Educação

Egresso da Ufal publica estudo de alto impacto sobre fenômeno da superradiância

Estudo sobre interação quântica entre luz e matéria é publicado na Physical Review Letters, o periódico mais prestigiado da área

Por Ufal 16/10/2025 15h19
Egresso da Ufal publica estudo de alto impacto sobre fenômeno da superradiância
João Pedro Mendonça, o primeiro autor do artigo - Foto: Divulgação

Um estudo inovador realizado por um egresso do curso de Física da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) em parceria com pesquisadores da Universidade de Varsóvia (Polônia) e da Emory University (EUA), ganhou destaque em uma das principais revistas internacionais da área, a Physical Review Letters. Confira aqui.

O artigo recém-publicado investiga a interação entre luz e matéria, mais especificamente, o comportamento de um material dentro de uma cavidade óptica interagindo com a luz. “Quando a luz é confinada dentro de uma cavidade óptica, ela passa a se comportar de maneira puramente quântica sendo descrita por partículas de luz chamadas fótons, que podem interagir fortemente com os átomos do material. Essa interação coletiva entre luz e matéria pode dar origem ao fenômeno da superradiância, em que vários átomos, agindo de forma sincronizada, produzem uma emissão de luz muito mais intensa do que a soma das emissões individuais”, conta João Pedro Mendonça, o primeiro autor do artigo, que recentemente concluiu seu doutorado na Faculdade de Física da Universidade de Varsóvia e agora trabalha como pesquisador no Centro de Novas Tecnologias.

Ele explica que o principal diferencial de seu estudo foi considerar algo que normalmente é deixado de lado nessas pesquisas: “A interação entre os próprios átomos que se comportam como pequenos ímãs que se repelem ou se atraem. Desenvolvemos um método numérico avançado, do zero, que levou cerca de dois anos para ficar pronto. Ele nos permitiu estudar essa competição entre a interação átomo-luz e a interação entre os próprios átomos, e isso gerou resultados inesperados”, ressalta.

Para o egresso, a publicação de sua pesquisa na revista é uma conquista inesperada. “Publicar nesse jornal é um sonho para qualquer físico. Se pesquisar no Google Métricas, vai ver que, na área de Física, esse é o periódico número um do mundo há muito tempo. E não é comum alcançar isso durante o doutorado. O processo de revisão é muito rigoroso, os revisores são exigentes. Então, quando saiu a aprovação, foi uma alegria imensa”, comemora.

E não para por aí: devido à qualidade da pesquisa, outras grandes revistas de divulgação científica estão procurando os estudantes e seus companheiros de pesquisa para divulgar o artigo, inclusive em veículos poloneses. Confira aqui.

Trajetória acadêmica

Mendonça iniciou sua formação científica na Ufal, onde participou do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic) e realizou o mestrado. Em parceria com os professores Guilherme Almeida e Marcelo Lyra, desenvolveu a base teórica em interação luz–matéria que, anos depois, seria decisiva para a escolha de sua linha de pesquisa. “Ali aprendi muito sobre método científico e desenvolvi ferramentas que depois apliquei em pesquisas mais complexas. Inclusive, no meu primeiro artigo em Física Quântica, usei um método pouco comum na área, mas que dominava por causa do meu trabalho anterior”, conta.

Ele destaca que os professores da Ufal se aprofundam nos ensinamentos e, quando chegou à Europa, notou a diferença entre os métodos de ensino. “A experiência adquirida durante o Pibic foi fundamental para a minha carreira científica, pois me deu autonomia para avançar em um tema de grande complexidade já no mestrado e, depois, durante o doutorado na Universidade de Varsóvia”, destaca Mendonça. Para quem quer seguir a vida acadêmica, João conta que a ciência é difícil para estudantes do mundo todo e, no Brasil, pode ser ainda mais desafiadora devido à alta desigualdade social, mas, com empenho, é possível superar as dificuldades.

“O mais importante é manter o foco e cultivar o hábito de estudar com curiosidade, lendo bons livros, resolvendo problemas e aproveitando ao máximo o contato com os professores. Hoje existem muitas ferramentas novas, inclusive a inteligência artificial, que podem ser muito úteis, mas também acabar desestimulando o raciocínio próprio quando usadas sem critério. Aprender exige envolvimento. E, para quem pensa em seguir carreira acadêmica, vale começar cedo, participando de iniciação científica e tentando um mestrado, mesmo que não seja exatamente na área dos sonhos. Cada etapa traz experiências valiosas e ajuda a crescer como pesquisador, foi assim comigo.”, conclui.