Interior
Sem chuva em União dos Palmares, Rio Mundaú pode secar em até sete dias
Segundo órgão responsável pelo abastecimento, 66 mil pessoas podem ficar sem água
O sistema hídrico de União dos Palmares, que já enfrentava dificuldades desde dezembro, entrou em colapso. Na semana passada, houve suspensão total do abastecimento. O reservatório da cidade registrava apenas 10% do volume morto. Segundo o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae), se continuar sem chuvas, o Rio Mundaú irá secar deixando mais de 66 mil pessoas sem água. A previsão é de que isso ocorra em até sete dias.
As águas do Rio Mundaú, que atravessam a cidade, são usadas para diversos fins, inclusive para o consumo humano. De tão comprometida, a vazão do rio tem sido disputada. Quando os agricultores da região acionam bombas para irrigação, a população fica sem água.
Na semana passada, a situação se agravou e o fornecimento foi suspenso durante 24 horas. No período, a cidade não teve alternativas para abastecimento. Responsável pela captação, tratamento e distribuição, o Saae informou que o rio ‘secou totalmente’.
Segundo Mário de Barros, do setor de controle de perdas do Saae, a situação é crítica. Mesmo com o retorno do abastecimento, a interrupção pode ocorrer novamente ou até ser suspenso em definitivo.
“Fizemos um barramento de sacos na estação de captação, mas essa barreira foi rompida e toda água verteu. Se a situação perdurar, não demora uma semana para entrar num colapso total. Se a vazão não aumentar, nas condições atuais, não temos como garantir o abastecimento da cidade. Nunca vivemos situação semelhante. Ninguém estava pronto para isso”, ressalta.
O fornecimento de água para a cidade só pode ser retomado porque durante as 24 horas que esteve interrompido não houve nenhuma captação, o que permitiu um acúmulo mínimo de água.
“O rio entrou em colapso e está com vazão mínima. A cidade ficou completamente sem água. As pessoas que não têm condições de comprar água tiveram que procurar cacimbas ou tentar achar água no rio. É uma situação de calamidade”, afirmou.
A crise hídrica obrigou a implantação de um sistema de rodízio. A cidade foi dividida em cinco grandes regiões, cada área é abastecida durante dois dias. Apenas oito dias depois é que volta a chegar água.
Cidade não estava preparada para enfrentar crise, diz prefeito
O prefeito Areski Freitas reconheceu que União enfrenta uma situação “jamais vivenciada”. Segundo ele, os órgãos públicos e a população não estavam preparados e ainda tentam se acostumar com a escassez.
Ele confirmou que proprietários de terras têm utilizado a água indiscriminadamente e que as fiscalizações têm sido periódicas, mas não coíbem a prática
“É uma realidade que a gente começou a viver e está tendo que se adaptar. Porque a seca no Agreste e no Sertão a gente conhece, mas aqui na Zona da Mata não. A gente vive em constante vigília, porque quando eles colocam as bombas o rio praticamente seca e a gente tem que segurar para que as casas sejam abastecidas, já que são prioridade. A preocupação é que o rio não seque de vez, pois é o único abastecedor da água local”, expõe.
Para Manoel Ferreira, morador de União, a crise é inesperada. Por ser um rio perene, que sempre suportou a demanda até nos período de estiagem, o esvaziamento impressiona, garante ele. “Essa seca é uma coisa que ninguém nunca viu. Se a situação não melhorar, o jeito é usar carro pipa. Mas como se até as nascentes estão secando?”, questiona.
(Foto: Sandro Lima)
Prefeito Areski Freitas diz que rio é a única fonte de abastecimento da cidade
A prefeitura informa que ações paliativas têm sido desenvolvidas, embora reconheça que há falta de planejamento para o enfrentamento da crise. Além da construção de barragens ao longo do rio para contenção da água, a perfuração de poços artesianos é apontada como alternativa.
“A gente está com um trabalho com o governo do Estado para a recuperação de nascentes e recuperação de mata ciliar como um paliativo e feito já tardiamente, já que a gente nunca teve esse problema de seca na zona da mata. E hoje a gente está vendo aqui vários agricultores perfurando poços de 150 metros em fazendas que antigamente nem se pensava em razão da abundância de água”, destaca o prefeito.
O funcionário da Saae diz que União dos Palmares não possui reservas de água para tratamento. Para ele, as chuvas são a única saída para resolver o problema, uma vez que a perfuração de poços artesianos na região é inviável.
“Estamos estudando construção de poços artesianos. A questão é que precisamos cavar 120 metros para achar água com pouquíssima vazão e 90% é salobra, por causa do cloreto das rochas. Não dá para usar. O gasto é imenso. Também estamos fazendo os barramentos ao longo do rio para quando as chuvas chegarem. Mas só quando começar a chover, porque até agora foi muito pouco”, afirma Mário de Barros.
Reservas serão abastecidas apenas em 2018
Vinícius Pinho, meteorologista da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh) explica que o período de inverno no ano passado foi insuficiente para abastecer as reservas da região. Para ele, a cidade ainda vai enfrentar dificuldades nos próximos 12 meses.
“Há muito tempo tem chovido pouco na região e realmente eles estão em situação crítica. Para resolver o problema não temos perspectiva a curto prazo. Não existe perspectiva de volume grande de chuvas até abril. A perspectiva é que apenas a partir de 2018 é que tenhamos uma evolução no quadro e as reservas voltem a ser abastecidas”.
PROBLEMA DA CRISE
O meteorologista acrescenta que no ano passado choveu 40% do esperado, impactando diretamente no volume armazenado. O que, para ele, é uma das causas da crise enfrentada.
“Como essa região é uma região difícil para perfuração de poços, para resolver esse problema é torcer para que chova com intensidade brevemente. Eu não vejo outra forma”, conclui.
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