Interior

Mais de 10 mil pessoas subiram à Serra da Barriga para celebrar o dia da Consciência Negra

Dia 20 de novembro marca a morte de Zumbi, líder conhecido do Quilombo dos Palmares

Por Claudio Bulgarelli - especial para Tribuna Hoje 21/11/2023 10h37 - Atualizado em 21/11/2023 14h40
Mais de 10 mil pessoas subiram à Serra da Barriga para celebrar o dia da Consciência Negra
Serra da Barriga em União dos Palmares reuniu milhares de pessoas no Dia da Consciência Negra - Foto: Edilson Omena

Durante todo o dia desta segunda-feira, dia 20 de novembro, os olhos do Brasil se voltaram para Alagoas, especialmente para União dos Palmares, município que abriga a Serra da Barriga e o Quilombo dos Palmares. Mais de 10 mil pessoas subiram a Serra para comemorar o Dia da Consciência Negra, o 20 de novembro, que marca também a morte de Zumbi, em 1695, o líder mais conhecido do Quilombo dos Palmares, o maior e mais longevo quilombo da história brasileira. A data, que foi formalizada em 2003, e instituída como feriado em 2011, marcou também os 20 anos da luta antirracista no Brasil, país que recebeu milhares de escravos durante mais de 200 anos.

Foto: Edilson Omena

Desde cedo o movimento já era intenso de pessoas subindo a pé os mais de 2 quilômetros até o platô, onde fica a estrutura restaurada e recuperada nos últimos anos do quilombo. Dezenas de ônibus e carros particulares ocuparam os vários estacionamentos ao longo da subida. Dos municípios vizinhos, milhares de estudantes também estiveram presentes. No platô, dezenas de grupos de capoeira se apresentavam ao ar livre, além de outras apresentações culturais. Muitas pessoas ainda desceram até o lago encantado, onde grupos se apresentavam e pessoas prestavam homenagens diversas.

Foto: Edilson Omena

Estiveram presentes o governador Paulo Dantas; o vice-governador Ronaldo Lessa; o presidente da Fundação Palmares, João Jorge; o prefeito de União dos Palmares, Kil; a secretária de Cultura e Economia Criativa de Alagoas, Melina Freitas, além de deputados estaduais e prefeitos da região Quilombola. Representando a prefeita de Atalaia, estavam por lá a secretária de Esportes, Joana Dar ́c, e a de Assistência Social, Valéria, que levaram um grupo de capoeira.

Foto: Edilson Omena

A Serra da Barriga, que é Patrimônio Cultural Brasileiro inscrito no Livro do Tombo Histórico e no Livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico, desde 1986, recebeu o título de Patrimônio Cultural do Mercosul em maio de 2017. Localizada no município de União dos Palmares, Zona da Mata de Alagoas, a Serra abrange uma área de mais de 27km quadrados e é considerado o primeiro e único parque temático sobre a cultura negra do país.

Foto: Edilson Omena

NO SÉCULO

XVIII, estabeleceu-se na Serra da Barriga, no Quilombo dos Macacos, a sede do Quilombo dos Palmares. Na paisagem natural e edificada, se pode observar ainda, grande quantidade de palmeiras que, segundo historiadores, deram origem ao nome Palmares. Entre as características da Serra da Barriga estão as nascentes que alimentam um açude e uma lagoa. Esta última, denominada Lagoa dos Negros, é um dos lugares sagrados da Serra, onde os religiosos de matriz africana realizam rituais.

O Quilombo dos Palmares representa um marco na luta dos escravos no Brasil. Tal processo diz respeito aos ancestrais africanos que se manifestam nas formas imateriais de suas religiões, seus deuses, mitos, objetos sagrados de cultos, artefatos de uso cotidiano, alimentos, expressões culturais e alguns espaços geográficos mantidos por seus descendentes como locais sagrados ou de preservação da história das pessoas negras trazidas da África.

Com paredes de pau-a-pique, cobertura vegetal e inscrições em banto e yorubá, é possível visitar a Onjó de farinha (Casa de farinha), Onjó Cruzambê (Casa do Campo Santo), Oxile das ervas (Terreiro das ervas), Ocas indígenas e a Muxima de Palmares (Coração de Palmares). Merecem destaque também os mirantes, de onde se avistam paisagens magníficas da Serra da Barriga, chamados de atalaias de Acaiene, Acaiuba, e Toculo, nomes de lideranças quilombolas que ali viveram. A lagoa encantada também é parada obrigatória, com uma linda vegetação e uma energia incrível. Era nela que os quilombolas saciavam a sede, faziam rituais de purificação e afiavam suas armas e ferramentas.