Saúde

Saúde mental no trabalho: o que sua empresa precisa fazer

Por Assessoria 24/06/2025 15h35
Saúde mental no trabalho: o que sua empresa precisa fazer
Segundo dados do Ministério da Previdência Social, somente em 2024 foram registrados mais de 470 mil afastamentos do trabalho - Foto: Divulgação

A saúde mental no ambiente de trabalho deixou de ser um tema secundário para se tornar uma responsabilidade urgente. Segundo dados do Ministério da Previdência Social, somente em 2024 foram registrados mais de 470 mil afastamentos do trabalho devido a transtornos mentais, o maior número em pelo menos uma década.

Não à toa, até maio de 2026, as empresas precisarão se adequar à nova Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), que estabelece os fundamentos do Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR) e, agora, inclui diretrizes específicas para fatores de risco psicossociais, como estresse, assédio moral e sobrecarga emocional.

Segundo o psicólogo e especialista em saúde organizacional Filipe Colombini, esse cenário exige das organizações muito mais do que campanhas pontuais ou ações simbólicas. “Não basta colocar um tapete de mindfulness ou oferecer um café. É preciso construir uma cultura genuína de cuidado, que integre a saúde mental à estratégia da empresa, da liderança ao operacional”, afirma o especialista.

Colombini destaca que saúde mental não é um compartimento isolado da saúde física ou biológica. “Essa separação é apenas didática. Tudo está interligado. Uma empresa saudável é feita por pessoas saudáveis física e emocionalmente”, explica.

Como estruturar um programa de saúde mental


Tudo começa pelo treinamento contínuo das lideranças, um dos pilares mais estratégicos para o sucesso de qualquer programa de saúde mental nas empresas. São os líderes que moldam a cultura organizacional no dia a dia, influenciam comportamentos e têm o poder de reforçar - ou minar - ambientes psicologicamente seguros.

“Quando capacitadas, as lideranças desenvolvem habilidades fundamentais como escuta ativa, empatia, comunicação não violenta e gestão de conflitos, o que os torna agentes reais de promoção do bem-estar emocional das equipes”, diz Colombini. “Sem esse preparo, qualquer iniciativa tende a se tornar superficial ou incoerente com a prática cotidiana da organização. Portanto, investir em líderes emocionalmente inteligentes é um passo essencial para construir ambientes de trabalho mais saudáveis, produtivos e sustentáveis”, conclui.

As empresas devem investir em uma estrutura que inclua:


Espaços de escuta e compliance efetivos, que permitam denúncias seguras e confidenciais de comportamentos nocivos;

Monitoramento constante do clima organizacional e das práticas de gestão;
Subsídios para psicoterapia ou psiquiatria, reconhecendo o cuidado com a saúde mental como benefício essencial, e não como luxo;

Exemplo vindo da liderança, com gestores que falem abertamente sobre saúde mental, validem a importância do tema e se mostrem vulneráveis quando necessário.

Incentivo às relações saudáveis e ambiente de colaboração, com a promoção de um clima de respeito, empatia e cooperação entre os colaboradores é fundamental para construir uma cultura organizacional positiva. Relações interpessoais saudáveis reduzem conflitos, fortalecem os laços entre a equipe e promovem um verdadeiro sentimento de pertencimento — ingredientes essenciais para o bem-estar mental no ambiente de trabalho.

Prevenção a condutas nocivas e incentivo a um ambiente acolhedor e seguro, com a manutenção de uma postura firme contra atitudes como assédio, discriminação e comportamentos tóxicos é fundamental para a saúde emocional no ambiente corporativo. Criar um espaço onde todos se sintam respeitados, protegidos e reconhecidos fortalece a confiança entre as equipes e estabelece as bases para um ambiente de trabalho mais saudável, ético e humano.

Ainda de acordo com Colombini, é necessário romper com padrões culturais tóxicos, como a ideia de que buscar apoio psicológico é “frescura” ou “sinal de fraqueza”. “Isso ainda está muito presente, principalmente entre lideranças masculinas”, diz o psicólogo. “Mas saúde mental é força. E empresas que não entendem isso estão fadadas a perder produtividade, talentos e reputação”, conclui.

Mais sobre Filipe Colombini: psicólogo, especialista em orientação parental e atendimento de crianças, jovens e adultos. Especialista em Clínica Analítico-Comportamental. Mestre em Psicologia da Educação pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP). Professor do Curso de Acompanhamento Terapêutico do Grupo Interdisciplinar de Estudos de Álcool e Drogas – Instituto de Psiquiatria Hospital das Clínicas (GREA-IPq-HCFMUSP). Professor e Coordenador acadêmico do Aprimoramento em AT da Equipe AT. Formação em Psicoterapia Baseada em Evidências, Acompanhamento Terapêutico, Terapia Infantil, Desenvolvimento Atípico e Abuso de Substâncias.