Saúde

Ambulatório registra 560 acompanhamentos por sequelas pós-Covid

Segundo médico, subnotificação é grande e não há como precisar quantas pessoas foram afetadas por complicações da doença

Por Evellyn Pimentel com Tribuna Independente 09/04/2022 12h19
Ambulatório registra 560 acompanhamentos por sequelas pós-Covid
Ambulatório Pós-Covid-19 do Hospital Metropolitano continua acompanhando pacientes com sequelas - Foto: Assessoria

Um estudo conduzido por pesquisadores do Hospital das Clínicas (HC) em São Paulo aponta que 70% dos pacientes que tiveram Covid-19 apresentaram algum tipo de sequela mesmo após um ano de alta hospitalar. Em Alagoas, o ambulatório especializado nesse tipo de acompanhamento já registrou 560 atendimentos em um ano de funcionamento. Mesmo assim, em todo o país o número de pessoas com algum tipo de sequela da doença é indeterminado.

Ainda de acordo com os pesquisadores do Hospital das Clínicas, entre os casos analisados foram reportados episódios de fraqueza, fadiga e falta de ar, mas outros tipos de complicações podem ocorrer. Uma das explicações para isso é o fato de o coronavírus utilizar as vias respiratórias superiores como porta de entrada e atingir as vias respiratórias inferiores. Isto faz com que o vírus circule na corrente sanguínea e provoque danos em demais órgãos.

O Hospital Metropolitano possui um ambulatório - o único no estado -, para acompanhamento de Pós-Covid com as especialidades de infectologia, neurologia e hematologia. Segundo o hematologista Manoel Correia de Araújo Sobrinho, os pacientes hospitalizados desenvolvem complicações que precisam ser acompanhadas mesmo após a alta.

“Quando começou a pandemia, fui trabalhar na UTI e conduzir os pacientes na enfermaria e começamos a ver que muitos pacientes desenvolveram trombose e que, mesmo tendo alta, precisavam continuar utilizando anticoagulantes. O uso desses medicamentos precisa ser acompanhado de perto e na época me causou preocupação porque até então não existia nenhum setor que fizesse esse acompanhamento. A partir da minha ideia de criação desse acompanhamento começamos o monitoramento. Temos um ambulatório de infecto, neuro e hemato. E o que temos visto é muita trombose, embolia pulmonar, trombose profunda de membro inferior e muitos pacientes que tiveram alteração de nível de esquecimento, de consciência, enfim, são diversos casos”, pontua o médico.

O hematologista explica ainda que as complicações vêm após a contaminação da doença durante o período de internação e perduram por meses.

“Eles desenvolvem a trombose no período de Covid e precisam ser monitorados por esses medicamentos. Fazemos exames porque esse tipo de medicamento, quando o paciente ingere, a metabolização é no fígado e a resposta de cada pessoa é diferente, cada paciente responde de uma forma diferente. Temos um paciente de 63 anos que ele usou 8 meses anticoagulantes e nunca teve histórico de trombose antes da Covid. Temos outro paciente que foi intubado e que um ano após a Covid ele esquece as coisas com facilidade e não sabemos porque. Com a trombose, nós temos explicações plausíveis, mas o esquecimento não. É tudo novo, não sabemos porque tudo isso acontece”, detalha.

SUBNOTIFICAÇÃO

Não há dados precisos no país sobre as complicações ou sequelas que a Covid-19 deixou nos pacientes de casos leves a graves. O hematologista reforça a subnotificação envolvendo os casos, tendo em vista que muitos pacientes não identificam, não associam ou não realizam acompanhamento dos sintomas pós-Covid.

“Quando começou, eu me perguntava como iam ficar esses pacientes. A minha preocupação era essa, que eles não iam conseguir fazer esse acompanhamento dessas complicações. Não há como precisar quantas pessoas foram afetadas”, enfatiza.

AFASTAMENTOS

Mesmo em relação aos afastamentos médicos relacionados ao trabalho faltam dados específicos sobre as complicações da doença. Segundo o Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), não é possível determinar quantas pessoas se afastaram devido a sequelas.

“É muito difícil ter dados oficiais sobre isso. Não há uma classificação específica por tipo de doença. O médico, o perito, analisa o tipo de incapacidade que a doença deixou. Até porque os casos mais graves que ocorreram mortes, mais de seiscentas e tantas mil, nem um terço chegou a ter pensão”, explica o órgão em Alagoas.