Saúde

Procura por medicação sem eficácia comprovada continua em alta

Demanda ocorre desde início da pandemia; especialista alerta para uso indiscriminado e riscos para a saúde com automedicação

Por Tribuna Independente 05/02/2021 08h37
Procura por medicação sem eficácia comprovada continua em alta
Reprodução - Foto: Assessoria
Alardeados de forma errônea como prevenção à Covid-19, medicamentos como a hidroxicloroquina, ivermectina e nitazoxanida ainda tem tido alta demanda nas farmácias de Alagoas, quase um ano após início da pandemia e mesmo sem eficácia comprovada. Especialmente a procura por ivermectina - medicamento utilizado como vermífugo -, tem chamado a atenção de profissionais do estado. O uso indiscriminado desses medicamentos representa risco à saúde humana e não funciona como proteção contra a doença. Um levantamento do Conselho Federal de Farmácia (CFF) revelou que a procura por ivermectina cresceu 557% no país durante o ano passado. As vendas de hidroxicloroquina também dispararam, passando de 963 mil em 2019 para 2 milhões de unidades em 2020. Há relatos de pessoas que têm feito uso contínuo de uma ou mais fórmulas como “prevenção”. A ivermectina, por exemplo, é um dos medicamentos “menos tóxicos” ao organismo. No entanto, pode acumular e gerar problemas para o funcionamento de rins e fígado. Outro medicamento que tem sido amplamente difundido é a azitromicina, antibiótico que trata infecções por bactérias, o que não se aplica ao caso dos vírus, tampouco ao Sars-Cov2, e o uso continuado cria resistência a bactérias no organismo. O presidente do Conselho Regional de Farmácia em Alagoas (CRF/AL) Robert Nicácio destaca a preocupação da entidade com os riscos associados a distorção no uso de medicamentos e da automedicação. [caption id="attachment_425582" align="aligncenter" width="774"] Robert Nicácio orienta buscar informações com profissionais de saúde (Foto: Assessoria)[/caption] “Primeiro de tudo, pode parecer algo elementar, mas é sempre bom repetir que não existe meio nenhum comprovado cientificamente que possa prevenir a contaminação pela Covid-19 além do distanciamento, uso de máscaras e boa higiene das mãos. Fora disso, qualquer outra medida propagada, inclusive o uso indiscriminado de medicamentos é contraindicado. É uma preocupação constante nossa o esclarecimento à população. O risco de usar esses remédios são os mais diversos, hidroxicloroquina e cloroquina são empregados no tratamento de malária e artrite reumatoide, mas são contraindicados para pacientes com problemas cardíacos. A gente vê a nitazoxinada e a ivermectina, que são consideradas drogas mais seguras porque são usadas em baixas doses, mas se usadas com frequência podem causas problemas ao organismo. Os dois são antiparasitários, mas é preciso um intervalo de tempo para uso que precisa ser respeitado e não está sendo por conta dessas fake news”, destaca o farmacêutico. “A orientação é nunca se automedicar”, alerta presidente do CRF Alagoas Recentemente, o Ministério da Saúde foi obrigado a retirar do ar um aplicativo que sugeria medicação de prevenção à Covid-19 pela inexistência de comprovação científica. No ano passado, o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido) fez diversas declarações sobre uma suposta eficácia desses medicamentos, incentivando o uso de remédios sem eficácia e que podem gerar problemas ainda mais complexos que a doença. A Organização Mundial da Saúde (OMS) orienta a não utilizar medicamentos como método de prevenção a Covid-19. O Conselho Federal de Farmácia (CFF) orienta os profissionais a explicarem os riscos da medicação, mesmo quando são prescritas por médicos, e fornecerem termo de responsabilidade para os pacientes que insistem na aquisição desses medicamentos para prevenção. Robert Nicácio acrescenta que nos casos em que o indivíduo iniciou a ingestão do remédio a orientação é paralisar de imediato. “A orientação é nunca se automedicar. Dentro e fora da pandemia é nunca se automedicar. Procurar informações sobre medicamentos pode procurar, até na internet, mas tem que ter muito cuidado com o que vai utilizar, porque temos visto muitas fake news, deve se procurar entidades seguras, confiáveis, e buscar informações com profissionais de saúde. As farmácias têm profissionais disponíveis para essa busca e só tomar medicação orientado por um médico. Quem está fazendo uso desses medicamentos tem que suspender o uso. Se informar mais e melhor. A gente costuma dizer que a informação é o melhor remédio”, diz Nicácio. O “melhor remédio” é a informação, segundo o especialista. Ele defende que cada paciente seja analisado e que sejam utilizados métodos confiáveis e com comprovação científica. “Muitas vezes um problema de saúde não precisa nem de utilização de medicamento, pode ser usado outro tipo de recomendação, as chamadas medidas não farmacológicas. É preciso buscar informações confiáveis, buscar informações com o farmacêutico e com o médico”, reforça Nicácio. “O CFF alerta que todos os medicamentos podem gerar efeitos adversos e que os riscos são ainda maiores para os medicamentos tarjados (aqueles de venda sob prescrição médica), não podendo ser negligenciados, considerando uma doença tão desafiadora como a Covid-19. A automedicação é fortemente desaconselhada”, alerta Tarcisio Palhano do CFF.