Saúde
Paciente ganha segundo coração em transplante feito por José Wanderley
Homem de 42 anos agora vive também com o coração de mulher que morreu vítima de acidente de trânsito
O alagoano Denyson Rennon Souza Monteiro, 42 anos, ganhou um coração extra na madrugada da última terça-feira (25) em transplante realizado pelo cirurgião cardiovascular José Wanderley Neto. Ele se recupera na UTI cardíaca, com prognóstico de transferência para um apartamento nos próximos dias.
O órgão foi doado pela família de uma mulher de 33 anos de idade, que morreu em um acidente de trânsito. Os rins foram também doados e já transplantados e as córneas ainda serão aproveitadas. Já o fígado, em função das lesões provocadas pelo acidente, não estava em condições de ser aproveitado.
O transplante foi iniciado no final da noite de segunda-feira (24), logo após José Wanderley, deputado estadual recém eleito e atual vice-governador que estava no exercício do cargo de governador, transferir o comando do governo a Paulo Dantas, que reassumiu o mandato pouco depois das 23 horas no palácio do governo.
Tão logo a cerimônia foi encerrada ele se deslocou para o centro cirúrgico, onde encontrou-se com a equipe de apoio, integrada pelos cirurgiões Rafaela Sales, Laio Wanderley e Klebert Tenório e demais profissionais que dão suporte pré-cirúrgico e após a cirurgia.
O coração doado agora bate paralelamente ao coração nativo de Denyson Monteiro. A modalidade cirúrgica em que o coração original do paciente é preservado e conectado ao do doador e ambos funcionam em paralelo é tecnicamente conhecida como transplante heterotópico, realizado por poucos cirurgiões cardíacos.
Este foi o oitavo transplante heterotópico procedido pelo cirurgião cardíaco alagoano. O primeiro do gênero foi feito por ele foi em 1989.
A principal indicação de uso dessa técnica é quando o coração do doador é pequeno para o receptor. Nesse caso, o coração nativo é preservado para funcionar como auxiliar ao coração transplantado. Foi o que aconteceu com Denyson Monteiro.
Pesando mais de 100 quilos e com maior estatura, o órgão transplantado sozinho não daria conta de cumprir as funções de bombeamento do sangue e ritmo de batimento adequados do receptor. Diante disso, José Wanderley optou por manter o coração de Denyson – que teve sua capacidade de funcionamento estimada em 20% - para auxiliar o coração doado.
Denyson Monteiro era portador de miocardiopatia, doença do músculo cardíaco (miocárdio) que compromete o bombeamento de sangue para o organismo e em muitos casos é provocada por fatores genéticos e hereditários.
Fila de espera
Desde 2019 não é realizado um transplante cardíaco em Alagoas, segundo Daniela Ramos, coordenadora da Central de Transplante. Esse período “em branco”, segundo ela, se deveu essencialmente à pandemia de Covid-19. Agora, com o controle da doença em razão das vacinas, disse que a expectativa é de retomada.
Atualmente há três candidatos a um novo coração na fila de espera da Central de Transplantes. “Mas essa fila deve crescer muito em breve”, disse, e explicou que os possíveis novos candidatos estão em fase final de exames para confirmação da necessidade de transplante.
Na fila geral há ainda 9 pacientes aguardando um fígado, 57 esperando um rim e 427 na expectativa de receber uma córnea. “São números atualizados até setembro”, disse a coordenadora.
Ela fez questão de exaltar a decisão da família da doadora do coração a Denyson Monteiro. “Na legislação brasileira, é a família quem decide pela doação de órgãos. O gesto dos familiares da jovem que morreu merece elogios, pois ajudou quatro pessoas que estavam na fila de transplante”, disse.
Daniela Ramos recomenda a todos que em vida desejariam que seus órgãos fossem doados em caso de morte, avisem aos seus familiares dessa decisão e deixem claro da intenção. “Doação de órgão salva vida”, disse ela.
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