Interior

Agências bancárias fecham e prejudicam comércio

Apesar de poucos dados oficiais sobre impactos, municípios enfrentam problemas com fechamento de unidades por conta da violência

Por Evellyn Pimentel 30/09/2017 11h03
Agências bancárias fecham e prejudicam comércio
Reprodução - Foto: Assessoria

Os ataques a agências bancárias no interior do Estado têm gerado transtornos para a economia dos municípios. São 14 até agora, segundo dados da Secretaria de Estado da Segurança Pública (SSP). Com os episódios de violência, as instituições financeiras resistem à retomada do funcionamento e prejudicam o comércio local e a vida da população.

Mesmo assim, ainda não há um levantamento oficial que mensure os impactos do fechamento das agências no interior. Nem a Associação dos Municípios Alagoanos (AMA), tampouco o Sindicato dos Bancários de Alagoas possui números oficiais ou a relação de cidades afetadas.

Informações obtidas pela reportagem da Tribuna Independente dão conta que os municípios de Canapi, Major Izidoro, Quebrangulo, Cacimbinhas e Mata Grande enfrentam problemas por conta da suspensão do funcionamento das agências após ataques. Mas a situação pode ser ainda pior, porque em alguns casos o funcionamento é apenas parcial.

O caso do município de Major Izidoro é um dos mais recentes e segue o padrão do que vem ocorrendo em outras cidades. Bandidos fortemente armados explodiram um caixa eletrônico e a agência bancária ficou parcialmente destruída.

O diretor de segurança do Sindicato dos Bancários, Daniel Nunes Pereira, explica o motivo do fechamento das agências.

“O que acontece é que quando os ataques acontecem e a agência é invadida ou destruída, os bancos não reabrem. São cinco casos em Alagoas que as agências não reabriram. O que acontece é que a cidade fica sem banco. Tem cidades onde as agências foram destruídas, ou o banco não está funcionando plenamente e outros não estão, como o caso de Pão de Açúcar, que voltou, mas tem problemas no funcionamento, desde a explosão”, destaca.

O prejuízo para os municípios sai da questão da segurança e ultrapassa a questão econômica, conforme explica o sindicalista.

“Com isso você tem uma situação em que a cidade vai encolhendo do ponto de vista do comércio. Nós somos muito críticos em relação a isso. Acreditamos que essa bancarização no país foi importante porque criou uma nova teia econômica, mas quando se tem o fechamento de uma agência bancária no interior, o resultado é que a cidade perde recursos. Porque as pessoas vão para cidades maiores, e a cidade deixa de receber aquele recurso. Isso tem acontecido. O Sindicato, inclusive, tem entrado em contato com lojistas locais. Há um prejuízo imenso para eles”.

De acordo com o economista Emanuel Lucas de Barros, a consequência do fechamento de agências para o comércio local é o aumento da concorrência com comércios de cidades circunvizinhas.

“O fechamento das agências bancárias, especialmente de bancos públicos, acarreta diversos transtornos a população atendida, que em algumas situações precisa viajar a cidades vizinhas para realizar operações como saque e depósito. Em especial em cidades do interior na qual existe o hábito de ir ao banco para realizar serviços e não há facilidades com acesso a internet. Além disso, este fato pode gerar prejuízos ao comércio local, pois além de dificultar o acesso do comerciante a serviços bancários, passam a concorrer também com o comércio das outras cidades que contam com o atendimento bancário”, reforça.

Segundo Pereira, o clima de insegurança prejudica o atendimento à população, mesmo quando o alvo dos bandidos não é a atuação do profissional.

“Hoje os ataques não estão diretamente focados no bancário ou na família dele. Para se ter uma ideia, foram duas situações este ano envolvendo diretamente. Os demais são ataques a agências usando explosivos. Eles vão em cima dos caixas eletrônicos e dos cofres das agências. Mesmo assim gera um clima de insegurança”, explica.

Um detalhe que chama a atenção é que, dos 14 casos notificados este ano, 13 foram realizados com uso de explosivos.  Em todo o ano passado, foram 29 ocorrências envolvendo agências bancárias no estado, 24 delas com uso de explosivos.

“Um grande esforço tem que ser feito, principalmente em relação aos explosivos. A maior parte é usando esse recurso. Precisa haver controle, fiscalização disso, isto não é realizado a contento. Por ser um estado pequeno, estamos sujeitos a bandidos de fora. Véspera de eleições também aumentam os casos, a gente sabe que isso acontece. A tendência é essa”.

Para o delegado Vinícius Ferrari, da Seção de Roubos a Bancos da Polícia Civil de Alagoas, os números este ano apresentam redução em relação aos anos anteriores.

