Saúde

O drama e a luta contra o tabagismo

No Dia Nacional de Combate ao Fumo, pessoas narram suas dificuldades enfrentadas para abandonar hábito

Por Valdete Calheiros - colaboradora / Tribuna Independente 29/08/2024 08h15 - Atualizado em 29/08/2024 09h52
O drama e a luta contra o tabagismo
Maria José fuma desde a adolescência e afirma que não pode faltar o dinheiro do cigarro - Foto: Acervo Pessoal

As amigas Agda Leandro dos Santos, 35 anos, e Maria José Silva, 42, dividem o mesmo ambiente de trabalho e, juntas, lutam contra um “inimigo” em comum: o cigarro. Ambas iniciaram o hábito de fumar ainda na adolescência aos 13 e 15 anos, respectivamente. Com mães fumantes, às vezes, eram elas quem, a pedido da mãe, acendiam o cigarro. Daí para o primeiro trago, foi um pulo.

Para ajudar pessoas como Agda e Maria José foi criado o Dia Nacional de Combate ao Fumo. A data é celebrada no dia 29 de agosto. De acordo com a Secretaria de Estado da Saúde (Sesau), elas não estão sozinhas. Nos quatro primeiros meses deste ano, 605 pessoas realizaram tratamento no SUS para largarem o cigarro. Em 2023, 1.609 pessoas realizaram o tratamento.

Na vida das amigas, entre altos e baixos, entre momentos tristes ou felizes, lá estava ele: o hábito de fumar. Hoje, ambas são mães e, na medida do possível, afastam suas filhas do fumo. Agda é cabeleireira e já se viu muitas vezes diante da angústia de ter que decidir se fumava ou se atendia a clientela.

“Como nem o cheiro do cigarro nem a fumaça combinam com um ambiente onde a beleza impera, há dois meses, por conta própria larguei o cigarro”, admitiu ao dizer que luta, diariamente, contra o vício. No passado, já ficou seis anos sem fumar. Teve uma recaída. Largou o vício de novo e, agora, vive um dia de cada vez. Chegou a fumar até 12 cigarros por dia.

A amiga Maria José Silva ainda fuma. Vez ou outra, abre mão de comprar um acessório para si mesma porque não pode faltar o dinheiro para o cigarro. Ao engravidar, conseguiu largar o cigarro, de quem ficou longe por longos 10 anos.

“Mas quando estou muito estressada ou triste com algo, volto a fumar. Foi o que fiz e há 10 anos, quando retomei o vício. Não consegui largar ainda, de novo, o cigarro”, contou.
Quando abandonaram o cigarro, ambas sentiram no organismo, os inúmeros benefícios à saúde, desde a diminuição da tosse e da falta de ar, até mesmo mais disposição para trabalhar e curtir a família.

O tabagismo é uma doença crônica causada pela dependência à nicotina presente nos produtos à base de tabaco. O vício pode provocar mais de 50 doenças, entre problemas respiratórios e câncer, além de ser responsável por 90% dos casos de cânceres de pulmão. Isso sem falar nas sequelas cardíacas, alertou a Sesau.

Núcleos de Combate ao Tabagismo orientam quanto aos males do fumo (Foto: Ascom Sesau)

Alagoas conta com Núcleos de Combate em 13 municípios

A Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) explica que os malefícios causados pela exposição ao cigarro atingem tanto os fumantes ativos quanto os passivos. “Não temos o número de óbitos causados pelo cigarro em Alagoas, porque na declaração de óbito expedida pelo médico, não consta tabagismo como a causa da morte. O paciente pode ter vindo a óbito em decorrência do uso do tabaco, mas não existe essa informação na certidão de óbito”, pontuou.

Além de enfisema pulmonar, bronquite crônica, asma, infecções, infarto agudo do miocárdio, hipertensão, aneurismas, Acidente Vascular Cerebral (AVC) e tromboses, o tabaco pode provocar pelo menos 12 tipos de cânceres. O fumante também pode desenvolver impotência sexual. A fumante pode sofrer de infertilidade, menopausa precoce, complicações na gravidez e Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC).

A coordenadora do Programa Estadual de Combate ao Tabagismo, assistente social Eunice Canuto, afirmou que, comparado aos não fumantes, as pessoas expostas ao tabagismo apresentam de duas a quatro vezes mais probabilidade de desenvolver doença coronariana ou AVC.

“No caso do câncer de pulmão, os fumantes do sexo masculino têm o risco aumentado 23 vezes e os do sexo feminino, em 13 vezes. E os riscos de morrer por bronquite crônica e enfisema pulmonar aumentam entre 12 e 13 vezes no caso dos fumantes”, acrescentou.

As pessoas que fumam e que querem largar o vício podem contar com os Núcleos de Combate ao Tabagismo presentes em 13 municípios. São 17 em Núcleos em todo o Estado. Todos mantidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Maceió tem programa de prevenção

O Programa de Prevenção e Cessação do Tabagismo da Secretaria Municipal de Saúde de Maceió disponibiliza à população seis núcleos ativos, distribuídos em pontos estratégicos da capital, com o objetivo de oferecer suporte e tratamento para aqueles que desejam parar de fumar.

Os núcleos estão instalados no II Centro de Saúde (Praça da Maravilha, Poço), Unidade de Referência em Saúde (URS) João Paulo II (Jacintinho), Unidade de Saúde da Família (USF) Dídimo Otto Kummer (Benedito Bentes), Clínica da Família José Aprígio Vilela (Benedito Bentes), Hospital Universitário (Cidade Universitária) e Centro Universitário Cesmac (Centro de Pesquisa Dr. Marco Mota, Farol).

Para ter acesso aos serviços disponibilizados pelos Núcleos de Atenção ao Fumante, é necessário que o usuário de tabaco se dirija à Secretaria Municipal de Saúde (SMS) do município de residência ou que seja feito um encaminhamento médico.

Em Maceió, quem tiver interesse em abandonar o tabagismo pode procurar qualquer núcleo ativo, portando documentos pessoais, comprovante de residência e o cartão do SUS. Ao chegar a um dos Núcleos, a pessoa será acolhida e cadastrada pela equipe que irá coletar informações relevantes para iniciar o tratamento.

O tratamento oferecido pelo SUS inclui avaliação clínica, abordagem mínima ou intensiva, tanto individual quanto em grupo. Se necessário, o programa também disponibiliza terapia medicamentosa juntamente com a abordagem intensiva.