Saúde

AL: foram gastos R$ 25 mi com doenças do aparelho circulatório

De acordo com coordenadora do Programa de Controle e Combate ao Tabagismo, 6,5% da população alagoana acima de 18 anos fazem uso do tabaco

Por Lucas França com Tribuna Hoje 29/08/2018 14h08
AL: foram gastos R$ 25 mi com doenças do aparelho circulatório
Reprodução - Foto: Assessoria
A maioria das grandes companhias de tabaco americanas difundiram uma série de anúncios que advertem para os riscos que fumar representa para a saúde, acatando uma ordem judicial de onze anos atrás. O Brasil caminha para conseguir reduzir em mais de 50% a taxa da população que fuma até 2025, numa das reduções mais importantes do mundo. De acordo com a coordenadora do Programa de Controle e Combate ao Tabagismo em Alagoas, Vetrúcia Teixeira, dados do Datasus de 2017, mostram que no estado foram gastos R$ 25 milhões com doenças do aparelho circulatório. Em todo país, no ano passado, o prejuízo com o tabagismo foi de R$ 56,9 bilhões. Dados divulgados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que o País retirará do mercado do cigarro oito milhões de brasileiros em 25 anos. Alagoas está entre os estados brasileiros que têm investido em ações voltadas para o combate ao tabagismo. Segundo um levantamento realizado em 2016, pelo Ministério da Saúde (MS), por meio da Vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), o estado reduziu em 7,1% o número de fumantes na faixa etária acima de 18 anos. Vetrúcia ressalta que o estado vem investindo em ações para combater o fumo, com palestras em empresas públicas e privadas, igrejas e outros locais. Mesmo com a redução apontada pelo levantamento em 2017, a coordenadora afirma que 6,5% da população alagoana acima de 18 anos fazem uso do tabaco. Segundo a coordenadora do Programa de Controle e Combate ao Tabagismo, a Secretaria de Saúde (Sesau) está investindo em programas de prevenção e combate ao tabagismo. ‘’Desde 1988 a Sesau vêm trabalhando ações de prevenção e conscientização, através do programa. Em 2005, as atividades foram intensificadas com a realização de palestras em empresas, escolas, indústrias e outros locais. A finalidade é mostrar a população os malefícios do fumo”, ressalta. As doenças ocasionadas pelo uso tabaco que mais dão custos ao Sistema Único de Saúde (SUS) segundo Vetrúcia são todos os tipos de Neoplasias, Doenças dos Aparelhos Circulatório e Respiratório em pessoas internadas no hospital públicos na faixa etária de 30 a 69 anos de idade. Vetrúcia Teixeira, está há mais de uma década á frente das ações de prevenção ao tabagismo e vem acompanhando a evolução e o progresso de ex-fumantes, que resolveram deixar o cigarro.  Segundo ela, a redução vem ocorrendo aos poucos gradativamente e esse percentual é considerado uma grande vitória. “Parar sem auxílio profissional às vezes não obtém bons resultados” A nicotina é uma das drogas que mais vicia. E quem começa a usar o cigarro, deixar de fumar se torna um grande desafio. Vetrúcia Teixeira, diz que poucos conseguem parar de fumar sem ajuda de profissionais, como os que atuam nos Núcleos de Atendimento ao Fumante. ‘’Parar de fumar não é algo fácil, principalmente para quem começou cedo, há casos que só com ajuda de profissionais”, explica. Segundo dados da OMS, os fumantes que tentam parar de fumar sem ajuda médica têm uma menor chance de êxito (5% a média). Mesmo os que conseguem parar sem ajuda médica, apenas 0,5% a % mantêm a abstinência por um ano sem apoio médico. O uso do cigarro também é prejudicial para os fumantes indiretos, aqueles que não colocam o cigarro na boca, mas inalam a fumaça de quem está fumando próximo. Dentro das ações que são realizadas pela Sesau está a implantação dos Núcleos de Atendimento aos Fumantes, que existem em 17 municípios (Piaçabuçu, Belo Monte, Teotônio Vilela, Coruripe, Paulo Jacinto, Pilar, Mata Grande, Belém, Junqueiro, Campo Alegre, Campo Grande, Arapiraca, Palmeira dos Índios, Ibateguara, Messias, Mar Vermelho e Palestina e na Capital). A Lei 12.546 aprovada em 2011 e regulamentada em 2014, proíbe o ato de fumar, cigarros, charutos, cachimbos, narguilés, cigarrilhas e outros produtos com as substâncias do tabaco em locais de uso coletivo público ou privado como bares, restaurantes, clubes, halls, corredores, lojas, condomínios. Mesmo que o ambiente esteja fechado parcialmente por uma parede, divisória, teto ou toldo. BRASIL No ano 2000, 24,7% da população brasileira fumava. Cinco anos depois, a taxa já caiu para 20,6%. Em 2010, ela era de 17,2% e, em 2016, chegou a 14% segundo a OMS. Atualmente estima-se que 10% das mulheres fumam, contra 18% no caso dos homens.  