“Este ano Alagoas tem registrado menos ocorrências em relação ao ano passado, por exemplo. E em relação ao país, o Estado é um dos que menos se registra este tipo de ocorrência”, garante o delegado.

PROTESTO

No início de setembro uma manifestação em Mata Grande, pediu o retorno do funcionamento integral da única agência bancária do município. Segundo organizadores do protesto, cerca de dois mil moradores participaram.

Após a pressão popular e de entidades locais, o Governo do Estado garantiu a instalação de um Centro Integrado de Segurança Pública (Cisp) o que viabilizará o retorno das atividades bancárias no município.

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sociação dos Municípios Alagoanos (AMA) e prefeito de Cacimbinhas, Hugo Wanderley, a situação é preocupante.

“Estamos com uma agência fechada há mais de ano. Só estão funcionando os serviços administrativos. Não tem movimentação financeira. O Banco não dá posicionamento sobre quando será feita a reabertura. Já fizemos alguns investimentos na segurança, mas sem retorno do banco e isso tem abalado muito o município”, pontua.

De acordo com o prefeito, o comércio local tem sofrido com a baixa circulação de recursos. Outro problema destacado por ele é a necessidade de deslocamento para outros municípios, que gera gastos e ainda mais insegurança.

“As pessoas acabam indo retirar o dinheiro fora e compram por lá. É um risco muito grande também para os comerciantes e as pessoas que fazem movimentação financeira porque têm que se deslocar para outros lugares mais distantes. Antes quem é de Cacimbinhas ia para Major Izidoro, mas lá também explodiram a agência. Agora, precisamos nos deslocar para Dois Riachos ou Santana do Ipanema. Para os comerciantes, o transtorno é muito grande. O comércio sente, além da insegurança de ter que se deslocar para fazer um depósito, uma retirada em outro lugar”.

Wanderley faz críticas ao modo como os bancos conduzem a reabertura das agências, o que ele classifica como ‘abuso’. “As instituições financeiras abusam demais, porque eles querem que o estado e o município façam os investimentos em segurança enquanto eles não fazem um investimento mínimo em segurança. Eles não fazem. Os Bancos têm papel social e deveriam prezar por isso e manter o serviço. Eles não cumprem o papel social deles, só o capital”.

Para o sindicalista, Daniel Pereira, os bancos têm feito muito pouco para resolver a situação. Ele afirma que faltam investimentos em equipamentos de segurança sofisticados e sobram cobranças ao poder público, que, segundo ele, não deveria ser o único a coibir as ações.

“Alguns bancos não chegam nem a reabrir os pontos, como é o caso do Banco do Brasil. As agências quase todas são do Banco do Brasil e, quando acontece algo assim, ele nem reabrem. Os bancos estão sempre com pé atrás na questão da segurança. Alguns investem muito em segurança interna, mas não é suficiente. A legislação que a gente tem sobre segurança bancária está defasada. É um dever dos bancos investir, mas eles ficam dependendo que o Governo faça o policiamento, que os municípios invistam, sem resolver os problemas internos”, pontua.

O município de Igaci, está há três meses sem agência bancária. O prefeito Oliveiro Torres Pianco reclama dos problemas causados na cidade.

“Muito difícil. Nosso comércio está sofrendo muito. Muita gente vem do interior da cidade, 75% da população vivem em zona rural. Nos últimos 90 dias, o comércio perdeu muito. Algumas casas de comércio fecharam. Os comerciantes estão muito tristes com a falta de movimento”, explica.

A expectativa, segundo ele, é de reabertura da agência nos próximos dias. “O banco sinalizou que vai reabrir devido à inauguração do Cisp aqui. Já fui convidado pelo superintendente para acerta a situação. A gente está muito otimista com a reabertura. A informação que nos foi passada é que a agência seja reaberta nos próximos dez dias”, diz Pianco.

Numa tentativa de mapear a situação das agências bancárias no estado, o Sindicato dos Bancários de Alagoas quer colocar em prática um projeto nacional para montar um banco de dados de ocorrências.

A expectativa é que a compilação dos dados ajude no trabalho do próprio sindicato, nas informações para a imprensa e na investigação policial.

“Estivemos em Pernambuco numa capacitação sobre o assunto. A Contraf [Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro] está com uma ideia de montar um sistema nacional de monitoramento de assalto a banco. A ideia que foi apresentada preliminarmente é um georreferenciamento dos assaltos. Para que a gente possa cobrar das autoridades uma ação, nas áreas mais vulneráveis, como é o caso de Alagoas”, explica Pereira.

A Superintendência do Banco do Brasil em Alagoas foi procurada para comentar o assunto. A assessoria de comunicação se comprometeu a enviar uma nota de esclarecimento sobre a reabertura das agências, mas até o fechamento da edição não enviou retorno.