Com a Câmara dos Deputados tendo aprovado o PL da Dosimetria, que reduz a pena para os condenados pela tentativa de golpe de Estado e outros crimes cometidos no 8 de janeiro de 2023, partidos políticos e movimentos sociais convocaram para domingo (14), uma mobilização nacional de protesto. A atividade acontece em várias capitais do país, inclusive em Maceió. Na capital alagoana, o chamado é para as 9h na orla de Ponta Verde.

A organização em Alagoas está por conta dos partidos, sindicatos e movimentos sociais. De acordo com o presidente da Central Única dos Trabalhadores de Alagoas, Luciano dos Santos, o ato deve reunir várias categorias.

“A organização desse evento nacionalmente está se dando pelas Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo. Dentro dessas frentes estão incluídos partidos políticos, movimento estudantil, movimento de luta pela terra, por moradia, sindicatos, centrais sindicais e organizações da sociedade civil. São várias entidades. Aqui no Estado a CUT se somou ao Partido dos Trabalhadores, ao PDT, ao PSOL, e à UP, para a gente fazer um grande ato no dia 14 às 9h da manhã com concentração na Praça Sete Coqueiros”, destaca Luciano em contato com a reportagem da Tribuna Independente.

O sindicalista confirma que a principal motivação do protesto foram os acontecimentos da última semana em Brasília. “É a nossa reação de indignação contra um processo que ocorreu na madrugada, na Câmara Federal. Com o [presidente da Câmara] Hugo Motta atacando jornalistas, com um ataque direto à democracia através do corte do sinal da TV Câmara. A gente não pode simplesmente assistir esse processo. Para nós, o PL da Dosimetria na prática, é uma mais uma tentativa de anistiar os golpistas do 8 de Janeiro e o seu principal líder da extrema direita, que está agora condenado e preso [ex-presidente Jair Bolsonaro]. E esse grupo, mais uma vez não aceitando a decisão do poder judiciário, desrespeita a democracia brasileira e joga o parlamento contra o povo”.

Como reação à aprovação de várias pautas que têm sido aprovadas no Congresso Nacional que são vistas como impopulares, as lideranças têm reforçado uma campanha de desgaste dos parlamentares.

“Um dos eixos dessa atividade é essa questão do Congresso Inimigo do Povo, no tocante às medidas que o congresso vem tomando. O modus operandi é o mesmo, sem discussão com a sociedade, sem respeitar os ritos constitucionais, na questão de um ataque à democracia, que é para nós um pilar indiscutível, não tem o que falar sobre pessoas ou grupos políticos que o tempo todo tramam, para quebrar nossa democracia. A gente não vai assistir”, reforça o presidente da CUT em Alagoas.

“A gente espera fazer um grande ato, mostrando toda indignação nossa, visto que as pautas que interessam ao povo brasileiro, a classe trabalhadora, principalmente aqui de Alagoas, não está sendo tratada com a devida atenção. Redução da jornada, sem a redução do salário, fim da escala 6 por 1, e a questão da demarcação das terras indígenas. A gente inclusive está tendo retrocessos, inclusive no Senado. Existem várias medidas que deveriam beneficiar a população e o Congresso abandona essa pauta para simplesmente confabular nas madrugadas votações escusas e absurdas como essa de tentativa de anistiar quem tentou dar o golpe na nossa democracia”, complementa.

Nos sindicatos, a convocação está sendo feita. Izael Ribeiro, presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Educação em Alagoas (Sinteal), explica que é importante mobilizar todo mundo.

“Mais uma vez vamos ocupar as ruas para defender a democracia desse país. A educação tem cumprido um papel de fortalecer a luta coletiva, de contribuir com a consciência da população. Não podemos deixar que a impunidade se instale, abrindo espaço para novas tentativas de golpe ou de crimes que fragilizam o país. Nós da classe trabalhadora, e principalmente da educação, somos alvos desse grupo político que defende a volta da ditadura”, diz.

TEMOR POR

IMPUNIDADE

Entre os parlamentares alagoanos que votaram contra o projeto de dosimetria está o deputado Paulão (PT). “Esse projeto é uma anomalia, um grande arranjo junto ao centrão e ao poder econômico para salvar Bolsonaro e torná-lo elegível”.

Sobre as demarcações indígenas ele também se posiciona. “Sou favorável. Nunca houve uma reparação e eu sou totalmente de acordo com o que o presidente Lula vem fazendo”.

Paulão explica que pretendia participar da manifestação, mas estará em trânsito para um compromisso do parlamento do Mercosul. “Eu iria, mas eu sou do Parlasul e vai ter uma reunião na segunda-feira [15], em Montevidéu, no Uruguai. Como temos poucos voos, saio daqui no domingo, 2h, até São Paulo para de lá ir a Montevidéu”.

O deputado estadual Ronaldo Medeiros, presidente do PT Alagoas, espera multidão na rua. “É absurdo que se queira anistiar ou diminuir pena e premiar golpistas que tentaram contra o Estado. Além do demais, pessoas que são assassinas, porque tentaram matar ministro, presidente, vice-presidente, ministro do Supremo Tribunal Federal, e nós não podemos aceitar esse tipo de anistia que vai beneficiar criminoso”.

Na visão do petista, aqueles que foram favoráveis à impunidade foram contra a democracia.

“Uma parte da Câmara, não foram todos, votou de forma errada. Isso é muito ruim para a democracia. Um atentado contra a democracia deve ter mais pena, não redução. Então, nós já estamos mobilizando, o Partido dos Trabalhadores vai participar sim. Foi o partido que nacionalmente puxou nesse evento, esse ato, junto com os parceiros do nosso campo político. Estaremos domingo a partir das 9h na orla com os companheiros e companheiras da população em geral para a gente fazer um grande evento lá no 7 Coqueiros”, finaliza.