Economia

Endividamento cresce e impulsiona vendas no varejo da capital

A expansão do crédito e o aumento dos gastos aquecem o setor a curto prazo, mas evidenciam desafios para o equilíbrio para o orçamento familiar dos próximos meses

Por Ascom Fecomércio/AL 14/02/2025 13h12 - Atualizado em 14/02/2025 18h59
Endividamento cresce e impulsiona vendas no varejo da capital
Na variação anual, tivemos elevação de 26,9% no total de endividados e de 42,9% de inadimplentes - Foto: Assessoria

Impulsionadas pelo aumento do endividamento das famílias, as vendas no varejo de Maceió começaram 2025 em crescimento. A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), feita pelo Instituto Fecomércio AL em parceria com a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), aponta que, em janeiro, o endividamento cresceu 1,7%, enquanto a inadimplência caiu -0,8%.

Na variação anual, tivemos elevação de 26,9% no total de endividados e de 42,9% de inadimplentes. Já o número de famílias superendividadas reduziu tanto na comparação mensal (-2,7%), quanto na anual (-1,8%); fato positivo, uma vez que dezembro havia registrado aumento de 2,8% dos superendividados.

Para o Instituto, os números de janeiro ainda refletem a alta de consumo típica do período, já que este mês absorve parte dos custos das festas de final de ano, às quais se somam novas despesas com férias, impostos e materiais escolares. Em contrapartida, a redução da inadimplência tem como fatores programas de renegociação de dívida e o aumento de renda nos meses de novembro e dezembro, seja pelos empregos temporários, seja pela injeção do décimo terceiro.

Aumento dos gastos podem comprometer orçamento a longo prazo

Os dados comprovam que o endividamento das famílias segue como um fator determinante para o desempenho do varejo local. A expansão do crédito e o aumento dos gastos podem aquecer o setor a curto prazo, mas evidenciam desafios para a sustentabilidade financeira das famílias no longo prazo.

O cartão de crédito ainda é o meio de endividamento mais efetivo, alcançando quase 100% dos endividados na capital. O crédito em carnês é a segunda forma de endividamento mais procurada e, entre 2024 a 2025, teve um aumento significativo de 67%. Na comparação anual, também subiram o financiamento automotivo, com 254%; o financiamento habitacional, com 105%; outras dívidas, com 360%; o crédito consignado, com 170%; e o cheque especial, com 40%. Porém, o maior percentual ficou com o crédito pessoal: saltou de 0,3% do volume total das dívidas dos maceioenses em 2024, para 4% desse volume já no começo de 2025, representando um crescimento de 1.125%.

“Excetuando as dívidas habitacionais, que na verdade representam investimentos, os dados de aumentos nos quantitativos dos diferentes tipos de dívida demonstram que o maceioense pode estar usando o crédito para o consumo recorrente, ou seja, o crédito entra como complemento de renda e não para facilitar o acesso a bens e serviços”, explica o assessor econômico do Instituto Fecomércio, Francisco Rosário, acrescentando que esse comportamento está ocorrendo com mais força nas famílias de maior renda, tanto pelo maior acesso ao crédito e quanto pelo maior lastro em renda.

Crescimento do endividamento afetou mais as famílias de menor renda


As famílias de menor renda (até 10 salários mínimos) lideram o endividamento. Essa faixa teve um aumento de 3,9% no grupo das famílias muito endividadas, enquanto nas de maior renda (acima de 10 salários mínimos) mantiveram esse percentual estável em 1,2%. Além disso, entre os que ganham mais, houve uma queda de -11,4% no grupo das famílias mais ou menos endividadas, mas uma elevação expressiva de 38,9% no número de pessoas com alguma dívida. No caso das famílias de menor renda, registrou-se uma redução de -3,2% no grupo dos pouco endividados e de -4,7% naquelas sem dívidas, enquanto o número das mais ou menos endividadas subiu 5,7%.

O número de famílias sem dívidas, que vinha reduzindo desde setembro, manteve a tendência e caiu -5,3%, em janeiro. O mesmo ocorreu com as famílias com poucas dívidas, com -1,5%. “Esses dados confirmam o aperto financeiro que as famílias de Maceió estão passando, já que a elevação do endividamento tem o foco no aumento do uso do cartão de crédito, o que traz grande risco de descontrole financeiro”, avalia Rosário.

Em relação à inadimplência, houve redução de -1,5% na quantidade de famílias de menor renda inadimplentes; faixa que também conseguiu diminuir o volume das que não tem condições de pagar as dívidas (-4,5%). Por outro lado, aumentou 12,5% no volume das famílias de maior renda que não têm condições de pagar suas dívidas. “Esse fato novo na pesquisa sobre endividamento das famílias de Maceió indica que, apesar dos contínuos aumentos da confiança no consumo por parte destas famílias, elas estão sentindo o peso do crédito mais caro e da inflação de serviços”, observa o economista ao exemplificar essa inflação com serviços como centros de beleza, alimentação fora do lar, manutenção e serviços de moradia e automobilísticos, planos de saúde, seguridade, entre outros.