Saúde

Lipedema: a doença que afeta milhões de mulheres e ainda é pouco reconhecida

Por Assessoria 30/06/2025 15h27
Lipedema: a doença que afeta milhões de mulheres e ainda é pouco reconhecida
Lídia Costa, médica - Foto: Divulgação

Silencioso, pouco conhecido e frequentemente confundido com obesidade ou linfedema, o lipedema é uma condição médica crônica que afeta, majoritariamente, mulheres. Apesar de atingir um número significativo da população, o lipedema ainda enfrenta subnotificação, diagnósticos tardios e desinformação, o que agrava o sofrimento físico e emocional das pacientes.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV), cerca de 10% a 15% das mulheres brasileiras podem ter a doença — muitas sem sequer saber. O lipedema é caracterizado pelo acúmulo desproporcional de gordura, especialmente nas pernas, quadris e, em alguns casos, nos braços. Esse acúmulo é acompanhado por dor, sensibilidade ao toque, inchaço e facilidade em formar hematomas.

“O grande problema é que o lipedema é, muitas vezes, confundido com obesidade ou com o linfedema, e isso atrasa o diagnóstico e, consequentemente, o tratamento. Muitas pacientes passam anos sendo julgadas, inclusive por profissionais de saúde, como pessoas que simplesmente não conseguem perder peso”, explica a médica vascular Lídia Costa, da Clínica Les Sens, especialista no diagnóstico e tratamento da doença.

Desconhecimento que gera sofrimento


Além dos desafios físicos, o impacto psicológico do lipedema é significativo. Segundo a Associação Brasileira de Lipedema, muitas pacientes relatam frustração por não obterem resultados satisfatórios com dietas e exercícios convencionais, além de enfrentarem estigmas sociais.

Diferente da gordura comum, a gordura do lipedema é de origem inflamatória e não responde aos métodos tradicionais de emagrecimento. A doença tem forte componente genético e hormonal, sendo frequentemente desencadeada ou agravada por fases como a puberdade, gestação e menopausa.

“O paciente com lipedema não tem uma simples gordura localizada. Trata-se de um tecido gorduroso inflamado, que não responde aos métodos convencionais de emagrecimento. Além disso, há dor constante, cansaço nas pernas e, em casos avançados, prejuízo na mobilidade”, detalha a médica.

Sinais de alerta


Os principais sinais do lipedema incluem:
• Acúmulo de gordura simétrica nas pernas, coxas e, às vezes, nos braços, poupando mãos e pés.
• Dor ao toque ou sensação de peso nas pernas.
• Formação fácil de hematomas.
• Sensação de inchaço constante, que não melhora apenas com repouso.
• Dificuldade de perder volume nessas áreas, mesmo com alimentação controlada e exercícios físicos.

Diagnóstico e tratamento


Um estudo publicado no Jornal Vascular Brasileiro reforça que o diagnóstico do lipedema é essencialmente clínico, baseado na avaliação médica e no histórico da paciente. Apesar disso, muitas mulheres convivem com a doença por anos até obterem um diagnóstico correto, o que compromete o tratamento e agrava os sintomas.

O tratamento é multidisciplinar e personalizado. Pode incluir acompanhamento vascular, fisioterapia, nutrição anti-inflamatória, drenagem linfática, uso de meias de compressão e, em alguns casos, lipoaspiração específica para lipedema — um procedimento cirúrgico diferente da lipoaspiração estética.

“Além da cirurgia, que nem sempre é indicada, manejamos o lipedema com mudanças na alimentação, terapias que auxiliam na drenagem linfática, uso de meias de compressão e controle da dor. O mais importante é oferecer qualidade de vida à paciente e impedir a progressão da doença”, reforça Lídia Costa.

Informação é parte do cuidado


Diante da invisibilidade histórica da doença, aumentar o conhecimento sobre o lipedema é um passo crucial para garantir diagnóstico precoce, acolhimento e acesso a tratamentos eficazes.

“É muito gratificante ver que cada vez mais mulheres estão reconhecendo os sinais da doença e buscando ajuda. O diagnóstico precoce é essencial para que possamos intervir e melhorar, de forma significativa, a qualidade de vida dessas pacientes”, conclui a médica.