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'Me agarrei à boia como se tivesse me agarrando em Deus', diz mulher arremessada de montanha-russa em parque aquático recém-inaugurado

Jaqueline Nascimento conta ter sido arremessada da boia que dividia com um rapaz. Com duas novas vítimas, sobe para seis número de feridos em acidentes no Acquaventura Carneiros

Por G1 06/05/2025 14h55
'Me agarrei à boia como se tivesse me agarrando em Deus', diz mulher arremessada de montanha-russa em parque aquático recém-inaugurado
Jaqueline machucou o rosto na montanha-russa aquática do parque Acquaventura Carneiros - Foto: Montagem/g1

A professora Jaqueline Nascimento Silva foi mais uma cliente que viveu momentos de pânico ao sofrer um acidente no Acquaventura Carneiros, parque aquático recém-inaugurado em Tamandaré, no Litoral Sul de Pernambuco (veja vídeo acima). Em entrevista ao g1, ela contou que foi arremessada da boia que dividia com um rapaz, batendo o rosto na grade de proteção do brinquedo em que os dois estavam.

"Eu gritava, escutava o menino gritando também. Me agarrei àquela boia como se estivesse me agarrando em Deus. Porque ali foi um sentimento que... Achei que ia morrer ali. Não sabia o que estava acontecendo", disse.

Além de Jaqueline e do rapaz que estava com ela, houve, ao menos, outras quatro vítimas de acidentes no local, sendo dois casais. Duas mulheres fraturaram as clavículas, enquanto o marido de uma delas fissurou três costelas.

Jaqueline compartilhou nas redes sociais um vídeo falando sobre o acidente, que aconteceu na manhã da quinta-feira (1º), apenas seis dias após a inauguração do parque, em 25 de abril.

A professora, que mora em Barreiros, cidade vizinha de Tamandaré, disse que chegou por volta das 9h, com o neto do marido, de 11 anos.

O acidente foi no brinquedo Iakataka. A atração, formada por vários tobogãs com muitas curvas, é conhecida como a montanha-russa aquática do parque e foi a primeira à qual a professora se dirigiu depois que chegou ao Acquaventura.

A criança que estava com ela não entrou no equipamento, que é proibido para menores de 12 anos.

Segundo Jaqueline, como o menino não podia usar o brinquedo, ela acabou dividindo uma boia com um rapaz, que estava sozinho. Eles não se conheciam.

"A moça nos pesou. Eu estava pesando 82 quilos e o rapaz, 65 [...]. Ela nos informou que, por eu ser mais pesada, teria que ir atrás. Ele teria que ir na frente. As minhas pernas ficariam abaixo do braço dele e, em hipótese alguma, ele poderia baixar a perna. E a gente não poderia largar a boia em momento algum", afirmou.

Jaqueline relatou que, ao baterem na grade, as vítimas foram lançadas de volta com a boia para o tobogã. Segundo a professora, eles entraram num tubo fechado e, logo em seguida, a boia virou.

"Ela derrubou a gente de lado. Do nada, ela virou. [...] No momento, a gente não se feriu, senti o impacto da gente caindo com ela. Ali já sentia muito sangue na minha boca, meu rosto todo ardendo já. Eu, desesperada, e o rapaz, tentando me acalmar. A gente ficou um tempo dentro do tubo fechado e eu conseguia ouvir as vozes do salva-vidas", contou.

Eles ficaram alguns minutos se segurando, com a boia, no tobogã para não serem empurrados pela água, que estava com uma vazão muito forte. Depois de alguns minutos, o rapaz — que, de acordo com Jaqueline, não tinha machucados aparentes — convenceu a professora a sentar de novo na boia e descer para fora do brinquedo.

Jaqueline, que usa aparelho nos dentes, ficou com o rosto muito machucado. Ela foi socorrida pela equipe médica do parque e levada ao hospital de Tamandaré.

Depois de passar uma hora em observação, foi liberada. Enquanto a mulher era socorrida, o marido da vítima foi chamado pela administração do estabelecimento e buscou o menino.

"Além das lesões que tive no rosto, o impacto da grade arrasou os meus lábios pelo lado de fora. E o aparelho rasgou os meus lábios por dentro, as minhas bochechas, o ferro saiu do lugar. Fui à dentista porque estava sentindo muitas dores nas raízes dos dentes. Meus dentes da frente ficaram dormentes. Não estava conseguindo beber água, comer direito", informou.

Outras quatro vítimas


Pelo menos mais dois casais se machucaram no Acquaventura Carneiros nos últimos dias. Duas mulheres fraturaram as clavículas e o marido de uma delas fissurou três costelas. Os acidentes aconteceram no último sábado (3).

Em entrevista ao g1, o advogado Fernando Araújo contou que fissurou três costelas e sua esposa, Luanna Cavalcanti, fraturou a clavícula no brinquedo Canoa do Muxima. O casal, que vive no Recife, conheceu Mariana Maranhão e Lucas Alves, do Cabo de Santo Agostinho, enquanto recebiam os primeiros socorros no parque. Assim como Luanna, Maryana também fraturou a clavícula.

Segundo Fernando, ele e Luanna foram arremessados para fora da boia enquanto desciam pelo toboágua. Ele acredita que o fluxo de água do brinquedo estava mais forte do que o adequado, arrancando a boia do casal.

Maryana e Lucas aguardavam na fila quando o primeiro casal se acidentou e se machucaram de forma semelhante, de acordo com Fernando. O advogado também representa Maryana e Lucas judicialmente.

Por conta da dimensão dos ferimentos, Maryana Maranhão precisou ser transferida para o Hospital Dom Helder Câmara para passar por um procedimento cirúrgico. De acordo com Fernando, a cirurgia aconteceu na manhã desta segunda-feira (5).

Ainda segundo Fernando Araújo, a montanha-russa aquática na qual Jaqueline se machucou na quinta-feira (1º) estava interditada no sábado (3).

Acquaventura Carneiros foi inaugurado no dia 25 de abril, em Tamandaré — Foto: TV Globo/Reprodução



O que diz o Acquaventura


O g1 procurou o parque Acquaventura Carneiros para obter detalhes sobre o funcionamento dos brinquedos e sobre a segurança deles. Foi questionado ao parque:

Quantos acidentes foram registrados no Acquaventura Carneiros da abertura até o momento?
Se o parque conta com equipe médica de plantão?
Se brinquedos foram testados antes da abertura e, caso sim, como funcionam os testes?
Se o Acquaventura já identificou qual problema ocasionou os acidentes e, caso sim, se foram corrigidos?
Se será tomada alguma medida para que não aconteçam novos acidentes?

Em nota, o Acquaventura afirmou que “todas atrações do parque são devidamente certificadas e passaram por centenas de testes técnicos, inclusive pela própria equipe, obedecendo aos mais rígidos controles de qualidade internacionais”, mas não detalhou como os testes são realizados, nem quando foram avaliados pela última vez.

As demais perguntas não foram respondidas até a última atualização desta reportagem.