Educação
Estudante de Letras vence concurso nacional de poesia para cegos
Felipe Neves comemora, fala de seu percurso na Ufal e já planeja novas conquistas na Literatura
Escritor, poeta, graduando do curso de Letras-Espanhol da Universidade Federal de Alagoas e consultor em audiodescrição. É assim que se autodefine Felipe Neves, um dos selecionados na Coletânea Mostra de Literatura, concurso de poesias nacional voltado para escritores com deficiência visual. Ele foi escolhido entre os dez melhores autores, recebendo como prêmio o livro impresso.
Ele começou a escrever nas redes sociais há quase dez anos. O estudante conta que sempre que queria dar opinião sobre um assunto ou falar sobre seus pensamentos, utilizava as redes sociais e escrevia frases e pequenos textos, que foram se tornando mais frequentes e mais comentados ao longo do tempo. Os textos foram melhorando conforme ele amadurecia e escrevia, mas, para ele, um grande divisor de águas em seu processo criativo e no resultado das suas produções foi a entrada na Ufal.
“Antes eu escrevia sem muito conhecimento técnico de formas, métricas, apenas fazia de forma intuitiva. Após minha entrada no curso de Letras fui conhecendo os gêneros, principalmente o lírico, e fui melhorando a escrita. Os textos não eram mais soltos, irregulares, tinham métrica, estrutura”, contou. “Eu amo escrever, escrever pra mim é sinônimo de liberdade. Essa paixão que sinto pela Língua Portuguesa me ajuda a estudar mais e melhorar cada vez mais”, completou.
Apoio da Universidade
Todas essas conquistas também foram possíveis com o apoio do Núcleo de Acessibilidade (NAC) da Ufal, que desde a matrícula acompanha Felipe em suas necessidades em relação à mobilidade no Campus A.C. Simões, disponibilizando um bolsista para acompanhá-lo, cartilhas para auxiliar durante o Período Letivo Excepcional (PLE) e orientar os professores no trato com estudantes cegos.
O Núcleo também ofertou um curso de Letramento Acadêmico para o público cego que, segundo Felipe, ajudou tanto no processo de escrita acadêmica, como promoveu a interação entre os estudantes. “O curso foi muito bom, por que além de ser muito acessível e de ajudar na escrita acadêmica e científica, pudemos conhecer outras pessoas cegas e fazer amigos em todo o país”, comemorou.
Ser cego é só um detalhe
A Coletânea Mostra de Literatura é uma iniciativa aprovada na Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal e tem o objetivo de incluir os escritores cegos no mercado literário e editorial. O projeto é patrocinado pelo Fundo de Apoio à Cultura (FAC) e já está em sua oitava edição. Segundo Felipe, o concurso também ajuda a diminuir o preconceito contra escritores cegos. “O concurso ajuda a acabar com algumas barreiras e mostra que ser cego é um detalhe”, afirmou.
Felipe enviou cinco textos para o concurso, entre conto, poemas e a poesia selecionada, intitulada Tudo passa. Tratando de paciência, persistência e resiliência, o texto de Felipe fala do tempo e suas curas.
Tudo passa, não disse o sábio?
Reitero a dizer, tudo passa!
Mas esse tudo também depende de você. (Felipe Neves)
Histórias e Vidas: Além do olhar
Com a proposta de “incluir”, a coletânea Histórias e vidas: além do olhar, possui poesias, crônicas e textos reais e fictícios, escritos por autores com deficiência visual. O livro, organizado pelo professor e agente literário Andrey do Amaral, foi publicado em dois formatos: impresso e digital. Ambas edições serão distribuídas gratuitamente. A versão e-book já está disponível na Amazon e pode ser lida em qualquer dispositivo Kindle ou no computador.
Futuro
A confiança e o reconhecimento advindos com a premiação faz Felipe querer alçar voos cada vez maiores na Literatura. O escritor contou-nos, exclusivamente, que já tem um livro seu em análise para ser publicado em breve. Avante Felipe!
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