uganda), em Dubai, em Talca (Chile), Bahía Blanca e Buenos Aires (Argentina), San Diego (Estados Unidos), além de meia dúzia de apresentações em diversos locais do Brasil. Não é pouco coisa não.

“O que fazemos é dar aos analistas ferramentas para que eles possam entender as imagens. É uma tecnologia de imageamento espacial por radar sintético chamado SAR (Synthetic Aperture Radar) poucos países dispõem desta tecnologia, no Brasil, há apenas uma empresa, da qual tenho cooperação. Essa tecnologia é de suma importância, em território brasileiro quem faz uso é o Ministério da Defesa, sobretudo por conta das nuvens na Amazônia para a segurança territorial, lá não dar para esperar para que se dissipem as nuvens e faça um dia bonito para saber o que está acontecendo”, revelou.

Sensoriamento feito pelo Ministério da Defesa, sobretudo na Amazônia, área extensa e vulnerável

Outro exemplo dado foi a importância do sensoriamento remoto de imagem em decorrência de alagamentos e terremotos. Este tipo de tecnologia, segundo o pesquisador, permite que um satélite voe a 400 quilômetros de altura, já o satélite SAR é capaz a 400 km de altura detectar mudanças de altitude do terreno na ordem de centímetros, enquanto um avião voa a cinco, mil metros de altura. A elevação é imensuravelmente superior de um satélite SAR.

APROXIMAR

O professor Alejandro Frery disse que para Alagoas ainda não teve demanda, mas considerou um caso típico de análise por meio de sensoriamento remoto as enchentes que atingiram quase 20 cidades no Estado, há pouco mais de seis anos. “O sensoriamento mapearia o estrago perfeitamente, o tipo do sensor capta e faz análise volumétrica. Estamos tentando fazer uma cooperação para trazer esta tecnologia mais para perto”, destacou.

A respeito dos lixões existentes em Alagoas, o professor colocou que teria bagagem suficiente para contribuir no sentido de acompanhamento e mapeamento destes depósitos de resíduos e entulhos a céu aberto. “Lixão é sempre uma estrutura volumétrica, então poderia fazer um modelo tridimensional dessa região, e com o tempo poderia ser acompanhado, suas deformações”.

Técnica facilitaria saber sobre avanço do mar

Serviria também para estudos costeiros para saber ao longo do tempo, por exemplo, como as ondas no litoral alagoano se encontram, quanto avançam, e se estão no padrão. “Este tipo de sensoriamento é muito usado para detectar mudanças, por exemplo, de uma mancha urbana, para cobrar imposto para saber se no local foi construída uma casa, entre outros”.

Atualmente o pesquisador também é pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação (Propep) da Ufal, e orienta três teses de doutorado na Argentina a respeito do tema. Alejandro Frery conversou com a reportagem esta semana, mas já estava de malas prontas para passar dois meses na China; o professor foi novamente chamado pela Academy Of Sciences, o maior órgão de pesquisa da China, com um fundo de pesquisa bem seletivo, para ministrar palestras sobre o assunto.

O especialista vai passar 60 dias no laboratório NERI - Northwest Institute of Ecoenvironment and Resources, da CAS - Chinese Academy of Sciences em Lanzhou, província de Gansu. O projeto que ele vai desenvolver chama-se: "Aplicações da Teoria e da Geometria da Informação a Dados de Sensoriamento Remoto"

Veja abaixo, como curiosidade, as demais viagens confirmadas: