Pela primeira vez, a comunidade da Ilha do Ferro, em Pão de Açúcar, recebe uma exposição dedicada ao trabalho de Celso Brandão. A abertura da mostra Correnteza: Celso Brandão – Ilha do Ferro será no dia 22 de agosto de 2025, às 18h30, na Galeria Cabra, onde segue em cartaz até 22 de novembro de 2025.

Reunindo 25 fotografias em preto e branco, todas realizadas ao longo da década de 1980, a exposição não se apresenta como um simples conjunto de registros de passagem. São imagens que nascem do convívio, do tempo compartilhado entre o fotógrafo e os moradores, revelando uma relação construída em diálogo. Não há hierarquia de olhares: a comunidade aparece como sujeito ativo, reinscrevendo-se nas imagens.

Com curadoria de Carmen Lúcia Dantas e Cíntia Ribeiro e consultoria curatorial de Adélia Borges, Correnteza propõe um mergulho no imaginário ribeirinho e nas memórias da Ilha, reafirmando o território como espaço de resistência cultural e de transmissão entre gerações.

Além das fotografias, o público será convidado a interagir com a mostra por meio de um caderno de anotações disponível junto às imagens. Nele, moradores e visitantes poderão registrar lembranças, reconhecer rostos, escrever nomes e narrar histórias. A proposta busca reconstruir simbolicamente o tempo em que as imagens foram produzidas, conectando o passado à experiência do presente e ao olhar das novas gerações.

Os registros fotográficos serão acompanhados de textos curatoriais, que ampliam o diálogo entre imagem e memória. A programação ainda inclui visitas guiadas e rodas de conversa, que envolverão mulheres, crianças, artistas, professores e estudantes da região.

A exposição Correnteza - Celso Brandão/Ilha do Ferro é uma realização da Política Nacional Aldir Blanc (PNAB), operacionalizada pela Secretaria de Estado da Cultura e Economia Criativa (Secult-AL) e Ministério da Cultura do Governo Federal. Produção: Pirambeba Lab, Perereca de Brejo. Apoios : Cabra Ilha do Ferro e Fastframe.

📍 Serviço
Exposição Correnteza: Celso Brandão – Ilha do Ferro
Local: Galeria Cabra – Ilha do Ferro, Pão de Açúcar (AL)
Abertura: 22 de agosto de 2025, às 18h30
Período: até 22 de novembro de 2025
Entrada gratuita



Equipe curatorial

CURADORAS

Cármen Lúcia Dantas — Museóloga pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), é mestra em Literatura Brasileira pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal), onde foi professora. Autora de vários livros e pesquisas sobre cultura alagoana, possui vasta experiência nas áreas de levantamento e catalogação patrimonial. Em 2023 foi condecorada com a Medalha do Mérito Museológico pelo Conselho Federal de Museologia. Juntamente com Celso Brandão, conheceu a Ilha do Ferro em 1983. Atualmente, mora entre Maceió e a Casa Pirambeba, na esquina da descida para o Rio São Francisco.

Cíntia Ribeiro — Jornalista, roteirista e pesquisadora. Doutora e mestra em Linguística pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal), investiga o modo como discursos racistas e sexistas modulam a circulação da desinformação no Brasil. Vinculada à Associação Brasileira de Roteiristas (Abra), realizou, em parceria com o cineasta Celso Brandão, os curtas-metragens Mestra Virgínia Moraes (2002) e Mestra Hilda do Coco (2013). Frequenta a Ilha do Ferro desde 1999. Roteirizou o curta-metragem As lavadeiras da Ilha do Ferro (2022). Atualmente, mora entre Maceió e a Casa Pirambeba, na esquina da descida para o Rio São Francisco.

CONSULTORA

Adélia Borges - Adélia Borges nasceu em Cássia, Minas Gerais, perto da nascente do Rio São Francisco. Desde 1970 mora em São Paulo, onde escreve livros e organiza exposições e eventos na área do design e do artesanato. Frequenta a Ilha do Ferro há duas décadas e já promoveu obras daqui em várias exposições no Brasil e no exterior.


TEXTOS CURATORIAIS:


A imagem é uma fenda líquida
“Ao contrário da nascente, que marca um ponto de início na geografia de um lugar, a correnteza leva de arrasto e transforma. O olhar de Celso Brandão, o território ribeirinho e as pessoas, como água do São Francisco, derivam e se misturam na ilha/continente numa temporalidade própria. Produzidas na década de 1980, as 25 imagens que compõem a exposição Correnteza, extraídas do acervo pessoal do fotógrafo, desenham um rastro imaginário nas paredes da Galeria Cabra. Uma fenda líquida na qual a experiência e a memória da comunidade, revisitadas após quatro décadas, deságuam em novos sentidos.
É a primeira vez que essas imagens, agora reunidas e dispostas sobre paredes em paleta de cores rebaixada que remete às antigas casas sertanejas, retornam ao povoado da Ilha do Ferro. Não como um registro documental fechado no tempo, mas como um fluxo contínuo no qual a fotografia representa a superfície visível do lugar/rio que segue seu fluxo entre margens fluidas e impermanências”.
Cármen Lúcia Dantas e Cíntia Ribeiro (Curadoras)



Um mergulho
“Correnteza evoca imagens em profusão que vêm à tona e logo submergem no curso da existência. Algumas bem-aventuradas retornam a seus portos de origem, como agora à Ilha do Ferro, madeira de lei, boca do vento onde o imaginário pontificia, borda, talha o sobrenatural e seus mitos são decantados em prosa e verso. Correnteza resgata fotografias em branco e preto, mergulhos em águas passadas, ainda banhando o povoado e sua gente”.
Celso Brandão (Agosto de 2025)

A arte contagia
“O território expandido da Ilha do Ferro se tornou um orgulho para o Brasil com obras espalhadas pelos quatro cantos do país e do exterior. Que esta exposição sirva para que os habitantes se apropriem da sua história e prossigam na sua jornada, com liberdade, acreditando em si mesmos, ficando firmes nessa vida de comunidade e de convivência amistosa que é tão bonita de se ver. Que também utilizem a ferramenta da fotografia para contar suas próprias histórias, a partir dos seus pontos de vista. E que continuem experimentando e semeando novos caminhos sempre, pois a única coisa imutável de tudo o que está vivo é o estado de constante transformação”.
Adélia Borges