Política

Deputado retira Projeto de Lei da reserva ambiental da pauta de votação

Chico Tenório disse que vai ouvir comunidade afetada pela mineração antes de colocar matéria para ser votada novamente

Por Ricardo Rodrigues - colaborador / Tribuna Independente 15/08/2024 09h21 - Atualizado em 15/08/2024 15h50
Deputado retira Projeto de Lei da reserva ambiental da pauta de votação
Máquinas destruíram casas no Pinheiro, região das mais afetadas pela mineração nociva da Braskem - Foto: Edilson Omena

Após pressão das vítimas da Braskem e atendendo um pedido do deputado estadual Ronaldo Medeiros (PT), o deputado estadual Francisco Tenório (PP) retirou da pauta de votação, em segundo turno, o Projeto de Lei que propõe a criação de uma reserva ambiental na área dos bairros afetados pela mineradora Braskem, em Maceió.

"É muito difícil uma proposta dessa agradar a todos os lados. Por isso compreendo essa polêmica toda”, afirmou Tenório, ontem à tarde, na porta do plenário, antes de entrar para a sessão, que tinha na pauta a votação o PL 659/2023. Depois de uma conversa com Medeiros, Tenório retirou o projeto da pauta.

A proposta dele já havia sido aprovada em primeira votação, na semana passada. Na terça-feira, a matéria voltou ao plenário após pareceres favoráveis dos deputados Alexandre Ayres (MDB), na Comissão de Constituição e Justiça, e Leonam Pinheiro (União Brasil), na Comissão de Meio Ambiente.

No entanto, o projeto de lei não foi votado, muito menos aprovado. Apenas teve o seu texto lido e ficou de ser votado na sessão de ontem, mas diante da pressão dos moradores e ex-moradores dos bairros que afundam, o autor da proposta recuou e tirou a matéria da pauta, deixou para colocá-la de novo à apreciação do plenário em outra dada.

“Nesse meio tempo, até marcar uma nova data para a votação, vou ouvir a comunidade, os moradores da região e as vítimas da mineração”, afirmou Tenório.

Segundo ele, a sua proposta não tem influência nenhuma da Braskem. “A criação da reserva ambiental vem exatamente no sentido contrário, para evitar que a Braskem tome conta de tudo”, garantiu.

Tenório disse também que, com a criação da reserva ambiental, toda área de risco, delimitada pela Defesa Civil de Maceió, passa a ser patrimônio do Estado, que será responsável pela sua administração. A prefeitura de Maceió não teria ingerência nenhuma na reserva, ficaria responsável apenas pela limpeza urbana da área.

Caso seja aprovado, depois da comunidade ser ouvida, o projeto segue para a sanção do governador Paulo Dantas (MDB).
Mesmo não sendo mais do grupo político do governo do Estado, Tenório acredita que o governador deverá sancionar o projeto. “A proposta é boa porque resolve uma questão até então sem solução”, disse ele.

Tenório disse ainda que iniciativa é a primeira que dará destinação para as áreas inabitadas após a retirada da população, equipamentos públicos e empresas. Segundo ele, a aprovação acaba com as especulações de que a empresa poderia negociar as áreas adquiridas após acordos judiciais com os ex-proprietários.

No entanto, o deputado reconhece que a proposta é polêmica e precisaria ser melhor debatida com a comunidade, por isso estava inclinado a retirá-la da pauta.

Com o pedido do deputado Ronaldo Medeiros, ele decidiu postergar a aprovação da matéria para evitar que o PL fosse vetado pelo govenador Paulo Dantas.

De acordo com o Projeto de Lei, toda área afetada pela exploração de sal-gema e demarcada como área de risco pela Defesa Civil Municipal será incorporada à reserva ambiental e florestal. Na proposta, está descartada a construção de conjuntos habitacionais públicos ou privados, como chegou-se a especular.

“É vedada a instalação de novos empreendimentos imobiliários de qualquer natureza na área”, garantiu Tenório.

A proposta dele define também que o plantio será de responsabilidade da empresa, porém a gestão será conduzida por um órgão ambiental de Alagoas. Também será criado um Conselho Gestor com representantes do Estado, da comunidade, entidades representativas e organizações não-governamentais.

Região passaria a ser propriedade pública administrada pelo Estado

O deputado disse ainda que uma vez constituída, a reserva ambiental passa a ser propriedade pública, administrada pelo Estado e será utilizada para o benefício da cidade, com a realização de pesquisas científicas e educação ambiental.

Na área próxima à lagoa Mundaú, não haverá edificação nenhuma, apenas um parque e área de lazer.

Pedido de veto

Por meio das mídias sociais, os representantes das vítimas da mineração pediram aos moradores e ex-moradores dos bairros que se mobilizem para acompanhar de perto a tramitação do Projeto de Lei na Assembleia Legislativa.

“Atenção!! O PL que pretende tornar a área afetada pela Braskem em Reserva Ambiental será votado em segundo turno na Assembleia Legislativa hoje às 16 horas. Quem puder ir pra fazer pressão lá é importante”, convocaram ontem as lideranças.

“Não fomos ouvidos em nenhum momento sobre esse projeto, ele é um golpe pois potencializa o poder da Braskem sobre a área. A sua titularidade não é questionada no projeto, ela continuará com a posse e lucrando em cima do seu próprio crime”, acrescentaram.
A reportagem da Tribuna Independente procurou ouvir a Braskem para saber se a empresa estava por trás do projeto de lei ou se teria interesse que a área de risco fosse transformada em uma reserva ambiental, mas a assessoria de comunicação da mineradora não deu retorno, até o início da noite de ontem.

Fundamentação

Ao apresentar o projeto no último dia 7 para votação na Assembleia Legislativa de Alagoas, o deputado Francisco Tenório explicou que os objetivos da reserva ambiental são: recuperar as áreas degradadas pela atividade industrial e transformá-las em reserva ambiental e florestal; promover a pesquisa científica e educação ambiental; bem como recuperar e restaurar os ecossistemas naturais degradados pela exploração do sal-gema.

“A gestão da reserva ambiental será realizada pelo órgão ambiental competente do Estado de Alagoas, em colaboração com entidades e organizações da sociedade civil.

Também será criado um conselho gestor composto por representantes do poder público, organizações não governamentais e a comunidade local, para a participação na gestão da reserva”, destacou Francisco Tenório.

Pelo projeto fica proibida a realização de atividades econômicas prejudiciais ao meio ambiente dentro dos limites da reserva e a instalação de novos empreendimentos industriais e imobiliários na área. Por fim, a Braskem fica responsável pela demolição e plantios nas áreas afetadas definidas no mapa de risco. “As infrações às normas desta lei estarão sujeitas às penalidades administrativas, civis e criminais, conforme legislação ambiental em vigor”, afirmou o deputado.