Isso representa, segundo a OMS, um total de 22 milhões de fumantes, dos quais 17,9 milhões deles consomem tabaco diariamente. Em 2020, a estimativa é que apenas 12,2% dos brasileiros estarão fumando. Em 2025, serão apenas 10,3% dos brasileiros usuários de tabaco. Em 25 anos, o Brasil passaria de ter 28,5 milhões de fumantes para 20,4 milhões, mesmo em um período em que a população nacional crescerá. SUBSTÂNCIAS 4.700 é o número de substâncias tóxicas encontradas no cigarro. Entre elas está à nicotina que causa a dependência química, os resíduos vão se acumulando e terminam contribuindo para ao surgimento de doenças respiratórias, circulatórias causa doença como o câncer de boca, pulmão e bexiga. Além disso, pode causar impotência sexual nos homens, complicações na gravidez, aneurismas arteriais, úlcera do aparelho digestivo, entre outros. OMS Dados da entidade avaliam que sete milhões de pessoas morrem ao ano por conta do uso do cigarro ou por sua exposição à fumaça. “Muitos sabem que o tabaco causa câncer e doenças nos pulmões. Mas muitos não sabem do risco de doenças cardíacas”, disse Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS. [caption id="attachment_129413" align="alignnone" width="300"] ‘’Parar de fumar não é algo fácil, principalmente para quem começou cedo, há casos que só com ajuda de profissionais”, diz Vetrúcia Texeira (Foto: Ascom Sesau)[/caption] Ex-fumantes relatam que ajuda é fundamental para deixar o cigarro A gestora pública, Maria Auxiliadora Menezes disse que conseguiu parar de fumar com ajuda de profissionais e ressalta que no início foi complicado. “Comecei a fumar com 13 anos de idade. Não tinha consciência de nada. Começou como uma brincadeira. Fumei por 40 anos e adorava. Mas, após esse tempo resolvi parar e procurei ajuda médica. Fui ao Ministério de Saúde no núcleo do II Centro de Saúde aqui em Maceió. Eles têm um apoio total e com a ajuda de vários profissionais e de todos os aparatos como adesivo e remédios eu consegui parar. E já faz um ano e três meses que não fumo”, conta Maria. Segundo a gestora pública, em 40 anos como fumante ela parou por cinco anos, mas teve uma recaída. “Nesse tempo eu parei por cinco anos do nada. Apenas perdi a vontade de fumar, mas voltei também do nada. Então resolvi procurar ajuda”, explica. Ela afirma que raramente sente vontade de fumar. “É tudo questão de hábito. Espero não ter uma recaída, mas caso tenha, o conselho é procurar ajuda antes de colocar o cigarro na boca. E espero que isso não aconteça mais. No início é complicado, mas quando a gente quer algo, e tem vontade a gente consegue”, ressalta a ex-fumante. Maria Helena de Andrade também começou fumar nova, aos 25 anos, mas resolveu parar por causa da doença do esposo. [caption id="attachment_129408" align="alignnone" width="225"] Maria Helena começou fumar nova aos 25 anos, mas resolveu parar por causa da doença do esposo (Foto: Acervo Pessoal)[/caption] “Meu esposo também fumava e eu acabei acompanhando. Eu passei uns 25 anos fumando. Mas, ele adoeceu de repente. Como eu que tinha que ficar no hospital cuidando dele não podia fumar. Eu coloquei na minha cabeça: eu não posso fumar, pois ele vai sentir o cheiro, por que fica no corpo. Como ele havia parado. Eu tinha que parar também”, conta Helena. Maria Helena conta que certa vez foi ao mercado para comprar barbeador para o marido e comprou uma carteira de cigarros e colocou um na boca, mas não gostou do sabor e jogou. Pegou o segundo, e jogou também e disse para ela mesma que própria ia parar. “Então, quando cheguei ao hospital eu peguei toda a carteira e joguei no lixeiro e disse que nunca mais iria fumar, pois o cigarro não tem mais força que Jesus. Quando minha filha era nova eu fumava escondido dela e das colegas, mas isso não adianta. Estava mentindo para mim mesma. Hoje eu não fumo mais. Nem sinto vontade e nem gosto quando tem alguém fumando próximo a mim. Meu esposo adoeceu e umas das coisas foi o uso do cigarro e como estava com ele, resolvi parar. Deus me guiou nisso”, diz Andrade.