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Alunos acham imagem sacra escondida sob reboco em patrimônio histórico de Fortaleza

Imagem foi descoberta no prédio tombado do antigo Colégio Marista Cearense. 'Isso mostra que a cidade vem priorizando a estética e enterrando a história', diz professora

18/11/2017 14h45
Alunos acham imagem sacra escondida sob reboco em patrimônio histórico de Fortaleza
Reprodução - Foto: Assessoria
Estudantes do curso de arquitetura e urbanismo de uma faculdade no Centro de Fortaleza se depararam com uma imagem artística, encoberta por camadas de tinta e revestimento de reboco, resultado de reforma realizada no prédio centenário tombado, onde funcionou por 90 anos o Colégio Marista Cearense. O achado ocorreu durante um minicurso de restauração patrimonial na escola tombada como patrimônio cearense. A descoberta revelou o que seria a imagem, em baixo relevo, de Padre Anchieta, ambientada em uma paisagem litorânea. Quem afirma é Walden Luiz, professor e coordenador do Departamento de Artes da Estácio na década de 1980, época em que a arte foi feita. A memória de Walden é, até agora, o único arquivo da idealização da imagem. De acordo com ele, a arte se trata de um painel com extensão por toda a parede, em que o padre segura um cajado e escreve poemas à Virgem Maria, na areia. "É um painel muito bonito. De início pintaram de dourado, mas ficou muito chamativo e depois fizeram um envelhecimento. Fiquei surpreso de terem tratado o painel com argamassa, foi feito numa talha de cimento, era bem interessante", relembra o professor aposentado. Ele diz que a arte ainda está clara na memória porque o painel ficava na entrada do colégio, por onde passava diariamente. 'Enterrando a história' Para Carolina Alves, professora do curso de restauração em que a arte foi revelada – juntamente com o professor do curso de arquitetura, Frederico Barros – o achado reflete a falta de educação patrimonial na cidade, já que a peça é parte histórica do prédio. "O minicurso, de dois dias, era pra apresentar processos que norteiam a restauração em edificações como essa, com valor de prédio tombado. A proposta das aulas era intervir numa área que sabiam que tinha passado por uma reforma sem critérios. Quem cobriu a arte com reboco pode ter feito porque a arte já não estava íntegra. Mas isso mostra que a cidade vem priorizando a estética e enterrando a história." Segundo Carolina, a faculdade de arquitetura foi um dos primeiros cursos a ocupar o prédio do antigo colégio, que tem valor histórico e arquitetônico, tombado pelo município e pelo estado. "Além de ter ocupado o local, uma das propostas era educar no sentido patrimonial, tanto para os alunos, quanto na promoção de eventos e visitações pra sociedade". Com essa ideia, organizou-se a Semana de Arquitetura, que trouxe o minicurso de restauração como experiência além das disciplinas da grade curricular. "Esse local onde começamos a trabalhar já estava desprendendo da parede. Achamos que íamos encontrar uma sequência de cores que mostrariam as pinturas que já tinham ocorrido lá ao longo dos anos. Iniciamos a prospecção com bisturi, e encontramos esse baixo relevo artístico", conta a professora. Ela diz que a turma buscou documentos e fotos antigas do prédio para identificar a arte, mas nada foi encontrado. A atividade, a princípio, com propósito mais particular de demonstrar a restauração, passou a ser a de revelar um material histórico esquecido do prédio. "Esse trabalho pode suprir uma lacuna documental", destaca Carolina. Pesquisa Coordenadora do curso de Arquitetura e Urbanismo da faculdade Estácio Fic, Clélia Monasterio reforça que ter encontrado a obra "foi uma bênção" para dar oportunidade aos estudantes de trabalhar a investigação e preservação do patrimônio. "É muito importante porque desenvolve esse sentimento e vontade de trabalhar com a cultura, o patrimônio e a arte. Encontramos um tesouro perdido, agora vamos continuar a busca", declara. A ideia é transformar o trabalho em um grupo de pesquisa e extensão, capacitar estudantes para seguirem com a investigação da obra e, posteriormente, de outros pontos do prédio. Por ser patrimônio tombado, é necessário antes regularizar a situação no município e estado. Segundo a coordenadora, o local de investigação do painel tem aproximadamente 9m². "Para acontecer, tem que ter cooperação entre a instituição e a Estácio. É um trabalho de conversação, se trata de uma obra de arte, precisa de pessoas especializadas."