Poucas vezes o interior da Casa Branca — interior mesmo, a parte íntima, onde vivem os presidentes e suas famílias — foi tão reproduzido pelos cenógrafos das séries. O west sitting hall, aquela saleta que se vê em “House of Cards” a toda hora, é também o ambiente frequente do protagonista de “Designated survivor”, só para citar um de inúmeros exemplos disso. Os americanos, como nós aqui, estão obcecados com a política. A série estrelada por Kevin Spacey e Robin Wright, cuja quinta temporada chega hoje à Netflix, expressa e reforça esse interesse. Seu roteiro tenta — e em certa medida consegue — espelhar e até superar governantes reais. Essa tarefa não anda fácil. Até a “House of Cards” britânica, a original, produzida em 1990, no fim da Era Thatcher, corre o risco de parecer ingênua perto do que se vê hoje. E olha que aquela trama continha assassinatos e outras perfídias. Numa entrevista recente, Robin Wright brincou: “(Donald) Trump roubou todas as nossas ideias para a sexta temporada”.

Nessa reestreia, reencontramos o casal principal recomposto depois das turbulências da temporada passada, quando a conciliação parecia impossível. Mais do que juntos, eles reafirmam o caráter simbiótico de sua relação. Ele é candidato à presidência, ela, a vice. Os Underwood têm um projeto comum na política — o que não é a mesma coisa que ter um projeto político comum. Explicando melhor, eles desejam ocupar a Casa Branca. O preço disso para o país não importa.

A aliança dos dois, férrea, portanto, segue, mas há novas circunstâncias externas. O medo do terrorismo entra com força na trama. Frank e Claire manipulam a opinião pública como podem. São os reis da mídia, os soberanos de um mundo que está já colonizado pelo marketing. Depois da quarta temporada mais fraca, a série voltou com a potência que tinha no início. Vale conferir.