Política

ALE ensaia aprovar reserva ambiental em áreas de erosão

Projeto de autoria do deputado Francisco Tenório (PP) fica fora da pauta para esperar realização de audiência pública

Por Ricardo Rodrigues - colaborador / Tribuna Independente 04/09/2024 09h18
ALE ensaia aprovar reserva ambiental em áreas de erosão
Deputado Francisco Tenório (PP) retirou o projeto da pauta para ouvir as vítimas da Braskem - Foto: Ascom ALE

A Assembleia Legislativa de Alagoas (ALE) retirou da pauta de votação, na sessão de ontem (3), o Projeto de Lei (PL), de autoria do deputado Francisco Tenório (PP), que cria a Reserva Ambiental na área afetada pela exploração de sal-gema pela Braskem, em Maceió.

A matéria estava para ser aprovada em segunda votação pelo plenário da Casa, mas foi retirada da pauta a pedido do deputado Chico Tenório. Segundo a assessoria dele, antes da votação a proposta será debatida com a comunidade numa audiência pública, cuja data ainda será definida.

O texto do PL de Tenório proíbe ainda a realização de atividades econômicas prejudiciais ao meio ambiente dentro dos limites da reserva, assim como veda a instalação de novos empreendimentos industriais na área. “É vedada a instalação de novos empreendimentos imobiliários de qualquer natureza na área”, completa artigo do projeto.

Para o empresário Alexandre Sampaio, presidente da Associação dos Empreendedores Vítimas da Mineração em Maceió, a aprovação do PL pode trazer prejuízos bilionários para Alagoas, porque a Braskem tiraria proveito dele ao exigir indenização pela desapropriação da área que ela se acha dona, desde que desativou os imóveis, desalojou e indenizou as famílias que ali residiam.

De acordo com Sampaio, “caso o PL seja aprovado transforma a área comprada ilegalmente pela Braskem numa reserva ambiental; e ao proibir a construção de qualquer coisa, um projeto que aparentemente é bem-intencionado, na verdade expõe o Governo de Alagoas e traz um risco bilionário, porque a Braskem vai alegar apropriação indireta e cobrar indenização do Estado”.

“Na prática, se os deputados da Assembleia aprovarem esse projeto e o governador Paulo Dantas decidir sancioná-lo estarão cometendo um erro gravíssimo, com sérias implicações econômica para o Estado de Alagoas”, acrescentou Sampaio, em vídeo postado ontem à tarde nas mídias sociais. Ele pediu que os internautas compartilhassem a mensagem para evitar que o PL fosse aprovado.

Efeito contrário
Aprovação pode gerar ação da Braskem contra o Estado

Para Alexandre Sampaio “se você conhece alguma das vítimas da Braskem, uma das 60 mil pessoas, seis mil empresas, 15 mil trabalhadores e sete mil estudantes que foram afetados pela mineração criminosa da Braskem dessa, repasse esse vídeo a frente o mais rápido possível porque a Assembleia está ameaçando aprovar esse Projeto de Lei, em segunda vocação, a qualquer momento”, recomentou Sampaio.

Segundo ele, a Assembleia chegou a locar o Projeto de Lei na pauta. No entanto, a votação foi suspensa depois das pressões das vítimas, nas redes sociais. A proposta iria ser aprovada mesmo sem a realização da Audiência Pública. Mas alguns deputados, que se comprometeram em só votar o projeto após a participação popular, teriam solicitado que a matéria fosse retirada da pauta.

“Seria um absurdo aprovar esse projeto sem ouvir as vítimas e os moradores das áreas afetadas”, afirmou a bióloga Neirevane Nunes. Segundo ela, a notícia de que o PL entraria ontem em votação pegou a todos de surpresa. Até porque havia um compromisso com o autor da matéria, deputado Chico Tenório (PP), de só colocá-lo em pauta após a realização de uma audiência pública para debatê-lo com a comunidade.

“É inaceitável que este projeto seja votado sem um amplo debate com a sociedade, especialmente para discutir a questão central da titularidade sobre a área. A proposta em questão abre caminho para que a Braskem tenha o direito de receber do Estado o valor de mercado da área por meio de um processo de desapropriação indireta”, argumentou Neirevane. 

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