Interior

Pesquisa arqueológica lança novo olhar sobre período pré-colonial de Marechal Deodoro

Após sete meses de escavações, foram encontrados até o momento 41 esqueletos no sítio arqueológico do Largo da Matriz

Por Assessoria do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em Alagoas 27/04/2018 16h19
Pesquisa arqueológica lança novo olhar sobre período pré-colonial de Marechal Deodoro
Reprodução - Foto: Assessoria
Após sete meses de escavações, foram encontrados até o momento 41 esqueletos no sítio arqueológico do Largo da Matriz, em Marechal Deodoro, importante cidade histórica de Alagoas, distante apenas 28 quilômetros de Maceió. Foram escavadas 5 áreas em todo o Largo, que resultou na descoberta, também, de artefatos pré-coloniais, como cerâmica e material lítico, além de fragmentos de uma urna funerária e material colonial, como faiança, louça e grés. O trabalho de escavação no local continua até junho de 2018. A pesquisa arqueológica solicitada pela Superintendência do Iphan em Alagoas, está sendo desenvolvida em decorrência da execução das obras de requalificação do Largo da Matriz, também realizada pelo Instituto. A área situada no Centro Histórico de Marechal Deodoro, estende-se desde a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, até a Igreja de Nossa Senhora dos Rosário dos Homens Pretos, sendo a igreja da Matriz, a principal e que dá nome ao Largo. Durante o estudo das ossadas, três se destacaram por apresentarem técnicas de manipulação dentária. Ou seja, após análises morfométricas e morfológicas, foi possível identificar tais técnicas nas arcadas dentárias, procedimento que era utilizado em grupos de descendência africana, trazidos para o Brasil no período escravocrata. A pesquisa revela, ainda, que indivíduos com essas características só haviam sido identificados no Brasil em dois sítios arqueológicos: Pretos Velhos, no Rio de Janeiro, e Cemitério da antiga Sé, em Salvador. É nesse sentido que as ossadas resgatadas no adro da Igreja Matriz podem fornecer novos olhares sobre o trajeto de grupos associados à diáspora africana no país. De acordo com a arqueóloga do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em Alagoas (Iphan-AL), Auremília Carneiro, na época do Brasil Colônia era comum enterrar mortos ao redor de igrejas e, por isso, há possibilidade de novos esqueletos serem descobertos até o fechamento do trabalho de escavação. Um dado inédito revelado pela pesquisa arqueológica é o resgate da ocupação de grupos nativos pré-coloniais no município de Marechal Deodoro. No adro da Igreja do Rosário dos Homens Pretos, foi retirado parte de um vasilhame cerâmico com características morfológicas semelhantes a uma urna funerária datada do período pré-colonial. O processo de análise e interpretação do material está em curso. As peças encontradas estão sendo analisadas na Universidade Federal de Sergipe, sob orientação da Bioarqueóloga Jaciara Andrade. Na sequência, serão encaminhados para o Núcleo de Pesquisa em Arqueologia e História do Campus Sertão da Universidade Federal de Alagoas. A pesquisa arqueológica tem a coordenação geral da arqueóloga Karina Miranda.