Saúde

Aleitamento materno exclusivo não alcança 30% dos bebês

Mães relatam dificuldades de amamentação e, segundo a Sociedade Alagoana de Pediatria, ainda falta informação

Por Evellyn Pimentel com Tribuna Independente 04/08/2018 09h22
Aleitamento materno exclusivo não alcança 30% dos bebês
Reprodução - Foto: Assessoria
Amamentar de forma exclusiva até os seis meses do bebê para muitas mães é uma verdadeira “prova de fogo”,  quer seja  pela necessidade de retorno ao trabalho, dificuldades na adaptação ou até por palpites de familiares e amigos. Dados da Sociedade Alagoana de Pediatria apontam que menos de 30% dos bebês recebem amamentação exclusiva. “Menos de 30% dos bebês permanecem em aleitamento exclusivo até os seis meses de vida. É uma parcela muito pequena. Varia de região para região, conforme crenças, práticas. Mas estudos em todas as partes do mundo mostram que há um desmame muito grande, desde o primeiro mês de vida. Tanto pelas questões relacionadas à volta ao trabalho, um problema social que contribui muito para a questão do desmame precoce, quanto pela falta de informação e acompanhamento de profissionais de saúde. Mas para mim, a desinformação é a maior causa do desmame”, acrescenta o presidente da entidade e pediatra João Lourival de Souza Júnior. A falta de informação é apontada como a principal causa para as dificuldades na adesão exclusiva ao leite materno. Por isso, o médico avalia que é preciso que as mães sejam orientadas de forma consistente e antecipada, evitando erros comuns depois que os bebês nascem. “Dizem que precisa dar água, que precisa dar chá... Ou que o leite é insuficiente... Mas na maternidade a gente trabalha a questão e que a mãe produz leite suficiente para seu bebê, para as necessidades dele, mas aí vem o vizinho, a avó, outra lactantes e deixam as mães inseguras quanto à amamentação. A informação deve ser precoce, desde o pré-natal. Por isso a Sociedade Brasileira de Pediatria empreendeu uma campanha para que a gestante passe por um pediatra antes do parto. Inclusive já há uma lei que obriga planos de saúde a pagar uma consulta com pediatra antes do trabalho de parto, justamente para que a mãe comece a se deparar com esses assuntos que serão pertinentes após o nascimento de seu filho. Entender que o aleitamento materno exclusivo não é dar água, não é preciso complementar com absolutamente nada”. [caption id="attachment_122981" align="aligncenter" width="500"] Aysleine enfrentou dificuldades para amamentar exclusivamente o pequeno Augusto, mas as superou (Foto: Acervo pessoal)[/caption] Leite materno é o “alimento de ouro” Desde o ano passado o mês de agosto, ou Agosto Dourado, é mês dedicado à conscientização da importância do aleitamento materno e da exclusividade até o sexto mês de vida. O dourado foi escolhido pela expressão “alimento de ouro”,  utilizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). “O leite materno é disparado o melhor alimento do mundo. Não é comparado a nenhum outro. Fortalece o vínculo mãe e filho de forma substancial. Os estudos mostram que as crianças são mais inteligentes e emocionalmente mais capazes quando são amamentadas, mas a gente ainda precisa enfrentar a desinformação e as crenças que são diversas”, diz o pediatra. Com Aysleine de Barros o início da amamentação foi um processo doloroso e cheio de desafios. Atualmente, o filho Augusto tem 4 meses e ela conta que conseguiu superar as dificuldades. Além disso ela revela que amamentar tem sido uma experiência extremamente positiva. “Meu bebê completou 4 meses e particularmente adoro amamentar, no primeiro mês foi difícil para nós dois; pra ele, que estava em um mundo novo e tinha que aprender a mamar e pra mim que não sabia nada sobre amamentação, porque a teoria é bem diferente da prática. Tive apojadura, onde meus seios ficaram bem doloridos e me sentia como se tivesse doente, quando vim melhorar desses sintomas, logo no primeiro mês tive mastite e foi muito difícil amamentar com dor, toda vez que ele abocanhava a mama eu chorava, mas sabia que passaria e não queria deixar de amamentar, por mais doloroso que estava sendo os primeiros meses e no final do segundo mês que a mastite sumiu, sumiram todos as dificuldades, medos e todas as dores, já me sentia muito mais confiante e com vontade de sair ajudando todas as mães de primeira viagem”, detalha. Segundo Aysleine orientações durante a gravidez são importantes, porque ajudam as futuras mães na preparação. No caso dela, como de muitas outras, faltou informação. “Durante a gravidez não tive a orientação sobre amamentar, tive uma orientação de usar concha para fazer o bico do peito, por volta do sexto mês da gestação. Acho importante ensinar como amamentar sim”, diz. [caption id="attachment_122982" align="aligncenter" width="500"] Joseane passou por experiências opostas na amamentação dos filhos (Foto: Acervo pessoal)[/caption] Processo de amamentar deve ser considerado natural Mãe de dois, Joseane Márcia da Silva viveu a amamentação de formas bem distintas. Ela afirma que conseguiu realizar o aleitamento exclusivo da filha mais nova, Lavínia, de 8 meses. No entanto, com o filho mais Velho, Eduardo de 8 anos, não obteve o mesmo sucesso. “Tive problemas na primeira gestação com rachaduras nos seios, dores, além de ter precisado voltar a trabalhar logo. Já com a mais nova foi muito natural, eu amei e amo amamentar, até fiquei mais magra [risos]”, diz a mãe. Ela conta ainda que recebeu muitas opiniões no período da amamentação, principalmente do primeiro filho. “Com meu primeiro filho ouvi muito que o leite é fraco, que precisava complementar e eu me importava. Já com a segunda não dei importância, achei até a mais fácil, gastei menos... Para mim é muito importante. Pretendo amamentar até um ano ou mais”, afirma. O pediatra reforça que a família precisa insistir na amamentação exclusiva, porque oferecer leite artificial sem recomendação médica dificulta ainda mais a adaptação ao leite materno. “É preciso que as mães entendam que nem todo choro significa fome. É um mito. Porque a criança começa chorar e imediatamente a mãe relaciona a fome ou cólica quando se o bebê não pega o peito, não é fome. Na medida em que você acrescenta um leite artificial e a criança começa a degustar outro sabor, ela começa a rejeitar o leite materno pela maior dificuldade que ela tem de sugar o peito em relação a mamadeira, por exemplo”, acrescenta. De acordo com o Ministério da Saúde após o sexto mês de vida do bebê podem ser introduzidos outros alimentos de forma lenta e gradual. A recomendação é de manter a amamentação até os dois anos de idade ou mais.