Saúde

Mais de 50% das mulheres brasileiras desistem de engravidar por causa do zika

Brasil tem cerca de 2 mil casos de microcefalia potencialmente ligados ao vírus

Por AFP 23/12/2016 00h57
Mais de 50% das mulheres brasileiras desistem de engravidar por causa do zika
Reprodução - Foto: Assessoria

Mais da metade das brasileiras em idade reprodutiva está tentando evitar a gravidez por causa da epidemia de zika que atinge o país desde 2015, de acordo com uma pesquisa publicada nesta sexta-feira (23).

Publicada no "Journal of Family Planning and Reproductive Health Care", a pesquisa foi realizada em junho, com 2.002 mulheres com idades entre 18 e 39 anos, com formação superior e que vivem em zonas urbanas. Esse grupo corresponde a 83% da população feminina total.

Do total, 56% das mulheres entrevistadas interrogadas responderam ter evitado, ou se esforçado para evitar uma gravidez em razão da epidemia de zika.

Pelo menos 27% disseram não ter tomado qualquer medida, enquanto 16% restantes não tinham o desejo de ter um filho, independentemente da epidemia.

A epidemia que atinge principalmente a América Latina se deve ao zika, um vírus transmitido pelo mosquito Aedes aegypti que pode causar graves anomalias cerebrais nos recém-nascidos, cujas mães tenham sido infectadas. No Brasil, o país mais afetado, já conta cerca de 2.000 casos de microcefalia potencialmente ligados ao vírus.

Sem surpresa, mulheres que vivem no norte do país, onde a epidemia foi mais virulenta, são as que mais evitam a gravidez (66%), em comparação àquelas que vivem mais ao sul (46%).

As negras (64%) e as mestiças (56%) também são mais numerosas do que as brancas (51%) a renunciar a uma gestação, "provavelmente" em razão do impacto mais significativo da epidemia "nos grupos raciais mais vulneráveis", afirmam os pesquisadores.

Nenhuma diferença foi observada, porém, em relação à religião.

Para os autores, os resultados do estudo deveriam estimular o Brasil a "reavaliar sua política da Saúde em matéria de reprodução, com o objetivo de garantir um melhor acesso às informações e aos métodos contraceptivos", assim como a rever sua política de "criminalização do aborto".