Interior

Alagoas é importante estado para revelar fósseis pré-históricos

Clima e solo favorecem para que organismos não sejam degradados com ação do tempo

Por Claudio Bulgarelli com Tribuna Independente 27/04/2018 08h37
Alagoas é importante estado para revelar fósseis pré-históricos
Reprodução - Foto: Assessoria
Há milhares de anos, as condições climáticas e ambientais da região que hoje é o semiárido de Alagoas favoreceram o processo de fossilização, segundo estudiosos. Esses organismos viraram fósseis por causa do clima e do solo no passado. Eles não se degradaram no clima de hoje, graças às condições de tempo e ambientais de antigamente. De acordo com os estudiosos, o fóssil mais antigo encontrado em Alagoas chega a registrar 400 milhões de anos. Há algum tempo atrás, por exemplo, um morador encontrou fósseis de vestígios de atividades, como marcas de deslocamento e habitação de antigos organismos no semiárido. Ou seja, são fósseis do Período Devoniano, da era Paleozoica. Graças a esses inúmeros fatores, o número de municípios que registram novas incidências de descobertas de fósseis em Alagoas quadruplicou nos últimos oito anos. Nos municípios de Penedo, São Luís do Quitunde, Anadia, Maravilha, Ouro Branco, São José da Tapera e Poço das Trincheiras sempre houve relatos de achados de fósseis. Hoje passou de seis para 24 municípios com registros, principalmente fósseis de mamíferos, que são o foco da maioria dos estudos. Nos 24 municípios pesquisados, há mais de 100 sítios paleontológicos, sendo 50 só de fósseis de mamíferos já georreferenciados pela equipe do museu da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). As pesquisas já registraram 14 espécies diferentes de animais mamíferos fósseis em Alagoas, a exemplo da Preguiça Gigante, do Mastodonte, que eram parentes dos elefantes e os toxodontes, parecidos com os hipopótamos atuais. Em São José da Tapera, além de terra, minerais e água, o solo do município esconde história. Fósseis de Preguiça Gigante, Mastodonte, Tatu-Gigante, Toxodonte e Paleolhama foram descobertos recentemente nas escavações das obras no trecho quatro do Canal Adutor do Sertão. Vestígios de vida da Era do Gelo em pleno sertão alagoano. Dinossauro, por enquanto, ainda não foi encontrado. Professor destaca relevância da trabalho   Um crânio de idade aproximada de 2.000 anos, encontrado no Sítio Arqueológico Furna do Estrago, no município de Brejo da Madre de Deus, no Agreste pernambucano, teve enfim seu rosto revelado pela ciência na noite da última terça-feira. Foi a primeira reconstituição de um ser pré-histórico da região nordestina por meio de um programa de reconstrução facial forense (RFF), técnica que consiste em restaurar a aparência de um indivíduo em vida por meio das características do crânio. Pelos achados, é certo afirmar que o individuo vivia numa tribo caçadora-coletora. É o que acredita o coordenador de Pesquisa e Estudos Arqueológicos e Históricos da Ufal, Flávio Moraes, um dos pesquisadores envolvidos no trabalho, em entrevista a Tribuna Independente. “Revelar o rosto do flautista foi um avanço significativo para a arqueologia, uma vez que vamos nos deparar diretamente com um indivíduo ainda não compreendido em sua totalidade pela ciência. Por meio das características físicas, vamos saber o fenótipo de toda a tribo, como o tipo de olhos e cabelo, e a dinâmica da vida deles, até porque se trata de uma população de 2.000 anos que já conseguia polir e manusear utensílios para cortar carnes e quebrar sementes, por exemplo”, conta Moraes. FLAUTISTA Chamado apenas de “flautista”, a peça histórica, integrante de uma tribo indígena, foi encontrada durante uma escavação realizada na década de 1980, quando foram recuperados outros 83 crânios, que hoje estão no acervo científico do Museu de Arqueologia da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap). A reconstituição ocorreu graças ao grau de conservação em que o flautista foi encontrado. O trabalho foi feito por uma equipe multidisciplinar de várias partes do país, composta por arqueólogos, cirurgião plástico, biólogo, designer e historiador. A possibilidade de reconstituir as feições do índio ganhou vida após os estudiosos se interessarem em conhecer a face da população pré-histórica da tribo, que vem sendo associada às primeiras características do homem nordestino contemporâneo. Escolhido por ser uma das peças mais emblemáticas do museu, sabe-se que o crânio em questão é de um homem adulto, com cerca de 45 anos, que morreu possivelmente de morte natural. Ele se destacou durante as escavações por conta do seu “enxoval” funerário - como são chamados os adornos enterrados junto ao corpo. Chamou a atenção, em primeiro lugar, uma flauta confeccionada em uma tíbia humana (um dos ossos da perna), que estava entre os seus braços, talvez para emitir algum som de alerta para a tribo. Ainda com ele havia 22 contas de sementes, supõem os pesquisadores, de um provável colar, que o destacava dos demais integrantes do grupo. Outro fato curioso é o estado em que foram encontrados os crânios na Furna do Estrago. Todos estavam encobertos por fibras vegetais, como num ritual de sepultamento. A primeira parte do trabalho consistiu em digitalizar o crânio em 3D, por meio do escaneamento de fotos registradas em vários ângulos. O passo seguinte foi o de modelar sobre ele os músculos principais da face e complementar com o restante dos chamados tecidos moles e projetar a espessura da pele. O resultado foi revelado ao público na noite da última terça-feira (24), no próprio Museu de Arqueologia da Unicap, em Recife.

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