Roteiro cultural
Evento reúne vendedores, colecionadores e amantes de vinil
Com 5ª edição neste sábado, Feira de Discos de Arapiraca se transforma no maior evento do segmento do Estado

Por muito tempo, a capital maceioense foi reduto de colecionadores e vendedores de discos de vinil. Agora, isso se renova com Arapiraca despontando nesse cenário que continua a girar nas mesmas rotações. Com nova edição neste sábado (2), a partir de 12h, a Feira de Discos de Arapiraca está ganhando novos contornos, novamente organizada pela Attack Sonoro Produções e pela Júpiter Discos.
O evento ocorrerá desta vez no Mercado do Artesanato Margarida Gonçalves, no Centro arapiraquense. O evento é gratuito em toda a sua extensão. Haverá discotecagem de vinil com a DJ Déborah Ginga (Maceió), a DJ Fernanda Fassanaro (Maceió) e o DJ Arthur Luna (Maceió/Cariri-CE).
Além disso, a postos, estarão mais de 20 expositores, contando ao longo da tarde e da noite, e ainda acontecerão as apresentações musicais das bandas Projeção (Arapiraca), Mopho (Maceió), Papangu (João Pessoa), Podridão (Arujá-SP) e Velho (Duque de Caxias-RJ).
A renomada Mopho está completando 25 anos de seu debut. Papangu tocou recentemente no Knotfest e vem pela primeira vez para Alagoas, nos preparativos para a turnê inédita na Europa, honrados por estarem na terra de Hermeto Pascoal. Por sua vez, Podridão e Velho estão em turnê conjunta, divulgando seus novos álbuns. E, claro, a Projeção, a banda mais nova dentre essas, será prestes a lançar seu segundo single.
“Tudo começou em 2020. Carlos Kodall e eu já tínhamos estudado juntos, então, durante a pandemia, trocamos mensagens e ele me convidou pra criarmos a banda ‘Erro 404’ com mais alguns amigos. Com o tempo, a formação foi mudando, amadurecemos as ideias e mudamos nosso nome pra Projeção”, diz Miguel Mantra, baixista e vocalista da banda. Além dele, estão no cast Yago Andra (bateria) e Mateus Medeiros (guitarra e voz), além de Kodall (guitarra).
O quarteto é arapiraquense. Eles lançaram recentemente o single “Muito a Dizer”. O próximo se chamará “Hipotermia”. “Será uma mistura de indie e punk, com a letra mais emo que já escrevi. Todos os integrantes participaram da composição que, inclusive, já está gravada. Estamos no meio do processo de mixagem. Em 19 de setembro, vai estar disponível para todo mundo ouvir”, adianta ele.
Sobre estar abrindo para bandas de renome nesta Feira, ele reforça: “Chegamos longe! A gente está orgulhoso por ter chegado a esse ponto, tocando num evento como este, com a oportunidade de mostrar nossas criações. Ter contato com o público e com artistas autênticos é o que a gente quer. A meta é nos tornarmos uma banda de renome, como esses que a gente admira. Então, ainda há muita aventura pela frente”.
A VITROLA DÁ VOLTAS
Anteriormente, deixado de lado, agora o vinil está em alta, mesmo em plena era do streaming. De acordo com levantamento feito e divulgado pela Pró-Música Brasil este ano, os discos superaram a venda de CDs em nosso país, representando mais de 76% das vendas de itens em formato físico em 2024 (algo em torno de R$ 16 milhões sendo movimentados no mercado).
Desse modo, o mercado fonográfico brasileiro está atento a esta “onda nostálgica”. Muito antes disso, os organizadores da Feira de Discos de Arapiraca já estavam a postos. Para o organizador Carlos Eduardo Silva, da Attack Sonoro, a Feira funciona como um braço da Economia Circular no município, pois vários dos produtos são ‘usados’. Assim, a Capital do Agreste faz rodar — literalmente — os discos de vinil, esse item que tem voltado com força nos últimos anos.
“O sentimento é de realização por alcançarmos agora uma edição deste calibre, com expositores de Alagoas, Rio de Janeiro e João Pessoa e cinco bandas de alto nível. E tudo isso sendo gratuito, com uma programação multicultural, para todos os gostos. O foco é realmente entregar algo de qualidade e único para a população arapiraquense! Estamos muito satisfeitos e fica agora o desafio para a próxima edição superar esta, com Arapiraca cada vez mais entrando nos radares e rotas de grandes bandas e produtoras de todo o Brasil. Desta vez, contamos com a Política Nacional Aldir Blanc, a partir de edital municipal, e também com o apoio cultural de empresas da região que acreditam na potência que um movimento representa para a nossa cidade. É realmente algo no padrão que estávamos almejando. Então, fazemos o convite para todo mundo visitar e vivenciar a Feira neste sábado”, diz Carlos Eduardo, o Dudu.
