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"Temos que combater fogo com fogo": como é o polêmico interrogatório com afogamento defendido por Trump

Embora apoie uso de método, presidente dos EUA promete respeitar a decisão dos chefes da CIA e da Defesa, que não aprovam tortura de prisioneiros.

Por G1 26/01/2017 19h28
'Temos que combater fogo com fogo': como é o polêmico interrogatório com afogamento defendido por Trump
Reprodução - Foto: Assessoria

Em mais um momento polêmico da sua primeira semana de governo, o presidente Donald Trump defendeu o uso da técnica de simulação de afogamento, conhecida como "waterboarding" em inglês, para a obtenção de informações em interrogatórios.

Trump disse que o método, classificado como tortura, funciona. Na sua avaliação, "se combate fogo com fogo", em referência às práticas adotadas por grupos extremistas.

Em entrevista à rede de TV ABC, o republicano acrescentou que enquanto grupos radicais degolarem pessoas no Oriente Médio, os Estados Unidos "não podem brincar em nenhum campo".

Trump, no entanto, afirmou que consultaria o secretário de Defesa James Mattis e o diretor da central de inteligência, a CIA, Mike Pompeo, sobre a volta da técnica. "Se eles não quiserem, tudo bem."

Ambos já disseram que não são favoráveis ao waterboarding. O ex-diretor da CIA, Leon Panetta, também afirmou que seria "um grave erro voltar atrás" em relação à tortura.

Confira quatro pontos que ajudam a esclarecer a polêmica.

 

1. Como é a técnica?

 

O waterboarding é uma técnica de interrogatório que simula a sensação de afogamento.

A pessoa é amarrada a uma cadeira ou prancha inclinada, com a cabeça para baixo e um pedaço de pano dentro da boca. O interrogador despeja água no rosto dela e a sensação é de que os pulmões estão se enchendo de água.

Na entrevista à ABC News, Trump disse que queria "manter o país seguro".

"Perguntei a pessoas do mais alto escalão dos serviços de inteligência: 'Funciona? A tortura funciona?' E a resposta foi: 'Sim, com certeza'."

Em fevereiro do ano passado, durante sua campanha para obter a vaga republicana na disputa eleitoral, Trump disse que "restabeleceria o waterboarding e um inferno muito pior" nos interrogatórios.

No dia seguinte, porém, o então pré-candidato afirmou que não mandaria os militares desrespeitarem leis internacionais.

 

2. O afogamento simulado é legal?

 

A técnica é ilegal desde 2009, quando o presidente Barack Obama assinou um decreto banindo a tortura como método de interrogatório. A medida foi aprovada pelo Congresso dos EUA.

A CIA começou a usar o afogamento simulado - entre outros métodos de interrogatório - em suas prisões secretas depois dos atentados de 11 de setembro de 2001.

Líderes da al-Qaeda, como Abu Zubaydah e Khalid Sheikh Mohammed, passaram por sessões do tipo dezenas de vezes durante o período em que foram prisioneiros da CIA.

O Manual de Campo do Exército americano, no entanto, proíbe "o tratamento cruel, desumano e degradante" de prisioneiros.

 

3. A técnica pode ser reabilitada?

 

Se Trump confiar na sua equipe, não.

Ele disse claramente à ABC: "Vou confiar em (Mike) Pompeo e (James) Mattis e na minha equipe. Se eles não quiserem a volta, tudo bem. Se eles quiserem, vou trabalhar para isso".

Ao convidar Mattis para ser seu secretário de Defesa, Trump perguntou a ele sobre o uso da técnica.

Trump disse ao jornal "The New York Times": "[Mattis] disse - e eu fiquei surpreso -, 'Nunca achei útil.' Ele disse: 'Me dê um maço de cigarros e umas cervejas e eu consigo um resultado melhor do que com tortura'".

Pompeo tem sido um pouco mais ambivalente. Ele tem defendido o uso de técnicas duras de interrogatório, mas ao ser sabatinado pelos congressistas disse que "não restabeleceria de jeito nenhum" aqueles métodos.

Ao mesmo tempo, escreveu que se a coleta de informações estiver sendo impedida, analisaria a possibilidade de mudar as leis.

O ex-diretor da CIA Leon Panetta, por sua vez, foi mais franco em entrevista ao programa 100 Days (Cem Dias) do canal BBC World News: "A verdade é que realmente não precisamos endurecer o interrogatório para conseguir a informação que precisamos".

"O general Mattis acredita nisso, outras pessoas na área de inteligência acreditam nisso e o FBI também acredita, então acho que seria um erro voltarmos atrás", disse Panetta.

"Acho que isso poderia prejudicar a nossa imagem no resto do mundo", completou.

 

4. Por que as prisões secretas voltaram ao noticiário?

 

As prisões secretas da CIA, conhecidas como black sites, eram locais mantidos em outros países pelo serviço secreto americano.

Depois dos atentados de 11 de Setembro, ocorriam nelas interrogatórios com técnicas de tortura, como o afogamento simulado.

Os black sites foram fechados na gestão Obama. Mas autoridades do governo já revelaram que Trump pediu um estudo sobre a volta dessas prisões secretas da CIA.