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"Ataques" acústicos em Cuba afetam 16 diplomatas dos Estados Unidos

Governo americano evitou atribuir culpa às autoridades cubanas, mas diz que investigação ainda não foi concluída

Por AFP / G1 24/08/2017 23h23
'Ataques' acústicos em Cuba afetam 16 diplomatas dos Estados Unidos
Reprodução - Foto: Assessoria

Estranhos "ataques" acústicos afetaram 16 funcionários da embaixada dos Estados Unidos em Cuba, informou nesta quinta-feira (24) em Washington, que investiga esta situação inédita que põe em risco a normalização das relações entre ambos os países.

"Levamos a situação muito a sério", disse a porta-voz do Departamento de Estado, Heather Nauert, sobre o que denominou "incidentes" ocorridos em Havana no final do ano passado, e que as autoridades americanas revelaram no começo de agosto sem dar maiores detalhes.

Nauert disse a jornalistas que esses fatos parecem não estar mais acontecendo, mas confirmou que "ao menos 16" funcionários americanos da missão em Cuba "tiveram algum tipo de sintoma".

Aos prejudicados "foi dado tratamento médico tanto nos Estados Unidos como em Cuba", comentou.

O governo de Donald Trump esquivou-se novamente de culpar Cuba pelas "dores" e "vários sintomas físicos" sofridos por seus funcionários na ilha.

"Não estamos atribuindo responsabilidade neste momento", reiterou Nauert.

Mas o secretário de Estado, Rex Tillerson, qualificou há duas semanas o ocorrido como "ataques à saúde" de cidadãos americanos, e pediu às autoridades cubanas a determinar sua causa.

O Canadá também informou que um de seus diplomatas em Cuba havia sofrido perda de audição e disse que trabalhava "ativamente" para averiguar o que aconteceu.

O governo comunista de Raúl Castro negou categoricamente o mal-trato a diplomatas, e garantiu a investigação dos "incidentes" relatados em fevereiro.

Prática "não alheia ao regime"

Uma organização anticastrista com sede em Miami afirmou que esta prática "não é uma situação alheia ao regime castrista".

"Este tipo de 'ataques acústicos' já foi praticado pelo castrismo anteriormente", apontou o Diretório Democrático Cubano em um comunicado, recordando o recente relato do ex-preso político cubano Luis Zúñiga.

Frente a uma Comissão Internacional de Crimes contra a Humanidade do Castrismo (JusticeCuba), Zúñiga disse no dia 15 de julho em Miami que os "ruídos eletrônicos" foram um método de tortura utilizado regularmente no Pavilhão 47 da prisão Combinado del Este, onde ficou preso em 1977.

Ele contou que instalavam alto-falantes nos dois extremos do corredor de celas e se elevava o volume a níveis insuportáveis para o ouvido humano.

"O som era parecido ao de rádio de onda curta quando não está sintonizado e emite zunidos estridentes", disse. "A tortura durava o dia e a noite toda e terminou quando um preso, Rafael Del Pino Siero, morreu", acrescentou.

Zúñiga disse que em 1981, quando estava na prisão de Bonitao, em Santiago de Cuba, novamente foi submetido "aos ruídos eletrônicos", que teriam sido executados pelo capitão Alvis Matos, "treinado pela KGV soviética".

Oficialmente não se revelou qualquer detalhes sobre as supostas lesões sofridas pelos diplomatas, mas um relatório da CBS News sugeriu que pelo menos uma vítima entre os funcionários americanos sofreu o equivalente a um "dano cerebral".

"Não tem precedentes"

"A investigação está em curso e continuaremos tentando encontrar a origem desses incidentes e o perpetrador", assegurou Nauert, que disse que o ocorrido "não tem precedentes em qualquer parte".

Dois diplomaras cubanos em Washington foram expulsos do país em 23 de maio "como consequência" da repatriação por motivos médicos dos funcionários americanos, uma decisão que Cuba considerou "injustificada e infundada".

"Cuba jamais permitiu nem permitirá que o território cubano seja utilizado para qualquer ação contra diplomatas acreditados nem seus familiares, sem exceção", informou o Ministério de Exteriores cubano dias atrás.

Entretanto, o tenso vínculo entre Estados Unidos e Cuba tem um histórico de queixas de assédio a diplomatas americanos por parte dos cubanos, e vice-versa.

Estados Unidos e Cuba retomaram as relações diplomáticas em 2015, mas a aproximação retrocedeu com a chegada de Trump, partidário de uma linha mais dura ao governo comunista que seu antecessor Barack Obama, promotor do desgelo.