Política
Delatores citam caixa 2 em campanhas de Geraldo Alckmin
Segundo delatores, foram repassados R$ 2 milhões a cunhado do governador
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), é citado em depoimentos de diretores e ex-diretores da Odebrecht que assinaram um acordo de delação premiada, informou o Jornal Nacional. De acordo os delatores, Alckmin recebeu dinheiro ilegal para suas duas últimas campanhas ao governo do estado.
A assessoria do governador Geraldo Alckmin disse que qualquer conclusão com base em informações vazadas de delações não homologadas é prematura. Disse ainda que apenas os tesoureiros das campanhas tinham autorização para arrecadar fundos e sempre de acordo com a legislação.
Reportagem publicada pelo jornal “Folha de S.Paulo” nesta sexta-feira (9) diz que o tucano recebeu dinheiro vivo para caixa 2 das campanhas a governador em 2010 e 2014. A TV Globo confirmou o que foi publicado pelo jornal.
Os executivos da empreiteira mencionam duas pessoas próximas a Alckmin como intermediárias dos repasses.
Segundo os delatores, foram repassados R$ 2 milhões em espécie ao empresário Adhemar Ribeiro, irmão da primeira-dama, Lu Alckmin, cunhado do governador. A entrega do recurso teria ocorrido no escritório de Ribeiro, em São Paulo. O Jornal Nacional não conseguiu contato com Adhemar Ribeiro.
Em 2010, o tucano venceu a eleição em primeiro turno e foi eleito governador. Na eleição seguinte, em 2014, segundo os depoimentos, o caixa 2 para a campanha de Alckmin teve como um dos operadores o atual secretário de Planejamento do governo paulista, Marcos Monteiro, político de confiança do governador. A “Folha” e a TV Globo não conseguiram apurar o valor do suposto repasse em 2014.
Questionado sobre a denúncia, Monteiro disse apenas que é tesoureiro do diretório estadual do PSDB em São Paulo há dois anos. Ele acrescentou que presta contas à Justiça Eleitoral com regularidade.
Entre os delatores, estão o ex-diretor Carlos Armando Paschoal, conhecido como Cap, que disse ter pago ilegalmente R$ 23 milhões em 2010 para a campanha presidencial de José Serra, também do PSDB, hoje ministro das Relações Exteriores.
Serra afirmou que suas campanhas sempre foram conduzidas de acordo com a legislação e com as finanças sob responsabilidade do partido. Ele disse também que não cometeu qualquer irregularidade e que espera que tudo seja esclarecido pelas autoridades competentes.
A “Folha” já havia publicado em agosto uma reportagem que dizia que os executivos da Odebrecht revelaram que parte do dinheiro foi entregue no Brasil e parte paga por meio de depósitos bancários realizados em contas no exterior.
A Odebrecht afirmou que, para comprovar que houve o pagamento por meio de caixa 2, vai apresentar extratos bancários de depósitos realizados fora do país que tinham como destinatária final a campanha presidencial do então candidato, José Serra.
CodinomeSegundo a reportagem, o codinome de Geraldo Alckmin nas listas de propina e caixa 2 da empreiteira era "santo".
O apelido aparecia associado nas planilhas da Odebrecht apreendidas pela Polícia Federal à duplicação da rodovia Mogi-Dutra, uma obra do governo Alckmin de 2002. A palavra “apóstolo”, escrita originalmente na página, foi rasurada e trocada por “santo”.
O mesmo codinome é citado em e-mail de 2004, enviado por Márcio Pelegrino, executivo da Odebrecht que gerenciou a construção da linha amarela do metrô da capital paulista.
Na mensagem, Pelegrino diz que era preciso fazer um repasse de R$ 500 mil “com vistas aos interesses locais” da empreiteira. Segundo a “Folha”, o executivo afirma que o beneficiário do suposto suborno era o “santo”.
A assessoria de Alckmin disse também que o apelido "santo" aparece em outros documentos apreendidos pela Lava Jato, referentes aos anos 2000 e 2004, sem qualquer relação com o governador.
O PSDB declarou que não comenta supostas delações não homologadas e que reitera sua confiança nas condutas do governador Alckmin e do ministro Serra.
DelaçõesAs delações dos 77 funcionários da Odebrecht começaram nesta semana e a expectativa dos investigadores é que tudo termine até o fim de 2016. O depoimento mais aguardado é o do ex-presidente do grupo Marcelo Odebrecht, preso na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba desde junho de 2015. Para terem validade, os acordos de delação premiada ainda precisarão ser homologados pelo ministro Teori Zavaski, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF).
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