Com discos a partir de R$ 5, haverá por lá também CDs, DVDs, livros, revistas especializadas, pôsteres, HQs, camisas, fitas cassetes, meias, bonés e muito mais elementos da cultura vintage.
Estarão presentes os expositores Radiola 3x1 (Arapiraca); Bolinho Discos (Arapiraca); Solar Discos (Maceió); DZ Discos (Arapiraca); Júpiter Discos (Arapiraca); Ginga Discos (Maceió); Escritos e Discos (Maceió); Nervura Distro (Maceió); Só Discos 2022 (Maceió); Rio Vintage Sound (Rio/Maceió); Oliver Discos (João Pessoa); Relivro (Arapiraca); Rei dos Livros (Maceió); Attack Sonoro (Arapiraca); Um Disco do Bom (Maceió); Sorte Discos (Maceió); Manoel Music (Feira Grande); A Kentinha (Arapiraca); Alex Mago CDs (Arapiraca); Joelhos de Velho (Maceió); e Zona Morta Discos (Arapiraca).
No local, também estarão as banquinhas das artistas visuais arapiraquenses Senhorita Mariposa (Lena Gonzaga) e Belladonna of Art (Jane Avril), que inclusive farão a Oficina de Pintura Livre para pessoas previamente inscritas via Instagram, na página oficial da Feira.
O SOL TAMBÉM GIRA
Um dos expositores desta nova edição é o sempre-presente Jailson Alvim, da Solar Discos, de Maceió. Em toda Feira, ele está com sua banca. “Tenho a Solar desde 2009. Vender vinil é um sonho de infância. Eu ia nas lojas e via como era legal trabalhar ouvindo música e ficava me imaginando vendendo e ouvindo os discos”, brinca sobre o emprego dos sonhos.
Ele é grande fã dos consumidores arapiraquenses. “Desde a primeira vez que trouxe minha banquinha de discos para cá, em 2016, no Rock Pró Cultura, percebi que o público daqui é muito voraz por discos, literatura, quadrinhos alternativos, shows em geral. Prestigiam e incentivam seus artistas e bandas, indo às apresentações, ouvindo suas músicas. Existe reciprocidade na cultura da cidade e isso é muito importante”, diz o dono da Solar.
Para ele, sem dúvidas, Arapiraca girou a chave. “Essa edição já se configura como a maior feira de discos do Estado, a mais diversa e com mais expositores de discos e artistas visuais! As atrações musicais estão muito boas e colaboram pra que atraia um público muito maior — quanto mais gente, maior a expectativa de vendas. Vejo esse movimento do vinil como uma resistência que cresce a cada edição da feira. Dudu e Geneton [Araújo, da Júpiter Discos] são os caras que tornam isso possível aqui. Ver esse público diverso e de várias cidades consumindo música, ouvindo música, conversando sobre música é uma realização e honra para mim participar com a Solar Discos”, conclui Jailson.
Outro que acredita na força do encontro proporcionado por um evento desse quilate é Iran Silva, do Radiola 3x1, projeto que existe desde 2018. “Com certeza, será um superevento, tanto em se tratando de público, das atrações e, claro, das vendas. Estou desde a primeira edição, realizada na antiga Praça da Prefeitura. E não à toa: o vinil tem retornado pela sua importância — além da nostalgia, há todo um ritual para se ouvir um disco: sentir a mídia, o cheiro, a leitura do encarte, o fato de ter dois lados... É algo sublime”, diz Iran.
Segundo ele, passar a ser vendedor no colecionismo é algo natural. “Por exemplo: em um lote grande recém-adquirido, sempre vêm títulos repetidos. Esses vão pra venda. A Feira acaba sendo esse espaço pra mostrar o que dispomos. E a ideia futuramente é abrir um ponto de encontro dos amantes do vinil. Um ponto físico. Mesmo Arapiraca tendo ares de modernidade, ainda tem um quê de provinciano, de conservador. Isso nas artes, na música, na religião”, comenta ele, que estará com uma banquinha com vários petardos,
escolhidos a dedo.
De quebra, ele, todo domingo, realiza o projeto “Pôr do Som”, no fim da tarde no Vila Vinil, em Arapiraca. Mais uma vez, o sol mostrando o caminho que percorremos e que ainda devemos encarar. Esse olhar para dentro, que só a música consegue nos proporcionar quando nos dedicamos e nos abrimos a ela. Para mais informações sobre a programação e para não perder nenhum giro da vitrola dessa nova Feira, siga o Instagram oficial @feiradediscosarapiraca.
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