Interior

Palestina alagoana vive em clima de paz

Ao contrário da guerra, no Sertão de Alagoas o povo dorme de portas abertas

Por Ricardo Rodrigues - colaborador / Tribuna Independente 21/10/2023 15h44 - Atualizado em 21/10/2023 20h55
Palestina alagoana vive em clima de paz
Cidade vive clima de tranquilidade sem homicídios desde 2020 - Foto: Edilson Omena

A Palestina sendo disputada entre judeus e muçulmanos, numa guerra sem fim, que se arrasta há séculos, com momentos de paz e acordos de não agressão, mas a situação piorou de 1948, após a Segunda Guerra Mundial, com a criação do Estado de Israel, sem que fosse criado também o Estado da Palestina. De lá para cá, a Organização das Nações Unidas (ONU) até que tentou controlar o clima de beligerância entre árabes e judeus, no Oriente Médio. Depois da tempestade Árabe, houve conflitos e protestos em vários países – Tunísia, Síria, Irã, Iraque, até chegar ao Egito. A zona de guerra se alastrou, chegando à Europa, com a guerra da Rússia contra a Ucrânia, também por território.

O conflito já dura mais de um ano. Há duas semanas, o Hamas atacou Israel, dando início à essa guerra, que já deixou milhares de mortes, a maioria civis e crianças, um verdadeiro genocídio. Bombardeios, sequestros, tortura, reféns, tiros, bombas e explosões. Um fogo cruzado entre as tropas do Hamas, contra Israel, considerado o terceiro país mais bem armado do mundo. Só perde para os EUA e a Rússia. O fogo cruzado entre Hamas e Israel, que sempre foram povos irmãos, está ceifando a vida de muitos israelenses e dizimando a população da Faixa de Gaza, no lado Palestino; há mortos e feridos também na Cisjordânia, onde domina a Autoridade Palestina, representando o Estado Palestino.

Enquanto o conflito no Oriente Médio é mostrado pela televisão, noticiado no rádio e comentado nas mídias sociais, a população de pouco mais de 5 mil habitantes, da pacata Palestina, no Sertão alagoano, vive um clima de paz e tranquilidade. Na sede da prefeitura, pela manhã, a secretária de Administração, Edivânia Nogueira dos Santos, disse que a cidade se encontra em oração permanente pelo fim da guerra na Palestina do Oriente Médio.

“Aqui a gente dorme de portas abertas, não há perigo algum, casos de roubos são poucos, de mortes também, o último assassinato foi em 2020, em Palestina, guerra só na televisão”, afirmou Edivânia, que é católica e se orgulha do nome da cidade, por sua origem bíblica.

“Bombas aqui, só nas festas de São João”

Tranquilidade é a tônica na cidade sertaneja alagoana, que possui pouco mais de cinco mil habitantes (Foto: Edilson Omena)

Ao invés de guerra, numa esquina da avenida principal da Palestina alagoana, logo cedo, o dia começa com a galera apresentando um “tubo” de cachaça para iniciar os “trabalhos”. Pergunto se ouviram barulho de bomba. Um deles diz que “bomba, por aqui só na festa de São João”. Então não é Palestina? –, questionei. “É. Mas Palestina alagoana. A Palestina da paz. A estrela do Sertão”, explicou o anfitrião, perguntando se a gente aceitava uma “lapada de cana”.

Na praça em frente à sede da prefeitura, as crianças ficaram impressionadas com o repórter-fotográfico Edilson Omena operando o drone para fazer fotos aéreas da cidade; perguntaram para ele se não havia perigo. Um dos garotos disse que só conhecia drone pela televisão, nas reportagens sobre guerra e nos filmes.

“Devido esse momento de guerra, as crianças e os adolescentes, também debatem e sofrem com tudo isso. Mas a gente ora pela paz, principalmente porque nosso município leva o nome de Palestina, que foi escolhido por motivos religiosos”, observou Edivânia, que já foi secretária de Educação, é casada, tem três filhos e quatro netos.

O prefeito de Palestina, Jaime do Mercado, não estava, quando a equipe da Tribuna visitou a cidade, na última quarta-feira, mas eu filho, José Douglas Gonçalves, nos recebeu e disse que o pai tinha feito um pequeno procedimento cirúrgico e estava fora de combate. No entanto, o secretário de Controle Interno do município garantiu que na administração pública municipal está tudo em ordem.

