Brasil
Pais não contaram para filha baleada em escola que ela não irá voltar a andar
Isadora Morais, de 14 anos, está paraplégica, segundo confirmou o Hospital de Urgências de Goiânia
"Deus já deu um milagre, que foi ela ficar viva. Agora, a gente espera outro milagre, que é o dela voltar a andar. Para mim, dói muito vê-la assim, mas para ela é ainda mais difícil, é como se ela estivesse em uma prisão", disse a mãe da adolescente, a professora Isabel Rocha dos Santos.
Segundo o pai da aluna, Carlos Alberto, é muito complicado ver a filha ferida. "É um impacto muito grande, principalmente nas primeiras horas. Era como se estivéssemos em um sonho", relatou.
Segundo o boletim médico divulgado na tarde desta quarta-feira (25), Isadora permanece internada em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) humanizada. Ela está estável, acordada e respirando sem ajuda de aparelhos.
LesãoOs médicos informaram que um fragmento do projétil ficou alojado na décima vértebra torácica. Com isso, ela não consegue sentir nada da cintura para baixo.
"Esse fragmento não foi retirado até o momento porque não existe benefício algum nesse procedimento, com a paciente ainda nesse estado. O benefício poderia ser ela voltar a andar, mas a princípio o quadro dela é irreversível", explicou o coordenador da UTI, Alexandre Amaral.
Segundo a mãe, quando Isadora percebeu que não sentia as pernas, pediu para que os médicos devolvessem seus membros.
"Ela me disse: 'Mamãe, morri e parecia que estava em um sonho e acordei de novo. Fala para os médicos que quero minhas pernas de volta'. Acredito, creio que Deus vai recuperar a medula da minha filha, sei que Deus faz o impossível, mas também sei que minha dor não é maior do que a de quem perdeu os filhos”, completou.
O crimeO crime aconteceu no fim da manhã de sexta-feira (20) em uma sala de aula do 8º ano do Colégio Goyases, no Conjunto Riviera, em Goiânia. Os tiros foram disparados por um aluno da classe, de 14 anos, no intervalo entre duas aulas.
Os alunos João Pedro Calembo e João Vitor Gomes, ambos de 13 anos, morreram ainda no colégio. Os corpos foram enterrados no sábado (21), em cemitérios de Goiânia.
O estudante Hyago Marques, de 13 anos, também foi baleado e foi o primeiro a receber alta, no domingo (22). Já em casa, ele afirmou que perdoa o colega autor dos disparos, mas que "nada justifica a reação dele". Ele prestou depoimento à Polícia Civil na manhã desta quarta-feira.
Além de Isadora, continua internada a estudante Marcela Macedo, 14, que segundo a assessoria de comunicação do Hugo está internada em uma enfermaria com estado regular.
Já Lara Fleury, que estava internada no Hospital dos Acidentados, recebeu alta médica na terça-feira (24). Na mesma data, ela divulgou um áudio para agradecer o apoio das pessoas e revelou que está se recuperando.
Motivação do crimeSegundo o delegado Luiz Gonzaga Júnior, responsável pelo caso, o autor dos tiros disse que sofria bullying de um colega e, inspirado em massacres como o de Columbine, nos Estados Unidos, e de Realengo, no Rio de Janeiro, decidiu cometer o crime. Filho de policiais militares, ele pegou a pistola .40 da mãe e a levou para a unidade educacional dentro da mochila.
O pai do adolescente prestou depoimento à polícia e negou que soubesse que o filho sofria bullying. Disse, ainda, que nunca ensinou o filho a atirar e que ele pegou a arma descarregada sobre o guarda roupas e a munição em uma gaveta trancada após procurar e achar as chaves.
O aluno, que estava apreendido na Delegacia Estadual de Apuração de Atos Infracionais (Depai), foi transferido na segunda-feira (23) para um centro de internação onde irá cumprir a decisão de internação provisória expedida pela Justiça.
SegurançaA mãe de Isadora cobrou medidas de segurança mais rigorosas nas escolas para evitas que esse tipo de crime aconteça novamente.
“Eu deixei minha filha na porta da escola, andando, e agora ela não pode mais andar, acompanhar o irmão para fazer vestibular. Tem que rever as leis, precisa ter detector de metais nas escolas para barrar objetos estranhos. Isso não é constrangedor. Constrangedor é ver minha filha desse jeito”, desabafou Isabel.
Ainda segundo a professora, é preciso debater as causas que levaram o adolescente a atirar contra os colegas. “Não acredito que seja bullying. Isso é tratado em casa, no dia a dia. Isso não se trata em escola, é algo além, na família. Os pais que têm que perceber isso”, explicou.
O que se sabe até agora:Veja a sequência dos fatos:
Colegas relatam que ouviram um barulho; Em seguida, os alunos viram o adolescente tirando a arma da mochila e atirando; Alunos correram para fora da sala de aula; O aluno descarregou um cartucho, carregou o segundo e deu um tiro, mas foi convencido; pela coordenadora a parar de atirar; Estudante foi levado para a biblioteca até a chegada dos policiais.Mais lidas
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