Política
Resultado das eleições municipais em Alagoas apontam para 2018
Xadrez político começa a ser articulado para um pleito com grandes nomes
Como no Brasil há eleições a cada dois anos – intercaladas entre municipais e gerais – uma cria as condições de vitória eleitoral para a seguinte. O pleito que terminou no último dia 30 de outubro já reflete o que pode ocorrer em 2018, ano em que se vota para presidente da República; senadores, deputados federais e estaduais e governador.
Em Alagoas, o embate eleitoral ultrapassou as opções de voto disponíveis nas urnas eletrônicas. Maceió, capital do estado, foi o mais evidente dos casos. O prefeito reeleito Rui Palmeira (PSDB) focou boa parte de suas críticas ao governador Renan Filho (PMDB), principal apoiador de Cícero Almeida – candidato peemedebista à Prefeitura –, seu adversário no segundo turno.
Isso não ocorreu à toa. Trata-se de preparo de terreno para 2018. Medição de forças e de aceitação de discurso e de imagem junto ao eleitorado. Como também não foi à toa a dura nota pública de Renan Calheiros (PMDB), presidente do Senado, chamando para si o embate político com Rui Palmeira.
“Assim Renan tentou livrar a imagem do filho da derrota de Cícero”, comenta Edberto Ticianeli, jornalista, ex-vereador em Maceió.
PROJEÇÕES
Para o cientista político Ranulfo Paranhos, se as eleições de 2018 fossem hoje, os principais polos de candidaturas seriam PSDB e PMDB, tendo Renan Filho em busca da reeleição e Rui Palmeira como seu oponente.
“Ainda tem muita coisa para acontecer, mas os resultados das urnas demonstram isso. Também vejo, nas condições políticas atuais, o PSDB um pouco mais ‘arrumado’ que o PMDB porque o grupo em torno dele tem nomes mais robustos eleito eleitoralmente”, analisa Ranulfo.
CONJUNTURA NACIONAL
Não só o processo eleitoral deste ano evidencia o quadro político de 2018. Uma série de condicionantes também precisa ser levada em conta, como os espaços que cada peça vai ocupar e a conjuntura política nacional.
Por exemplo, no campo político do PSDB em Alagoas nos dias atuais há alguns nomes que precisam de atenção especial: o próprio Rui Palmeira, o ex-governador Teotonio Vilela (PSDB), o senador Benedito de Lira (PP) e Maurício Quintella (PR), atual ministro dos Transportes, Portos e Aviação Civil.
“Esses são os nomes mais fortes, mas também há outros. Por exemplo, se o senador Benedito de Lira não for candidato à reeleição, ele deixa um espaço aberto para ser disputado. Um dos nomes que vejo como postulante a esse espaço é o do Joãozinho Pereira”, comenta Ranulfo Paranhos.
Para ele, o prefeito eleito de Arapiraca, Rogério Teófilo, teria hoje um papel de organizador eleitoral do PSDB na região Agreste do estado e não seria candidato em 2018.
Além disso, é preciso considerar a conjuntura nacional e o fator Operação Lava Jato que pode respingar em diversos nomes ligados aos grupos do PSDB e do PMDB, como Maurício Quintella – ligado ao ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB) – e o senador Renan Calheiros.
Para Edberto Ticianeli, o quadro nacional será determinante para a formação das chapas no estado.
“A princípio, o PSDB está muito fortalecido para 2018 após as eleições municipais e tem um projeto de poder nacional, mas ainda é preciso aguardar para vermos o resultado da disputa deles entre Alckmin [governador de São Paulo], Serra [ministro das Relações Exteriores] e o Aécio Neves”.
Urnas evidenciam disputa pelo Senado
Ocorre nos bastidores uma tentativa de reaproximação entre Teotonio Vilela e Renan Calheiros. Uma fonte que pediu para não se identificar, mas que transita entre partidos ligados ao PMDB e ao PSDB, garante que o que se está discutindo é a volta dos “irmãos siameses”, como nas eleições de 2002.
“Se isso se materializar, Rui não será candidato em 2018 pelo PSDB porque o candidato da dupla será o Renan Filho. Com isso, a possibilidade de sua saída do ‘ninho tucano’ é forte e alguns partidos como o DEM e o Solidariedade já teriam lhe oferecido guarida”, diz a fonte.
Ainda segundo ela, o senador Benedito de Lira já teria aceitado o pacto desde que se garantisse a reeleição de Arthur Lira, seu filho, para a Câmara dos Deputados. “Mas ele quer que o Rui seja candidato em 2018 para o Marcelo assumir a prefeitura. Ele mesmo não está mais com vontade de ser candidato em 2018”.
Caso a reaproximação entre Teotonio Vilela e Renan Calheiros não se concretize, essa fonte diz que o nome para compor a chapa de senadores daqui a dois anos seria Maurício Quintella. Em 2018, a eleição para o Senado é de duas das vagas. “Nesse caso a chapa majoritária seria Rui para o governo, Teotonio e Maurício para o Senado”, crava.
“Caso a reaproximação ocorra e Rui deixe o PSDB, Maurício o acompanha porque também não será candidato ao Senado se ficar com os tucanos. Já no lado do PMDB, a chapa para o Senado seria completada com Marx Beltrão [atual ministro do Turismo]”, completa.
Entretanto, a fonte pondera que tudo também depende da conjuntura nacional e o nível de desgaste político das peças desse xadrez.
Isolados, partidos de esquerda ficam sem projeto
Diante dos cenários para 2018, os partidos de esquerda devem continuar enfraquecidos. Tanto Edberto Ticianeli quanto Ranulfo Paranhos possuem análises parecidas: isolamento, falta de projeto político e de nomes eleitoralmente viáveis. Para Ranulfo, ainda haveria uma remota possibilidade de disputar vagas na Assembleia Legislativa Estadual, desde que PT e PSOL formem uma coligação. “Mesmo assim seria muito difícil. Nomes como Judson Cabral teriam que estar no jogo”.
“PSB depende de JHC”, diz especialista
Outro partido que deve encontrar dificuldades de construir um campo político forte para 2018 é o PSB. Mesmo com a boa votação de JHC à Prefeitura de Maceió, o partido também requer de nomes mais viáveis e de aliados com robustez. Para Ranulfo, outra dificuldade é que o PSB tem por característica construir projetos de poder em Alagoas e isso “espanta” alianças. “Hoje eles dependem muito do JHC, mas se o Alckmin trocar o PSDB pelo PSB, como se ventila, isso pode mudar”.
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