Saúde e educação em ordem e cadeia vazia

Prefeitura cuida de assistir população com serviços prioritários (Foto: Edilson Omena)

“Saúde, educação, segurança, limpeza pública tudo funcionando., O pagamento em dia e servidores trabalhando”, resume o secretário de Controle Interno. A situação da gestão é tão positiva que “na última pesquisa, a aprovação do prefeito passava dos 88%’. Filiado ao MDB, como apoio do governador Paulo Dantas e do ministro Renan Filho, de quem é fã, Jaime do Mercado pavimenta o caminho para a reeleição, em 2024. É popular, tem feito uma boa administração e conta como apoio de oito dos nove vereadores.

“Na festa da emancipação política de Palestinas, em agosto, o governador Paulo Dantas esteve na cidade, entregou uma Creche Cria e inaugurou obras, ao lado do meu pai, Jaime do Mercado”, lembrou o filho, secretário.

Segundo ele, o município está com as finanças em dia, recebendo o FPM, horando seus compromissos e pagando os servidores sempre dentro do mês. Nas oito escolas municipais, os alunos têm direito a merenda, fardamento e material escolar.

Na cidade, só há um posto de saúde, mas funciona para atendimento do programa saúde da família e consultas com clínico geral. Os casos mais graves são levados de ambulância para a cidade de Pão de Açúcar, que faz divisa com Palestina, às margens do Rio São Francisco. O município foi emancipado em 1962, quando foi “batizado” de Palestina, mas antes era conhecido como Retiro de Cima. Funcionava como um entreposto comercial, mercantil, no caminho para Pão de Açúcar.

Na saída da cidade, fica a delegacia de polícia, que estava fechada. Fica vizinha do cemitério. Se o clima fosse de guerra, preso morto com certeza era só jogar para o outro lado do muro.

Para jornalista, lugar é um Auschwitz moderno

O publicitário, jornalista e professor Luiz Dantas diz que “a Palestina foi transformada, com o passar dos anos, em um Auschwitz destes tempos. Há um relativo direito de ir e vir. Há uma precária organização política. Tudo é relativo, precário e desumano”.

Para Dantas, que tem uma filha jornalista, repórter de TV, o pior de tudo “é a cultura do escárnio humano”. Triste saber que enquanto uns buscam a tolerância e o respeito mútuo, cultuam a não agressão, a igualdade, a paz e o amor, outros cultuam o ódio, a vingança, a tortura e a dominação. Como não se se comover quando tomamos conhecimento de que “crianças palestinas e as judias são educadas a odiar reciprocamente desde os primeiros anos de escola”.

Não podemos deixar que a cultura do ódio aniquile a tolerância e o amor ao próximo. Embora por trás da guerra estejam outros interesses, geopolíticos e ideológicos. Como se o mundo estivesse dividido entre capitalistas e comunistas, entre os Russos e seus aliados “vermelhos” e os Estados Unidos e seus seguidores contumazes. Infelizmente, há “política terrorista” de ambos os lados.

“A semelhança é que os problemas sociais são praticamente os mesmos. Porém, estar sob bombardeio faz da Palestina do Oriente Médio um campo de extermínio a céu aberto”, afirmou o jornalista e historiador João Marcos Carvalho, que na semana passada, junto com outros militantes da esquerda alagoana, assinou um manifesto em defesa dos Palestinos e contra o terrorismo praticado por Israel.

Povo palestino nunca se tornou independente

A representação do Estado da Palestina é realizada pela Organização para a Libertação da Palestina (OLP). Nos estados que reconhecem o Estado da Palestina, mantém embaixadas. A Organização para a Libertação da Palestina está representada em várias organizações internacionais como membro, associado ou observador. Por causa da inconclusão das fontes em alguns casos, é impossível distinguir se a participação é executada pela OLP como representante do Estado da Palestina, pela OLP como entidade não estatal ou pela ANP.

Estado da Palestina é um Estado de jure que reivindica soberania sobre os territórios da Cisjordânia e da Faixa de Gaza e que designa Jerusalém Oriental como sua capital, apesar de seu centro administrativo estar localizado na cidade de Ramallah.

A sua independência foi declarada em 15 de novembro de 1988 pela Organização para a Libertação da Palestina (OLP) e por seu governo no exílio em Argel, na Argélia. No entanto, a maioria das áreas reivindicadas pelos palestinos estão ocupadas por Israel desde a Guerra dos Seis Dias, em 1967.

Após a Segunda Guerra Mundial, em 1947, as Nações Unidas recomendaram a criação de dois estados. A Palestina nunca se tornou independente.