Brasil
Após desemprego, vendedor se especializa em maquiagem de mortos
Técnica aplicada por André Sato chama necromaquiagem. O agente nunca maquiou alguém vivo, apesar de todos os pedidos da mulher
O ambiente de trabalho de André Sato é silencioso. Sozinho em uma sala branca, gelada e revestida de pisos e azulejos, ele mantém a atenção e o profissionalismo. Acompanhado apenas dos corpos que precisa preparar para o funeral, Sato trabalha há oito anos como agente funerário. O especialista em necromaquiagem disse que não se impressiona mais em lidar com os mortos e que, inclusive, se apaixonou pela profissão. Uma das vantagens, segundo ele, é que os clientes não reclamam. Tanto que ele diz nunca ter maquiado alguém vivo.
“Eu amo a minha profissão e isso vai além da relação com a empresa para qual eu trabalho. O ambiente é muito bom, os companheiros são bons e é muito gratificante ouvir um ‘obrigado’ da família pelo carinho num momento de dor. Isso não tem dinheiro no mundo que pague.”
Sato aprendeu a técnica da necromaquiagem – especialidade para melhorar o aspecto dos corpos para o velório – e também desempenha outras funções na funerária onde trabalha, em Mogi das Cruzes. É dele a responsabilidade de buscar corpos em hospitais e residências, fazer a higienização, vestir e cuidar da estética.
Assim como um maquiador comum, ele utiliza duas maletas repletas de produtos com várias cores para trabalhar. Em uma estão batons, esmaltes, sombras, pó, base, pincéis de maquiagem, pentes e escovas de cabelo. Em outra maleta encontrada na sala de preparação dos corpos ficam guardadas pinças, lâmina de barbear, acetona, desodorante, curativos, tesouras e álcool em gel.
O volume de trabalho costuma variar entre 4 e 15 corpos por dia. Na maioria dos casos, a maquiagem feita em homens e mulheres é leve, apenas para tirar a aparência abatida do corpo. Por meio de uma ordem de serviço, o agente funerário segue as orientações da família para escolher as cores da maquiagem e modelo de barba, por exemplo.
Nesses casos, os produtos utilizados são os mesmos encontrados em lojas de perfumarias e cosméticos. “Na maioria dos casos, o resultado é bom. O intuito é o mesmo: base, pó, batom, sombra e lápis de olho”, comenta.
Em casos que é preciso fazer a reconstrução facial, ou então preparar o corpo para um velório mais demorado, Sato utiliza produtos específicos para dar a cor facial e também realiza um procedimento de drenagem dos líquidos.
Começo
Quando começou a trabalhar na funerária, há oito anos, a adaptação não demorou muito, mas ele conta que precisou lidar com o próprio psicológico para enfrentar o desafio. Sato encontrou a oportunidade após ficar desempregado e com duas filhas pequenas. “Foi um pouco estranho porque, querendo ou não, é uma vida que está ali diante de você. Alguns dias eu ia embora para casa pensando naquilo que tinha visto, principalmente quando chegavam vítimas de acidente. Tive o suporte dos amigos e os funcionários mais velhos me passaram tranquilidade.”
Por formação, Sato é técnico em prótese odontológica e antes de chegar à funerária trabalhou como vendedor no Mercado Municipal, em um box de queijos e vinhos. A intenção era se manter no trabalho somente até conseguir uma recolocação na sua área mas, como ele mesmo diz, “acabou se apaixonando”.Reações
Atualmente, a sua profissão desperta a curiosidade de amigos e familiares. Alguns dizem que ele é louco, já outros acreditam que ele é corajoso.
A sua esposa é uma das pessoas que tem interesse em conhecer um pouco da rotina da profissão. “A minha mulher sempre me pede para que eu faça a maquiagem nela, mas vivo eu nunca maquiei. Meus clientes não reclamam”, conta aos risos.
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