Saúde

Após 5 anos de espera, servidor ganha fígado novo

Morador de Marechal Deodoro, homem transplantado tem 32 anos; procedimento foi realizado na Santa Casa

Por Valdete Calheiros - colaboradora / Tribuna Independente 03/09/2024 09h05 - Atualizado em 03/09/2024 10h54
Após 5 anos de espera, servidor ganha fígado novo
Jackson: “quem precisa de um órgão para continuar vivendo já conhece o sentimento de gratidão” - Foto: Edilson Omena

O gesto de solidariedade de doar órgãos fez renascer mais uma vida em Alagoas. Na tarde de ontem, o servidor público estadual Jackson Filipe da Silva Santos, 32 anos, morador do povoado de Tuquanduba, no município de Marechal Deodoro, no litoral Sul alagoano, recebeu um fígado.

O transplante foi realizado na Santa Casa de Misericórdia de Maceió.

Bastante emocionado, ele mesmo contou a reportagem sobre o procedimento, minutos antes de entrar no centro cirúrgico. O jornal Tribuna Independente estava acompanhando, desde julho, a espera angustiante do rapaz à espera do órgão. Devido à gravidade da doença e o comprometimento do fígado, Jackson Filipe era o primeiro da fila de transplantes.
Ele agradeceu o gesto solidário da família que dou o fígado. Sem saber ainda se o doador era homem ou mulher, Jackson Filipe sabia apenas a idade da pessoa: 20 anos.

“Não consigo imaginar a dor da perda da família. Estou em oração por eles ao mesmo tempo em que agradeço a eles a oportunidade de continuar vivo, graças ao amor que eles souberam transmitir a quem precisava de um órgão para viver”, afirmou, com a voz embargada pelo choro de alegria e emoção.

Segundo o mais novo transplantado de Alagoas, quem precisa de um órgão para continuar vivendo já passa a conhecer um sentimento de gratidão pelo doador antes mesmo de a doação se concretizar.

“É um gesto nobre. No pior momento de dor para a família, doar um órgão do seu parente tão amado que se foi é dar uma oportunidade para outra pessoa seguir a vida. Realizar sonhos”, discorreu.

Agora, Alagoas conta com três pacientes na fila por um transplante de fígado. Jackson Filipe tratava há cinco anos uma hepatite autoimune. O jovem recebeu o diagnóstico como um choque.

Segundo Jackson Filipe, em maio do ano passado, ao realizar alguns exames de rotina foi, mais uma vez, surpreendido pela doença que evoluiu para um quadro de ascite [acúmulo de líquido dentro do abdômen geralmente decorrente do quadro de hipertensão podendo ou não estar relacionado à cirrose hepática, além de outras doenças cardíacas ou renais], junto com cirrose hepática.

“Desde aquele momento, os médicos me falaram sobre a possibilidade de fazer o transplante de fígado. No entanto, a doença foi controlada com as medicações. Porém, no último mês de abril, aos refazer os exames, não teve outro jeito, passei a integrar a fila do transplante, desde o dia 10 de junho”, lembrou, emocionado.

Na avaliação de Jackson Filipe, a sociedade precisa falar mais sobre o assunto para não julgar, não associar cirrose hepática ao alcoolismo.

Alagoano pode registrar em cartório o desejo de doar

Em Alagoas, cerca de 40 pessoas manifestaram, em cartório, a vontade de doar órgãos depois de falecidas. A medida passou a ser possível desde abril deste ano, quando o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e os cartórios lançaram a campanha e o sistema de Autorização Eletrônica de Doação de Órgãos.

A procura foi motivada pela campanha “Um Só Coração: Seja Vida na Vida de Alguém”. Quem desejar doar seus órgãos poderá manifestar e formalizar a sua vontade por meio de um documento oficial, feito digitalmente em qualquer um dos 8.344 cartórios de notas do Brasil. Em Alagoas, existem 106 cartórios de notas.

Alagoas vem somando números positivos em relação à doação de órgãos. Desde janeiro, 73 transplantes foram realizados no Estado, sendo 65 de córneas, cinco de fígado – contando com o realizado ontem – e três de rim.

No mesmo período do ano passado, foram feitos 48 transplantes, dos quais 42 de córneas, quatro de fígado e dois de rim. Em todo o ano passado, foram realizados 96 transplantes. Deste total, 86 foram de córneas, sete de fígado e três de rim. Os números foram fornecidos pela Central de Transplante de Alagoas, instituição vinculada à Secretaria de Estado da Saúde (Sesau).

São exatamente 546 vidas na fila do transplante à espera por algum órgão. Do total, 513 pessoas esperam por córneas, 30 pelo rim e as outras três pelo fígado. A fila à espera de coração está zerada.

As pessoas que esperam pela córnea aguardam, em média, 15 meses na fila. A esperança de recebe um fígado soma 10 meses, aproximadamente. Ter a vida ligada a um fio de esperança de receber um rim pode custar longos 82 meses ou praticamente sete anos.