Brasil

PF e Conselho de Saúde viajam para comunidade onde menina ianomâmi foi estuprada e morta por garimpeiros

Agentes embarcaram em um avião da FAB na manhã desta quarta-feira (27) com destino à comunidade Aracaçá, na Terra Yanomami . Viagem até a região deve durar cerca de 1h40.

Por G1 27/04/2022 10h40
PF e Conselho de Saúde viajam para comunidade onde menina ianomâmi foi estuprada e morta por garimpeiros
Polícia Federal em missão para a comundiade onde menina foi estuprada e morta - Foto: Condisi-YY/Divulgação

A Polícia Federal e o presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye'kwana (Condisi-YY), Júnior Hekurari Yanomami, viajaram na manhã desta quarta-feira (27) até a comunidade Aracaçá, onde uma menina ianomâmi, de 12 anos, foi morta e estuprada por garimpeiros, para apurar de perto a denúncia feita por moradores da região.

O Condisi-YY planeja trazer para a capital Boa Vista o corpo da menina para que seja feita autópsia no Instituto Médico Legal (IML).

Além da morte dela, há ainda o registro de uma criança, de cerca de 3 anos, que caiu do barco e sumiu no rio Uraricorea quando a mãe tentava salvar a menina do ataque dos invasores.

A comitiva tem, ainda, servidores da Fundação Nacional do Índio (Funai) e do Ministério Público Federal (MPF). A comunidade Aracaçá, onde a menina morava, fica na região de Waikás, no município de Amajari, ao Norte do estado.

A viagem é feita num helicóptero modelo H-60 Black Hawk da Força Aérea Brasileira (FAB). Hekurari informou que o voo deve durar cerca de 1h40. Eles decolaram da capital por volta de 8h15 (9h15 de Brasília).

A Terra Yanomami, a maior reserva indígena do Brasil, só pode ser acessada por aeronaves ou barcos. Por isso, as fortes chuvas dessa terça-feira (26) impediram a ida até a região.

O acesso à região de Waikás demora cerca de 1h15 de voo saindo de Boa Vista. Para chegar até a comunidade Aracaçá, onde a menina foi estuprada e morreu, são mais 30 minutos de helicóptero ou 5 horas de barco pelo rio Uraricoera. A população da região é 198 indígenas, segundo o Condisi-YY.

Morte e estupro


A morte da menina ianomâmi após o estupro foi divulgada na noite de segunda-feira (25) pelo presidente do Condisi-YY, Júnior Hekurari Yanomami.

Em um vídeo divulgado nas redes sociais (assista abaixo), Hekurari afirma que, além da morte da menina, uma outra criança ianomâmi desapareceu após cair no rio Uraricoera, que margeia a região.

Na região de Waikás vivem 198 indígenas divididos entre as comunidades Kuratanha, Waikás e Aracaçá, onde a menina vivia, segundo o Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye'kwana (Condisi-YY).

O acesso à região demora cerca de 1h15 de voo saindo de Boa Vista. Mas, para chegar até a comunidade Aracaçá, são mais 20 minutos de helicóptero ou cinco horas de barco pelo rio Uraricoera.

Região de Waikás

A região de Waikás, onde fica a comunidade Aracaçá, foi a que teve o maior avanço de exploração de garimpeiros, de acordo com o relatório "Yanomami sob ataque", divulgado pela Hutukara Associação Yanomami (HAY). Lá, a devastação foi 296,18 hectares -- 25% em um ano.

"Quase a metade da área degradada está concentrada em Waikás", cita o relatório.

A região ficou à frente de Homoxi (253,31), Kayanau (178,64) e Xitei (124,84). Com exceção das regiões Surucucus, Missão Catrimani e Uraricoera, todas as áreas tiveram um crescimento de 2020 até o fim de 2021.

Quase metade das áreas afetadas por garimpos estão concentradas na região Waikás, no rio Uraricoera, seguidas de Kayanau, localizada na confluência dos rios Couto Magalhães e Mucajaí, com mais de 20% e Homoxi, na fronteira do Brasil com a Venezuela, com 12%.

Terra Yanomami


Maior reserva indígena do Brasil, a Terra Indígena Yanomami tem quase 10 milhões de hectares entre os estados de Roraima e Amazonas - também há ianomâmis do outro venezuelano. Cerca de 30 mil indígenas vivem na região em mais de 360 comunidades.

A área é alvo do garimpo ilegal de ouro desde a década de 1980. Mas, nos últimos anos, a busca pelo minério se intensificou, causando, além de conflitos armados, a degradação da floresta e ameaça à saúde dos indígenas.